Bandeira do Brasil da Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi queimada
e rasgada por um homem que escalou o mastro de quase 100 metros.
(Lula Marques/Folhapress/VEJA)
e rasgada por um homem que escalou o mastro de quase 100 metros.
(Lula Marques/Folhapress/VEJA)
Brasília ferveu e o País também , na quarta-feira, 19 de dezembro, para não esquecer. A começar pela decisão afoita (no dizer da gente da beira do São Francisco, rio da minha aldeia) do ministro Marco Aurélio Mello, ao mandar soltar todos os presos condenados em segunda instância. Um deles – mais famoso entre os mais de 160 mil que iriam para as ruas -, o ex-presidente Lula.
Foi dia também do presidente Michel Temer ir ao Uruguai, para se despedir dos colegas do Mercosul. E do substituto, Rodrigo Maia (presidente da Câmara em campanha de reeleição), afrouxar a Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionando medidas que autorizam gastanças de prefeitos. Ricardo Lewandowski, ministro do STF, decidiu que o governo federal – já a partir de janeiro de 2019 – terá que pagar o reajuste dos servidores. Virou panela de pressão a quarta-feira que começara com expectativas de anúncios de mudanças, às vésperas da posse do novo presidente.
Um dia antes da bravata de Marco Aurélio, o general Etechegoyen deu entrevista coletiva no Planalto. E recarregou pilhas, falando sobre ameaças de ataques, e alertando sobre a necessidade de cuidados especiais com a segurança de Bolsonaro, na festa da posse, que, além de chefes de estado e figurões da política, dos governos e de negócios internacionais, prevê participação de público “estimado entre 250 mil a meio milhão de pessoas”.
No começo do dia 19, sorridente e aparentando calma, Jair Bolsonaro embarcou no Rio, rumo à Granja do Torto, para o primeiro teste geral do seu futuro ministério , no barco que ele comandará nos próximo quatro anos (pelo menos). Mas, à medida que surgiam novas notícias sobre a decisão de Marco Aurélio – e a tensão nacional crescia-, Bolsonaro fechou a cara no Torto. E determinou atenção máxima e silêncio absoluto a seus futuros ministros e assessores. E assim foi, até a dura e firme contestação da procuradora Geral da República, Raquel Dodge, e a quase imediata decisão de Toffoli, que anulou o feito de Mello.
Decido então tirar os olhos de Brasília, mirar em direções mais próximas do meu terreiro, antes de chegar o ano regido por Ogum, guerreiro do candomblé, São Jorge dos cultos católicos. E vejo que os chineses (que Bolsonaro vê com desconfianças) estão chegando à Bahia, sob o domínio do PT do governador reeleito Rui Costa e do senador eleito Jaques Wagner (o galego de Lula) e acenam bancar a mega-construção da ponte Salvador-Itaparica, sobre a Baia de Todos os Santos. A turma de Pequim desembarca de mansinho e meio nas sombras, aproveitando-se do estranho silêncio crítico quase total.
A começar pela ausência do escritor essencial, João Ubaldo Ribeiro, autor de “Viva O Povo Brasileiro”, que combateu até a morte a suspeita obra faraônica e seus interesses submersos. Agora, em lugares antes ocupados pelas empreiteiras OAS e Odebrecht (em apuros na Lava Jato) no plano de ponte está a empresa chinesa CREC (China Railway Group Limited), que promete “fazer de sua atuação na Bahia a referência para todo Brasil e para a América Latina”.
A decisão do grupo foi comunicada há poucos dias ao governador Rui Costa, pelo diretor Wang Kun, líder de uma delegação de oito chineses à Bahia. Um dos maiores entusiastas da obra é o vice-governador, João Leão, que se auto-proclama “um construtor de pontes”. Um língua solta sobre quem as operações de combate à malfeitos vivem de olho. Fico por aqui. Feliz Natal a todos.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta
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