terça-feira, 16 de outubro de 2018

'Nasce uma Estrela': diferenças e semelhanças entre os 4 filmes


Lady Gaga encarou duas complicadas missões ao atuar em Nasce uma Estrela. A primeira foi aceitar o posto de protagonista no cinema; a segunda, dar vida à uma personagem que já foi vista e elogiada em três grandes filmes do passado. Uma história requentada em Hollywood, Nasce uma Estrela chegou pela primeira vez às salas em 1937, com Janet Gaynor no papel da jovem que se apaixona por um complicado homem famoso, que vê seu prestígio cair, enquanto ela ascende. O original ganhou o primeiro remake em 1954, com Judy Garland, e o segundo em 1976, com ninguém menos que Barbra Streisand.
A trajetória faz da trama uma bem-sucedida senhora de 81 anos, com estatuetas do Oscar na bolsa e milhões em bilheteria. Mas para sobreviver ao longo de tantas décadas, a história e seus personagens passaram por mudanças, assim como a trilha sonora.
Uma das principais alterações que se veem no novo filme é o comportamento do galã. Se no primeiro filme o homem apresenta uma postura agressiva quando alcoolizado, e se comporta como um típico playboy de Hollywood, flertando com diversas mulheres, agora, em tempos do movimento MeToo, Bradley Cooper, protagonista e diretor, faz diferente. O ator incorporou um personagem muito mais centrado em sua música, que não vê glamour algum na fama e luta contra o alcoolismo, visto aqui como uma doença e não um capricho ou parte da cultura do show business.
Uma curiosidade que vale ser notada é um detalhe mantido como tradição em todos os filmes. Em determinado momento, quando o casal se despede, ele a chama para dizer a frase: “Só queria olhar você mais uma vez”.
Confira abaixo as principais diferenças dos filmes anteriores para o novo:

Os anos de ouro de Hollywood de 1937

O primeiro Nasce Uma Estrela acontece muito antes do culto à celebridade de rock ou pop, que lota estádios, como fazem os personagens interpretados por Cooper e Gaga. Na primeira trama, os protagonistas são atores de Hollywood, contratados de um grande estúdio da cidade. Norman Maine (Fredric March) se encanta pela jovem Esther Blodgett (Janet), que trabalha como garçonete em uma festa. Antes mesmo de vê-la atuar, ele já a convida para uma audição no estúdio em que trabalha. Maine se apaixona cada vez mais pela atriz, que logo em sua estreia é um sucesso entre o público. Os dois chegam a se casar em um tribunal de uma pequena cidade da Califórnia para fugir dos paparazzi.
A situação começa a ficar complicada quando o ator é demitido do estúdio — o sucesso de suas bilheterias já não supera o prejuízo causado pelas faltas às gravações e escândalos envolvendo o abuso de álcool. O ápice acontece no primeiro Oscar de Esther (que adota o nome de Vicki Lester). Ao receber o prêmio de melhor atriz, ela é interrompida por um discurso do marido alcoolizado. Ele chega a se internar em um sanatório para reabilitação, mas logo depois que retorna, fica desaparecido por quatro dias. O final trágico da história impactou os espectadores na época. 

Os artistas musicais de 1954

O primeiro remake da história trouxe Judy Garland para o papel de Esther. A personagem, dessa vez, faz pequenos musicais em clubes de Hollywood. Em uma apresentação beneficente em um teatro, ela é surpreendida pela entrada de Norman Maine (James Mason) bêbado no palco. O ator causa uma grande confusão no local e, em uma outra noite, decide ir atrás da atriz em um clube (que, na versão de Gaga, se torna um clube de drag queens). No local, ela canta The Man that Got Away, indicada a melhor canção original no Oscar na época. Maine convence Esther a desistir de uma turnê musical que ela iniciaria no dia seguinte para tentar a carreira em Hollywood.
Quando ela finalmente consegue um trabalho em um estúdio (depois de passar uma temporada trabalhando como garçonete e fazendo propagandas com fantoches para a TV), engata em um relacionamento com o ator. A produção, então, repete os passos de 1937: o casamento às escondidas, a demissão de Norman, a cena do Oscar e o fim trágico.

Os roqueiros dos anos 1970

O mais parecido com a versão estrelada por Cooper e Gaga, o filme de 1976 acompanha a história de um roqueiro problemático, vivido por Kris Kristofferson, que canta para grandes plateias e festivais, e se apaixona por uma aspirante a cantora, interpretada com maestria por Barbra Streisand. Assim como no remake de 2018, o futuro casal se conhece em um bar. Ele, em busca de bebidas após um malsucedido show, enquanto ela se apresenta para uma pequena plateia. Cansado do assédio de um fã, John Norman (Kristofferson) se irrita e começa uma briga, que o faz fugir pelo fundo com Esther Hoffman (Barbra). Em seguida, eles partem juntos para um grande show do cantor, mais tarde se apaixonam, e quando Norman, cansado dos palcos, substitui sua participação num evento por Esther, começa a ascensão da moça, na mesma velocidade da queda do rockstar. Outra semelhança com a versão atual é a vitória de Esther no Grammy, que acaba ofuscada quando o marido, embriagado, chega à cerimônia, sobe ao palco, e grita que ele merece o prêmio de pior artista de todos os tempos.
As principais diferenças entre o longa dirigido por Frank Pierson e o comandado por Bradley Cooper estão nas características dos protagonistas. Esther é impetuosa e se mantém fiel ao seu estilo musical do início ao fim, enquanto Norman é infantil e inconsequente, em uma espécie de caricatura das celebridades usuárias de drogas dos anos 1970. O fim do filme também apresenta um desfecho bem diferente do dos demais.

Lucas AlmeidaRaquel Carneiro, Veja