sexta-feira, 17 de agosto de 2018

“O Brasil quer segurança, não uma aventura”, diz Geraldo Alckmin

Crédito: Gabriel Reis
RISCO PAÍS Alckmin afirma que, diferente dele, há candidatos que podem levar o País ao“populismo fiscal” (Crédito: Gabriel Reis)
O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, considera ter o maior arco de alianças, incluindo os oito partidos do Centrão, não apenas para ser eleito, mas para governar com maioria no Congresso e aprovar as indispensáveis reformas. Em sabatina à ISTOÉ na última segunda-feira 13, o tucano defendeu-se da acusação de que essas alianças impõe-lhe a pecha de representante da “velha política”, afirmando que todos os demais concorrentes à Presidência tentaram o apoio desses mesmos partidos e não conseguiram. Garantiu não ter havido “toma-lá-dá-cá”, com promessas de ministérios e cargos para esses aliados, e adiantou que vai aproveitar a portentosa base aliada para apresentar seus projetos de reforma política, do Estado, da Previdência e Tributária logo no primeiro dia de governo. A ideia é aprovar as mudanças nos primeiros seis meses.
EXPERIÊNCIA Em entrevista à ISTOÉ, Alckmin diz ser o único a ter maioria no Congresso para fazer as reformas inadiáveis(Crédito:Gabriel Reis)
“Eu tenho um conjunto de medidas para tirar o Brasil da crise, não tenho uma única bala de prata”. Ele promete zerar o déficit público em dois anos e recolocar o País no rumo do desenvolvimento, com crescimento de 4% logo no primeiro ano. Ao contrário de seus mais ferrenhos adversários na corrida eleitoral, Alckmin diz ter projetos bem estruturados para fazer a economia voltar a funcionar, acabando com cinco tributos (ICMS, IPI, PIS, COFINS e ISS), para criar em seu lugar um único imposto, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), o que, segundo ele, vai reduzir a carga tributária para os trabalhadores e empreendedores. Ele se sente mais “amadurecido” do que em 2006 quando disputou a Presidência pela primeira vez, perdendo para Lula, e acredita que a sua experiência pode levá-lo ao segundo turno novamente. Aos 65 anos e sendo o governador que mais tempo ficou à frente do governo paulista (14 anos, contra 13 de Adhemar de Barros), Alckmin entende que outros candidatos a presidente, como Jair Bolsonaro, podem significar uma “aventura” e mergulhar o País num “populismo fiscal” semelhante ao que aconteceu em países como a Venezuela. “Eu nem tenho certeza de que Bolsonaro irá para o segundo turno”.
A grande aliança que o senhor montou tem recebido muitas críticas. Seus opositores dizem que são fisiológicas, que é a política do toma-lá-dá-cá. Que limites o senhor imporá a esses partidos quando for eleito?
Todos querem mudanças, sair do marasmo. E o Brasil só vai mudar com as reformas. Precisamos ganhar a eleição para mudar, fazer a reforma política e as reformas que vão dar confiança ao Brasil, que permitam voltarmos a crescer. Todos os meus adversários fizeram tentativas para obter essa aliança. A Constituição é muito detalhista. Então as mudanças precisam passar por Propostas de Emendas Constitucionais (PECs). A reforma política, a simplificação tributária, fazendo cinco impostos virarem um só, regime de Previdência mais justo, em que a aposentadoria do setor público tenha o mesmo valor do setor privado, reforma de Estado para desonerar o trabalhador e estimular a atividade empreendedora, para tudo isso é preciso ter maioria no Congresso. Então, a aliança não é só para ganhar a eleição, mas é para fazer as reformas que permitam ao Brasil voltar a crescer.

O Brasil optou por governos de coalizão, o que na prática se tornou governo de cooptação, de tomar ministérios e cargos. Como evitar isso?
O governo de coalizão é necessário, porque não temos o bipartidarismo, como é nos Estados Unidos. Temos o pluripartidarismo, com 35 partidos. Cooptação não. Cooptação é o que o PT fez. Nós vamos fazer uma aliança em torno de propostas.
“A grande aliança que fiz não é só para ganhar a eleição, mas para fazer as reformas que permitam ao Brasil voltar a crescer” (Crédito:Gabriel Reis)
Se por um lado essa aliança traz a senadora Ana Amélia (PP) para ser sua vice, por outro traz políticos condenados no mensalão por corrupção, como Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar da Costa Neto (PR). Eles participarão do seu governo?
Fizemos alianças com partidos. Aliás, veja que beleza foi a aliança. Eu pude escolher a minha vice, a senadora Ana Amélia (PP), que é um dos melhores quadros da política brasileira. Precisamos dar empoderamento à mulher. E ela é uma das senadoras mais respeitadas. Então, vamos montar um governo com os melhores quadros de todos os partidos e chamaremos inclusive quem não tem partido. Quando fui governador, quase a metade do meu secretariado não tinha filiação partidária. Acima de tudo, terei tolerância zero com a corrupção.
O senhor disse que o fato do Lula não ser candidato será uma vantagem por causa dos votos dele no Nordeste. Nesse caso, parece que o seu adversário mais direto será o Bolsonaro. Como tirá-lo do páreo?
