
Logo em seguida, o Itamaraty divulgou uma nota em que afirma que o reconhecimento se dá "de acordo com a Constituição daquele país" e "tal como avalizado pelo Supremo Tribunal de Justiça" no exílio. A oposição, que tem maioria na Assembleia Nacional eleita em 2015, já havia declarado Maduro um "usurpador" da Presidência desde que ele tomou posse para um segundo mandato, em 10 de janeiro, depois de ser reeleito em maio de 2018 em um pleito que, para os opositores, não cumpria as condições mínimas de limpeza e liberdade.
Guaidó já havia recebido carta branca de boa parte dos países que compõem o Grupo de Lima (integrado por 14 nações do continente) para assumir o cargo, depois que Nicolás Maduro tomou posse no segundo mandato, que não foi reconhecido por mais de 40 países.
Na época, o bloco diplomático divulgou uma declaração em apoio à intenção do opositor de assumir um governo de transição que se encarregaria de organizar novas eleições. Segundo uma fonte do governo brasileiro, "ficou claro que o Brasil está disposto a reconhecer Juan Guiadó como presidente encarregado (tal como prevê a Constituição Venezuelana) desde que Guaidó se proclame presidente da República", como aconteceu nesta quarta-feira.
A situação na Venezuela foi largamente discutida na semana passada, em Brasília, em reuniões entre membros do primeiro escalão do governo brasileiro —- entre os quais o chanceler Ernesto Araújo e o ministro da Justiça, Sergio Moro — e líderes exilados da oposição a Maduro. Também participaram das conversas representantes do governo americano e do Grupo de Lima.
Desde que Bolsonaro assumiu a Presidência da República, no início deste mês, o governo brasileiro subiu o tom com Nicolás Maduro, a ponto de dizer que o regime de Caracas é sustentado pelo crime organizado. Em nota, o Brasil vinculou o regime venezuelano ao terrorismo, ao tráfico de pessoas, ao narcotráfico, à corrução e à lavagem de dinheiro. Na terça-feira, Ernesto Araújo, ao tratar do tema em uma rede social, chegou a se referir a Maduro como "ex-presidente" da Venezuela.
Eliane Oliveira, O Globo