domingo, 7 de outubro de 2018

Merval Pereira: Ascensão de Bolsonaro no primeiro turno pode criar clima favorável ao candidato do PSL Nunca um candidato que entrou no segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger

Os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) Foto: REUTERS PHOTOGRAPHER / REUTERS
Os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) Foto: REUTERS PHOTOGRAPHER / REUTERS

A vitória de Jair Bolsonaro com uma grande distância para Fernando Haddad sinaliza que o candidato do Ascensãoentrará no segundo turno em posição de vantagem, embora todos considerem essa uma nova eleição. Mas quando um candidato sai do primeiro turnoem ascensão, o clima que se cria em torno dele é favorável a novas adesões, e as negociações políticas beneficiam o vencedor.
Por isso, nunca um candidato que entrou no segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger. Foi assim com o ex-presidente Lula, que não ganhou eleições no primeiro turno – em 2006 chegou a ter 49% -, mas sempre saiu vencedor com cerca de 60% dos votos no segundo turno, contra candidatos do PSDB.
Desta vez, o candidato petista Fernando Haddad terá que reverter bem mais votos do que os adversários do PT nas vezes anteriores, uma tarefa mais difícil do que a do tucano Aécio Neves em 2018, por exemplo, que terminou o primeiro turno com 33,55%, contra 41,59% de Dilma, e conseguiu no segundo turno 48,36%, contra 51,64%, perdendo por pouco.  Haddad, hoje, termina com menos votos do que Aécio teve no primeiro turno em 2014, e Bolsonaro quase venceu agora.
A união dos opostos será feita neste segundo turno à força, pois no primeiro as legendas de esquerda e de centro se dispersaram entre várias candidaturas. A questão é saber quão unidos estarão neste segundo turno, e quem terá mais condições de atrair votos do centro político.
Haddad, pelas pesquisas, é capaz de levar a maioria dos votos de Ciro, Marina e Alckmin, mas não o bastante para se contrapor a Bolsonaro, que atrairá, até mesmo por falta de opções, o eleitorado de centro-direita espalhado entre candidaturas nanicas de Álvaro Dias, Meirelles, João Amoedo, além da parte minoritária de Alckmin e Ciro.
A impossibilidade de escolha, no entanto, pode gerar um índice maior de votos brancos, nulos e da abstenção neste segundo turno, o que facilitará a vida dos candidatos, especialmente do que está na frente, pois precisarão de menos votos válidos para se eleger.  
Merval Pereira, O Globo