As grandes mudanças ocorrem mais próximas das eleições. Isso já ocorreu em 2014, com mudanças mais perto da data da eleição. Já ocorreu na eleição municipal de 2016 e acabou de acontecer agora na eleição no Tocantins. A 10 dias das eleições quem estava em primeiro e segundo lugar nas pesquisas, nem foi para o segundo turno. Eu nem tenho certeza de que o deputado Bolsonaro irá para o segundo turno. Tenho essa convicção. O Brasil quer segurança. Não quer aventura. Aventura não governa. O País está muito sofrido. Desemprego, perda de renda, problemas graves na Saúde, Educação e Segurança.
Internautas dizem que o senhor é a velha política.
O que é o novo? É a idade? É ter 30 anos e não ter 60? O novo é nunca ter disputado uma eleição? É não ter nenhuma experiência em administração pública? Não. O novo é defender o interesse coletivo, que é órfão todo o dia no Brasil. O novo é ter coragem de enfrentar as corporações, e é isso que eu vou fazer. Você quer no comandante do avião alguém que tenha experiência. O tempo nos ensina. Eu estou muito mais amadurecido do que estava em 2006, quando fui candidato a presidente na outra vez. Estou mais preparado.
Qual é o dilema desta eleição?
Acho que o Brasil vai ter uma bifurcação. Ou vai para um período de competitividade, inserção internacional, com investimentos e vai crescer, ou vai para o populismo fiscal, com o sexto ano de déficit primário, sexto ano gastando R$ 140 bilhões a mais do que arrecada, sem pagar nada da dívida pública, de R$ 5,2 trilhões. Onde é que isso vai parar? Vamos terminar na Venezuela.
O senhor pretende rever a regra do teto dos gastos?
Se possível não, embora ache que não precisa ter teto de gastos para cortar despesas. São Paulo não tem teto e nós temos superávit. No ano passado foi de R$ 5,3 bilhões. Então não precisa de teto para cortar despesas. Não adianta ter teto e não reduzir despesas. Vamos agir pelo lado da despesa. Eu coloquei quatro reformas para estarem no Congresso já no começo do ano. Sobre a reforma política, precisamos mudar esse sistema, porque se não mudar não adianta. Precisamos também de uma reforma do Estado, diminuir seu tamanho, porque está muito caro para o trabalhador, que paga muito imposto. E teremos ainda a reforma previdenciária. É o caso da aposentadoria no Brasil: ela é de R$ 1.391,00 em média, enquanto que na Câmara dos Deputados é de R$ 27 mil, em média. Pode isso? Claro que não. Não terei uma bala de prata. Não tem mágica. Será um conjunto de medidas que fará a diferença.
O senhor privatizará a Petrobras?
Eu pretendo ter um grande programa de privatização. Passa pelo setor elétrico. Só a Chesf que nós vamos examinar com mais cuidado por causa da operação do Rio São Francisco, que é central para a questão da água no Nordeste. Mas vou privatizar o que puder. Na Petrobras, pretendo privatizar a distribuição, transporte, gás, tudo pode ser vendido. No refino, pretendo quebrar o monopólio na prática. Hoje, na Refinaria do Comperj, no Rio de Janeiro, foram investidos R$ 12 bilhões. Faltam R$ 4 bilhões para se ter uma grande refinaria de derivados de petróleo. As obras estão paradas há cinco anos. E por que não termina? A Petrobras não tem dinheiro para investir em tudo. Precisamos trazer investimento privado para o refino.
O TCU e o Ministério Público identificaram que houve um superfaturamento no Rodoanel, uma das obras do seu governo, na qual foi constatado um sobrepreço de R$ 110 milhões. O que o senhor diz sobre isso?
Nós temos que prestar contas todos os dias. Eu fiz uma licitação para as obras do Rodoanel, que é uma das mais importantes do País. Falta entregar a última etapa. Fizemos licitação internacional. Têm empresas estrangeiras participando da construção do Rodoanel. Todo o rigor. Tanto é que nas desapropriações nós denunciamos valores absurdos. A Dersa fixava valores de desapropriação e o Judiciário de Guarulhos mandava pagar 300% a mais. Fomos ao Ministério Público e denunciamos. Conseguimos recuperar mais de R$ 300 milhões.
Mas houve o superfaturamento?
Em determinado momento, a empreiteira encontrou rochas enormes no meio do caminho, chamadas mata-cão, e queria o reequilíbrio do contrato, porque isso não era previsível. A Dersa não concordou e surgiu o impasse. E o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que financia a obra, disse que quando há conflito, cria-se uma câmara arbitral. Foram nomeados três engenheiros e deu três a zero dizendo que tínhamos que pagar o aditivo. O Judiciário diz que quando há decisão de câmara arbitral, ela tem que ser cumprida.
“Terei tolerância zero com a corrupção. Vou levar para meu governo os melhores quadros dos partidos e também os que não têm filiação partidária” (Crédito:Gabriel Reis)
Para fechar a entrevista, vamos fazer um jogo rápido: o senhor é a favor da descriminalização das drogas e da liberação da maconha?
