sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Sérgio Mendes garantiu banho quente em presídio da Lava Jato, mas agora volta à prisão sem a mordomia

Quando Sérgio Cunha Mendes, ex-executivo e um dos donos da empreiteira Mendes Júnior, foi parar atrás das grades, em Curitiba, com mais de dez empreiteiros em novembro de 2014, a expectativa era que ele e seus companheiros permanecessem no máximo uma semana encarcerados.

Com os sucessivos pedidos de liberdade negados primeiramente pelo juiz da Lava Jato, Sergio Moro, e posteriormente pelas instâncias superiores, Mendes amargou quase seis meses na prisão. Foram cinco meses na carceragem da PF e um mês no Complexo Médico-Penal (CMP), presídio da região metropolitana de Curitiba que abriga os detentos da Lava Jato que não fecharam acordos de delação premiada.

Ele foi transferido com outros nove presos da operação, a maioria empreiteiros, em março daquele ano, quando o frio de outono já castigava as noites paranaenses. Diariamente, o empreiteiro reclamava a agentes e colegas de que o que mais lhe fazia sofrer era o banho gelado do presídio. Ao contrário da sede da PF, onde tinha passado os cinco meses anteriores com chuveiro quente, ele tinha de se banhar todos os dias por volta das 6 horas em um cano que despejava água fria. No início de 2015, o empreiteiro tinha chegado a ficar vários dias internado depois de se submeter a uma cirurgia para retirada de uma pedra no rim. Ele comentava que aquele banho era o pior do pós-operatório que enfrentou.

Solto no final de abril por uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) que o colocou na rua com mais oito empreiteiros, Mendes se solidarizou com os companheiros que permaneceram no local e bancou a instalação de uma caldeira para aquecer a água que abastecia o banho dos detentos – dentre eles, um dos que se beneficiam até hoje da regalia é o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, a quem Sérgio Mendes se afeiçoou trocando confidências durante o período encarcerado.

No início desta semana, o juiz Sergio Moro determinou que o empreiteiro da Mendes Júnior e mais dois ex-executivos da empresa — Rogério Cunha Pereira e Alberto Elísio Gomes — condenados em segunda instância por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa fossem presos. Com uma sentença de 27 anos e dois meses nas costas, o empreiteiro, que vive em Brasília, pediu para cumprir pena no presídio da Papuda, onde se apresentou na última terça-feira (21).


Sérgio Cunha Mendes - Aílton de Freitas / Agência O Globo

Mas a situação piorou para Mendes na sua volta à prisão desde que a Vara de Execuções Penais constatou regalias aos presos considerados vulneráveis. Por isso, em 21 de julho, esses presos foram transferidos para um pavilhão de segurança máxima dentro de uma das unidades de regime fechado da Papuda. Pela determinação da juíza Leila Cury, os novos presos vulneráveis terão de ser alocados no mesmo local porque o bloco das regalias ficou exclusivo aos idosos. Dessa maneira, o empreiteiro desfrutará de banho de sol de apenas duas horas, visitas quinzenais e um chuveiro, nas palavras da direção do presídio, de água “morna” — má notícia para Mendes, que chegou à Papuda na semana em que Brasília registrou chuva e temperatura de 10 graus.




Bela Megale, Epoca