O presidente Michel Temer e o juiz federal Sérgio Moro se cumprimentam em solenidade comemorativa ao Dia do Exército, em Brasília (DF) - 19/04/2017 (Pedro Ladeira/Folhapress)
Dessemelhantes sim, mas igualmente significativas, são as imagens de dois personagens da hora da política brasileira, colhidas em eventos de ressonância internacional neste final de 2018: Michel Temer, em Buenos Aires, cumpre melancolicamente seus derradeiros dias de mando, durante a reunião de cúpula dos chefes de estado do G-20. Em Madri, Sérgio Moro (ex-juiz da Lava Jato e futuro ministro da Justiça e da Segurança), cheio de novos projetos e transbordante de confiança, no seminário “Grandes Desafios da Iberoamérica”.
Na Espanha, Moro fala para figuras representativas da política, dos negócios e da cultura na região europeia. Sem a companhia do convidado de honra do encontro, Paulo Guedes, aconselhado pelos médicos a não tomar avião esta semana e a repousar, sem sair de casa, cuidando de problemas respiratórios. O ex-magistrado de Curitiba, ao contrário, depois do puxado evento na Europa, amanheceu quarta-feira no centro do BBl, no DF, onde o futuro governo se estrutura, enquanto produz fatos e polêmicas. E ocupa – com surpreendente competência – os principais espaços do noticiário político, econômico, e até de costumes. As imagens o mostram Moro à vontade, bem disposto, com jogo de cintura nas tomadas de decis&o tild e;es e nas falas com a imprensa.
Ao lado do futuro ministro, o escritor Mario Vargas Llosa. Peso pesado da cultura, Nobel de Literatura, ex-candidato a presidente do Peru – e influente pensador e cidadão do mundo. Dias antes, o autor de “A Guerra do Fim do Mundo” publicou o artigo “Juízes e Presidentes”, que segue causando bafafá entre os donos do poder no continente, e ainda dando o que falar.
Llosa escreveu que a corrupção é hoje o maior inimigo da democracia na América Latina, “corroendo-a a partir de dentro, desmoralizando a cidadania e semeando desconfiança em relação a instituições… O que ocorreu no Brasil nos últimos anos foi um anúncio d o que poderia ocorrer em todo continente”…, afirmou. O escritor deixa claro que não morre de amores pelo presidente eleito do Brasil. Mas expressa a esperança de que “pelo menos dois de seus ministros – Moro e Paulo Guedes – moderem Bolsonaro e o levem a atuar dentro da lei e sem reabrir portas para a corrupção”.
Moro foi adiante. Disse não ver no presidente eleito um risco de autoritarismo. “Jamais teria aceitado o convite para entrar no gabinete de ministros do governo se vislumbrasse esses perigos”, garantiu. E concluiu dizendo o que a maioria, no seminário, queria ouvir: “No meu caso, é uma oportunidade para avançar na agenda anticorrupção, em outro âmbito do poder. É necessário promover reformas mais amplas e gerais e isso não posso fazer como juiz, mas como ministro da Justiça sim”. Saiu do auditório, da Fundação Internacional para a Liberdade, em Madri, sob aplausos.
Em Buenos Aires, na despedida de Michel Temer, na cúpula do G20, as marcas e imagens são de silêncio e melancolia. Na foto oficial, o mandatário brasileiro aparece isolado numa das laterais. Temer teve “uma presença apagada”, nos registro da imprensa. Nem ao menos se reuniu com Mauricio Macri, anfitrião do encontro. Mais tristes só o olhar e os passos do presidente a caminho do Aeroporto de Ezeiza, no retorno a Brasília.
Os signos do poder são duros e perversos, às vezes. Mas implacáveis e reveladores.
Vitor Hugo Soares, jornalista, é editor do site blog Bahia em Pauta
Com Blog do Noblat, Veja
