segunda-feira, 15 de julho de 2019

Assange transformou embaixada em QG para interferir em eleições, afirma CNN


Relatórios de uma empresa privada de segurança contratada pelo governo equatoriano mostram que o fundador do WikiLeaksJulian Assange, se reuniu com autoridades russas e hackers na embaixada do Equador nos meses anteriores às eleições presidenciais americanas de 2016, segundo a rede CNN. 
Os documentos, cuja autenticidade foi comprovada por um agente da inteligência equatoriana, relatam que Assange também recebeu encomendas que possivelmente continham materiais hackeados relacionados ao pleito.
Em 2016, meses antes da eleição para presidente dos Estados Unidos, o site WikiLeaks publicou emails de vários quadros do Partido Democrata com instruções internas, incluindo mensagens do chefe da equipe de campanha de Hillary Clinton, John Podesta. 
De acordo com a CNN, os relatórios registram que o fundador do WikiLeaks orquestrou pessoalmente a publicação dos emails "diretamente da embaixada". À época, ele defendeu o interesse público da divulgação dos documentos e comemorou os desdobramentos do caso.
Depois das eleições de 2016, afirma a reportagem, a empresa conduziu uma avaliação das alianças políticas de Assange e concluiu que não havia "dúvidas sobre a existência de provas" de que ele teria laços com as agências de inteligência russas.
Assange também teria obtido computadores e equipamentos de rede de alta tecnologia para facilitar a transferência de grandes quantidades de dados apenas semanas antes de o WikiLeaks receber os arquivos hackeados dos agentes russos. 
Os documentos corroboram as descobertas sobre a atuação do site feitas pelo procurador especial Robert Mueller, responsável por conduzir a investigação sobre a interferência de Moscou nas eleições americanas de 2016. 
O australiano sempre negou trabalhar para o Kremlin e insiste que a fonte dos vazamentos "não é o governo russo, nem um agente estatal". 
Ele também afirmou que teria publicado materiais que comprometessem o adversário de Hillary, Donald Trump, caso tivesse recebido algum. 
Assange passou sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres. Ele recebeu asilo político após se refugiar no local para evitar que fosse extraditado para a Suécia, onde era investigado por estupro e assédio sexual. 

PUBLICAÇÃO PROGRAMADA

Em junho de 2016, Trump e Hillary já eram dados como candidatos pelos seus partidos e se preparavam para a campanha eleitoral.
No dia 14 daquele mês, o Comitê Nacional Democrata anunciou que havia sido hackeado e culpou a Rússia —Trump classificou o gesto como uma farsa.
Os relatórios obtidos pela CNN mostram que naquele período Assange fez 75 reuniões, quase o dobro da média mensal registrada pela companhia de segurança em 2016.
Ele se encontrou com cidadãos russos e com um hacker mais tarde identificado no relatório do procurador especial Robert Mueller como um provável transportador dos emails hackeados dos democratas. 
Cinco dias depois do anúncio do Partido Democrata, Assange pediu à embaixada do Equador que aumentasse a sua velocidade de conexão à internet —e foi atendido. 
Em 14 de julho, segundo informações dos documentos e do relatório de Mueller, o shackers russos enviaram arquivados encriptados ao WikiLeaks sob o nome "arquivo grande".
No dia 18, um guarda da embaixada abandona seu posto para receber um pacote entregue por um homem usando um disfarce, mostram imagens de segurança obtidas pela empresa. O entregador cobriu seu rosto com uma máscara e óculos escuros, e carregava uma mochila. 
A companhia comunicou o ocorrido e recomendou que o guarda fosse substituído, mas as autoridades equatorianas o mantiveram no posto. 
Quatro dias depois, o site publicou mais 20 mil arquivos internos do Comitê Nacional Democrata.

EMAILS DO CHEFE DA CAMPANHA

O WikiLeaks começou a publicar emails de John Podesta, o chefe da campanha de Hillary, em 7 de outubro de 2016 —e continuou a divulgar novos conjuntos de arquivos praticamente todos os dias até a realização da eleição, em novembro. 
Trump explorou politicamente as mensagens na reta final de sua campanha —em várias ocasiões, o então candidato leu os emails durante comícios e alimentou teorias conspiratórias criadas a partir deles. 
Segundo a CNN, os agentes de segurança da empresa privada constataram que Assange havia publicado o conteúdo hackeado "diretamente da embaixada". 
Os documentos relatam que, à época, o governo dos EUA procurou as autoridades equatorianas responsáveis por Assange e afirmaram que temiam que o australiano estivesse usando a representação diplomática em Londres para ajudar os russos a intervir no pleito presidencial. 
Washington teria ameaçado retaliar contra Quito, assim como fez com a Rússia.
Em 15 de outubro, após receberem esse ultimato, os equatorianos decidiram cortar o acesso à internet de Assange e sua linha telefônica.
Ainda assim, a publicação diária dos emails de Podesta continuou. Pouco tempo depois, o Equador divulgou um comunicado condenando os esforços do WikiLeaks de interferir nas eleições americanas mas reafirmando seu comprometimento em proteger Assange. 
Os documentos relatam que outros países contataram a chancelaria equatoriana perguntando sobre o risco de uma represália americana e também sobre a integridade física do australiano. 

SETE ANOS NA EMBAIXADA

Detido em dezembro de 2010 na Inglaterra, Assange era alvo de uma investigação na Suécia por abuso sexual. Ele foi liberado em regime condicional alguns dias depois mediante pagamento de fiança, mas não conseguiu reverter o processo de extradição.
Como último recurso, buscou refúgio na representação diplomática equatoriana.
Assange passou a viver na embaixada e obteve a cidadania equatoriana em dezembro de 2017. No entanto, a cidadania foi cancelada pelo governo em 10 de abril deste ano. No dia seguinte, foi preso por policiais britânicos.
Atualmente ele cumpre pena de 50 semanas de prisão no Reino Unido pela violação das regras de sua condiciona.
Com Folha de São Paulo