quarta-feira, 10 de outubro de 2018

"Entre a cela e as urnas", por José Casado

No domingo, Lula reafirmou-se no partido. Extraiu do maior reduto petista, o Nordeste, um de cada dois votos


O calendário marca: faltam 20 dias, ou 480 horas, para terminar a disputa presidencial. Para vencer, Fernando Haddad e o PT precisam conquistar cerca de um milhão de votos até à meia-noite desta terça-feira, sem perder nenhum dos 31 milhões já obtidos. É imprescindível repetir a proeza, sem parar, todos os dias até o domingo 28 de outubro, quando termina a votação.
Significa ganhar 41.600 novos eleitores por hora. Ou somar mais 700 a cada minuto. Sem deserções.
Se não parece possível à nação petista, vale lembrar que em política até o impossível acontece — como demonstrou Jair Bolsonaro, um fiel adversário da democracia, com os seus 49,2 milhões de votos.
O problema de Haddad, o “advogado de Lula” como ele se apresenta, é que sua candidatura está algemada à porta da cadeia que abriga seu cliente, em Curitiba. A dificuldade do PT está na opção por seguir refém do líder encarcerado.
Nada mudou na galáxia petista desde o último verão, quando Lula possuía 34% das intenções de voto, o dobro de Bolsonaro. Sua rejeição batia em 40%, um mero detalhe.
Na época, burocratas do partido decidiram oficializar o culto à sua imagem. Até decretaram uma virtual intervenção nos diretórios para impor um catecismo de campanha.
Ele previa, na primeira etapa, a prece “Eleição sem Lula é fraude”. Fixava o “voto de protesto” no candidato escolhido por Lula. Por fim, contestava a legitimidade de um adversário escolhido numa eleição presidencial sem o líder petista.
No domingo, Lula reafirmou-se no partido. Extraiu do maior reduto petista, o Nordeste, um de cada dois votos que conduziram seu “advogado” ao segundo turno presidencial.
No geral, sua estratégia foi um fiasco, porque desprezou o antipetismo, que aceita tudo, inclusive Bolsonaro, para evitar a volta do PT ao poder.
Na cela de Curitiba, porém, ganha-se de qualquer jeito. Se Haddad vencer, a vitória é de Lula. Se perder, a derrota é de Haddad e do PT, onde Lula continuará a ser venerado.
O Globo