sábado, 8 de dezembro de 2018

Chegadas e despedidas: Moro em Madri, Temer em Buenos Aires, por Vitor Hugo Soares

Dessemelhantes sim, mas igualmente significativas, são as imagens de dois personagens da hora da política brasileira, colhidas em eventos de ressonância internacional neste final de 2018: Michel Temer, em Buenos Aires, cumpre melancolicamente seus derradeiros dias de mando, durante a reunião de cúpula dos chefes de estado do G-20. Em Madri, Sérgio Moro (ex-juiz da Lava Jato e futuro ministro da Justiça e da Segurança), cheio de novos projetos e transbordante de confiança, no seminário “Grandes Desafios da Iberoamérica”.
Na Espanha, Moro fala para figuras representativas da política, dos negócios e da cultura na região europeia. Sem a companhia do convidado de honra do encontro, Paulo Guedes, aconselhado pelos médicos a não tomar avião esta semana e a repousar, sem sair de casa, cuidando de problemas respiratórios. O ex-magistrado de Curitiba, ao contrário, depois do puxado evento na Europa, amanheceu quarta-feira no centro do BBl, no DF, onde o futuro governo se estrutura, enquanto produz fatos e polêmicas. E ocupa – com surpreendente competência – os principais espaços do noticiário político, econômico, e até de costumes. As imagens o mostram Moro à vontade, bem disposto, com jogo de cintura nas tomadas de decis&o tild e;es e nas falas com a imprensa.
Ao lado do futuro ministro, o escritor Mario Vargas Llosa. Peso pesado da cultura, Nobel de Literatura, ex-candidato a presidente do Peru – e influente pensador e cidadão do mundo. Dias antes, o autor de “A Guerra do Fim do Mundo” publicou o artigo “Juízes e Presidentes”, que segue causando bafafá entre os donos do poder no continente, e ainda dando o que falar.
Llosa escreveu que a corrupção é hoje o maior inimigo da democracia na América Latina, “corroendo-a a partir de dentro, desmoralizando a cidadania e semeando desconfiança em relação a instituições… O que ocorreu no Brasil nos últimos anos foi um anúncio d o que poderia ocorrer em todo continente”…, afirmou. O escritor deixa claro que não morre de amores pelo presidente eleito do Brasil. Mas expressa a esperança de que “pelo menos dois de seus ministros – Moro e Paulo Guedes – moderem Bolsonaro e o levem a atuar dentro da lei e sem reabrir portas para a corrupção”.
Moro foi adiante. Disse não ver no presidente eleito um risco de autoritarismo. “Jamais teria aceitado o convite para entrar no gabinete de ministros do governo se vislumbrasse esses perigos”, garantiu. E concluiu dizendo o que a maioria, no seminário, queria ouvir: “No meu caso, é uma oportunidade para avançar na agenda anticorrupção, em outro âmbito do poder. É necessário promover reformas mais amplas e gerais e isso não posso fazer como juiz, mas como ministro da Justiça sim”. Saiu do auditório, da Fundação Internacional para a Liberdade, em Madri, sob aplausos.
Em Buenos Aires, na despedida de Michel Temer, na cúpula do G20, as marcas e imagens são de silêncio e melancolia. Na foto oficial, o mandatário brasileiro aparece isolado numa das laterais. Temer teve “uma presença apagada”, nos registro da imprensa. Nem ao menos se reuniu com Mauricio Macri, anfitrião do encontro. Mais tristes só o olhar e os passos do presidente a caminho do Aeroporto de Ezeiza, no retorno a Brasília.
Os signos do poder são duros e perversos, às vezes. Mas implacáveis e reveladores.
Vitor Hugo Soares, jornalista, é editor do site blog Bahia em Pauta

Com Blog do Noblat, Veja