quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Previdência: confira quando poderá se aposentar com a regra de transição da reforma

Uma das possibilidades de reforma da Previdência em estudo pela equipe econômica prevê uma transição para quem já está no mercado de trabalho, tanto no setor privado (INSS) quanto no serviço público. Para este grupo, não haveria uma idade mínima expressa em lei, mas um sistema de contagem de pontos, somando idade e tempo de contribuição. Pela proposta, a idade mínima valeria só para quem ainda não está no mercado de trabalho.


Atualmente, o trabalhador precisa cumprir a regra 86/96 pontos, somando idade e tempo de contribuição, para ter acesso ao benefício integral. Pela proposta da reforma, esta exigência subiria um ponto a cada ano para homens e mulheres, até chegar a 105 pontos para os dois.
Ou seja, se a reforma for aprovada em 2019, em 2020, seria preciso cumprir 87/97 pontos; em 2021, 88/98; em 2022, 89/99, e assim por diante.
Como a pontuação aumenta a cada ano, é preciso ver em que ano a soma da idade e do tempo de contribuição do trabalhador coincide com os pontos exigidos pela Previdência.
Por exemplo, um trabalhador ou trabalhadora que tem 55 anos e começou a contribuir com 25 anos, sem intervalos no recolhimento ao INSS, tem hoje 30 anos de contribuição, somando 85 pontos (55 mais 30). A cada ano, somam-se dois pontos: um de idade e um de contribuição. Em dois anos, serão 89 pontos, o que, para a mulher, já seria suficiente para que ela se aposente aos 57 anos de idade, pois, em 2021, a exigência no caso dela será 88 pontos. Já o homem precisaria trabalhar até 2029, quando ele terá 65 anos de idade. Apenas neste ano sua soma coincidiria com a exigência de 105 pontos.


REGRA EM ESTUDO

Sistema soma idade e tempo de contribuição

Progressão de pontos
para se aposentar (por ano)

Alguns exemplos

Idade hoje

30

1

Idade que começou a trabalhar

18

Tempo de contribuição

12

ANO

HOMEM

MULHER

Pontos hoje

42

2019

96

86

Ano em que vai poder se aposentar

2051

2020

97

87

2021

98

88

Idade hoje

40

2

Idade que começou a trabalhar

20

2022

99

89

Tempo de contribuição

20

2023

100

90

Pontos hoje

60

2024

101

91

Ano em que vai poder se aposentar

2042

102

2025

92

103

2026

93

Idade hoje

50

3

104

2027

94

Idade que começou a trabalhar

20

Tempo de contribuição

30

105

2028

95

Pontos hoje

80

105

2029

96

Ano em que vai poder se aposentar

105

2030

97

2032

2025

105

2031

98

Idade hoje

55

4

105

2032

99

Idade que começou a trabalhar

25

105

2033

100

Tempo de contribuição

30

Pontos hoje

85

105

2034

101

Ano em que vai poder se aposentar

2035

102

105

2029

2021

105

2036

103

Idade hoje

60

5

105

2037

104

Idade que começou a trabalhar

25

2038

105

105

Tempo de contribuição

35

Pontos hoje

95

Ano em que vai poder se aposentar

2020

2019
A reforma da Previdência é importante porque ajudará a equilibrar as contas públicas. Só neste ano, o governo precisará desembolsar R$ 218 bilhões para cobrir o rombo no INSS, que paga os benefícios dos aposentados no setor privado. Esse valor equivale a 2,9% do PIB. Se as regras não forem alteradas, a estimativa é que o peso dessa despesa salte para 11,4%. Os gastos sobem principalmente por causa do envelhecimento da população, que causa um desequilíbrio entre o número de idosos, que recebem, e o de jovens, que contribuem.

Para receber o benefício integral, será preciso contribuir por 40 anos. Logo, em alguns casos da transição, mesmo atingindo os 105 pontos, o benefício será proporcional. Isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa começa a contribuir tarde ou fica um período sem fazer descontos ao INSS.
Nos casos citados anteriormente, a mulher terá contribuído por 32 anos. Ela poderá se aposentar com benefício proporcional ou trabalhar por um prazo maior para receber o valor integral. Já o homem terá cumprido os 40 anos de contribuição em 2029, recebendo integralmente.
O problema de o país gastar tanto com aposentadorias e pensões é que sobra pouco para investir em outras áreas. Em 2019, as despesas com Previdência consumirão 32,6% do Orçamento. Enquanto isso, os investimentos ficarão restritos a 8%. Esse problema se agrava num cenário de aplicação do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior. Como o gasto com benefícios previdenciários é obrigatório, o governo precisa cortar em outras áreas.
O mercado financeiro acompanha de perto as movimentações sobre a reforma da Previdência porque a saúde fiscal do país afeta os investimentos. Quando o governo não tem dinheiro suficiente para cumprir obrigações, precisa se endividar. E quando essa dívida aumenta demais, cresce o risco de não ser paga. O principal indicador observado pelo mercado é a relação entre dívida e PIB, que hoje está em 77%. O Tesouro estima que esse percentual chegue a mais de 80% em 2022.

Stephanie Tondo e Marcello Corrêa, O Globo