terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Brasil deve permanecer no Acordo de Paris, diz Ricardo Salles, futuro ministro do Ambiente

O futuro ministro do Meio Ambiente no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, disse à Reuters que o Brasil deve permanecer no Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, mas que o mundo também precisa respeitar a autonomia do país para estabelecer suas políticas ambientais.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro disse que poderia retirar o Brasil do Acordo de Paris, que estabelece metas de para os países signatários de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.
Ricardo Salles, futuro ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, parece fazer uma continência
Ricardo Salles, futuro ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro - Evaristo Sá/AFP
O presidente eleito, no entanto, tem feito declarações contraditórias sobre suas intenções desde eleito, dizendo que o país pode permanecer no acordo climático se forem cumpridas certas condições.
"A minha tendência... é dizer que nós não devemos deixar o acordo", disse Salles, que foi indicado no domingo por Bolsonaro para assumir o Ministério do Meio Ambiente no próximo governo, em entrevista na segunda-feira (10).
"Mas, por outro lado, isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente internamente”, acrescentou.
No acordo, contudo, foram os próprios países que definiram suas metas de redução e como executá-las.
O Brasil assumiu o compromisso de cortar as emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030 como parte do Acordo de Paris, apesar de ainda não ter apresentado um plano completo sobre como atingir essas metas.
O país usará o bom senso ao detalhar como lidará com o acordo, e até agora vem sendo muito responsável ao preservar uma grande porcentagem de sua vegetação nativa, disse Salles.
Ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Salles disse que acredita na mudança climática, mas que não sabe dizer com certeza se ela é provocada pelo homem ou uma alteração que ocorre naturalmente.
Contudo, praticamente toda a comunidade científica e os estudos realizados sobre o assunto apontam o papel determinante do homem na mudança climática. 
O Brasil deveria deixar essa questão para os acadêmicos e seguir em frente com o negócio "menos charmoso" da proteção ambiental, disse, o que inclui lidar com dejetos, biodiversidade, questões ligadas ao solo e a conversão da frota de veículos para combustíveis menos poluentes.
Bolsonaro não reduzirá o orçamento do ministério e das agências ambientais ligadas à pasta, entre elas o Ibama e o ICMBio, disse Salles.
Mas as agências ambientais não estão produzindo os resultados que deveriam com os recursos que recebem, e ele disse que buscará corrigir essa "má administração" e "ineficiência".
Indagado se o Brasil deveria reconsiderar a decisão tomada pelo Ibama na semana passada de negar uma permissão para a Total explorar petróleo na delicada bacia da Foz do Amazonas, Salles respondeu que não se deve permitir que a ideologia influencie a decisão e que ela deve se basear somente em fatos.
O país precisa encontrar um equilíbrio entre licenciamento ambiental, seja para agropecuária ou mineração, e desenvolvimento, já que regras muito severas levam pessoas à ilegalidade ou induzem produtores a abandonarem o mercado, disse.
REUTERS