sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

'Se não houve ninguém por trás, é importante até para a História' diz procurador sobre buscas em endereços de advogado de Adélio

Advogado de Adélio Bispo, Zanone Manoel de Oliveira Jr Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo 07/09/2018
Advogado de Adélio Bispo, Zanone Manoel de Oliveira Jr Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo 07/09/2018

Para o procurador da República em Juiz de Fora Marcelo Medina , que atua nas investigações do caso do autor do ataque a faca ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), as buscas realizadas hoje em três endereços do advogado Zanone de Oliveira, que representa Adélio Bispo , têm objetivo de tentar descobrir quem está financiando os advogados do autor do ataque, e não implicam em nenhuma suspeita de irregularidade por parte do advogado em si.
— Se há algum grupo organizado por trás disso é fundamental descobrir porque o atentado atingiu o principal candidato à época e que hoje está eleito. Então a lisura, o equilíbrio do processo democrático precisa ser preservado. Se não houve ninguém por trás é importante até para a História excluir essa hipótese de forma categórica — afirmou o procurador, que já apresentou uma denúncia contra Bispo.
Apesar de um dos endereços da busca realizada hoje ser um hotel ligado ao advogado e onde funciona seu escritório, o local de trabalho de Zanone não chegou a ser alvo de buscas. Inicialmente, a PF pediu que o escritório também fosse alvo, porém o procurador se manifestou contra por entender que isso implicaria em levantar suspeita sobre a atuação do defensor em si, e o juiz acabou acatando a tese de Medina.
— É importante que se diga que não há suspeita contra o advogado — segue o investigador, para quem há três hipóteses de investigação que precisam ser checadas: a de que Adélio Bispo agiu sozinho, a de que ele foi financiado por algum grupo político radical organizado e a de que ele teria sido financiado pro alguma organização criminosa.
Nas buscas chegaram a apreender o celular do advogado (momento em que a Ordem dos Advogados do Brasil foi acionada), mas, segundo o procurador, o objetivo é apenas identificar o financiador da defesa, uma vez que a investigação já sabe que nem o autor do ataque nem seus familiares contrataram os advogados.
— Nenhuma mensagem que envolva técnica ou estratégia de defesa será empregada para a instrução dessa ou de outra investigação. A inviolabilidade do advogado e do cliente vai ser respeitada — explica o procurador para quem a ação de hoje pode ajudar até a garantir maior lisura à defesa de Adélio.Uma das preocupações, segundo o procurador, é de que caso haja uma organização criminosa por trás, ela esteja financiando a defesa também para garantir o silêncio do autor do atentado.
Os investigadores buscavam as imagens da câmera de segurança do hotel para tentar confirmar se o financiador aparece nos vídeos, uma vez que o advogado disse ter se encontrado com ele no escritório.
Um dos endereços é uma loja de sorvetes de Zanone, o objetivo é buscar documentos que o advogado pode ter deixado nestes locais e que tenham relação com o caso Adélio.

Mateus Coutinho, O Globo