Em relação às drogas, eu tenho uma divergência com o ex-presidente Fernando Henrique. Eu não sou favorável à legalização da maconha. Temos experiências no Uruguai, Portugal, estados americanos e na Holanda, mas não há uma comprovação de que a legalização possa reduzir o consumo ou que traga qualquer benefício. O que eu defendo é o combate duro ao tráfico de drogas e tratar os jovens com dependência química.
E sobre o armamento da população?
O Estatuto do Desarmamento já prevê ter posse de arma. Defendo flexibilizar o uso da arma na Zona Rural. Lá não tem a viatura da polícia passando em frente da sua casa.Então, admito a posse de arma para esses locais. Nas cidades, quem têm que estar armada é a polícia. Não podemos retroceder, voltar ao século 19.
E a redução da maioridade penal?
Hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, prevê que quem mata um, dois, cinco, fica no máximo três anos e sai com a ficha limpa. Isso não educa. Proponho que o adolescente fique oito anos recluso e não mais três. E, depois dos 18 anos, não fica mais na Fundação Casa. Vai para uma penitenciária, ala isolada, como é no mundo inteiro. Hoje com 21 anos o jovem ainda fica na Fundação Casa. Não faz sentido.

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A grande aliança que o senhor montou, com nove partidos lhe apoiando, tem recebido elogios, mas também muitas críticas. Muitos dizem que as alianças são fisiológicas, que o senhor está com a banda da política que quer o toma-lá-dá-cá. Que limites o senhor vai impor a esses partidos que estão lhe dando apoio neste momento?
Todos nós queremos mudanças, sair do marasmo. E o Brasil só vai mudar com as reformas. Precisamos ganhar a eleição para que? Para mudar, fazer a reforma política e as reformas que vão dar confiança ao Brasil, para voltarmos a crescer. Todos os meus adversários fizeram tentativas para obter essa aliança. São partidos médios e grandes, que são importantes. A Constituição brasileira é muito detalhista. Então as mudanças precisam passar por PECs (Propostas de Emendas Constitucionais). Reforma política, simplificação tributária, de cinco impostos virarem um só, regime de Previdência mais justo, em que a aposentadoria do setor público tenha o mesmo valor do setor público, reforma de Estado para desonerar o trabalhador e estimular a atividade empreendedora, tudo isso você precisa ter maioria no Congresso para podermos caminhar. Então, a aliança não é só para ganhar a eleição, mas em ganhando a eleição é fazer as reformas que fazer o Brasil voltar a crescer, gerar emprego e renda, oportunidades para os jovens.
O Brasil, de alguns anos para cá, trabalhou em governos de coalizão, o que na prática se tornou um governo de cooptação, de tomar ministérios, estatais, cargos. Isso o senhor vai conseguir evitar?
O governo de coalizão é necessário, porque não temos o bipartidarismo, como é nos Estados Unidos. Temos o pluri, o multipartidarismo. Temos 35 partidos. Cooptação não. Cooptação é o que o PT fez. Nós vamos fazer uma aliança em torno de propostas, para o Brasil voltar acrescer. Hoje há muita liquidez no mundo. Qual é o problema do Brasil? Falta de investimento. Para ter investimento, precisamos ter confiança. Nós vamos trazer confiança ao Brasil, porque precisamos de muito investimento para o país retomar o desenvolvimento.
Se por um lado essa aliança traz a senadora Ana Amélia, do PP, para ser sua vice, por outro traz políticos condenados no mensalão por corrupção, como Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar da Costa Neto (PR). Eles vão participar do seu governo também?
Primeiro nós fazemos alianças com partidos, com instituições. Aliás, veja que beleza foi a aliança. Eu pude escolher a minha vice. Foi eu que escolhi a senadora Ana Amélia (PP) e é um dos melhores quadros da política brasileira. E é uma mulher. Precisamos dar empoderamento à mulher, a garra das mulheres. E ela é uma das senadoras mais respeitadas. Então, vamos montar um governo com os melhores quadros de todos os partidos e chamaremos inclusive quem não tem partido. Quando fui governador, quase a metade do meu secretariado não tinha filiação partidária.
Mas o seu plano de governo diz que o senhor terá intolerância zero com a corrupção. E por isso volto a insistir no Valdemar, Roberto Jefferson, ambos presos no mensalão, tem o Marcos Pereira, do PRB, que está sendo investigado na Lava Jato. Todos eles envolvidos com corrupção. O senhor terá tolerância zero com eles?
Tolerância zero. Nós vamos montar um governo com os melhores quadros, com todos os partidos. Se pegar em todos os partidos, eles tem ótimos quadros. Se pegar os Progressistas (PP) tem o caso da Ana Amélia, que é uma das mais respeitadas. Se pegar o PR, temos o Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar. Ele é uma pessoa extremamente querida. Todos os partidos têm bons quadros. O importante é o resultado, é o Brasil sair para retomar a atividade econômica. Se formos analisar, da década de 30 à década de 80, o Brasil foi o País que mais cresceu no mundo. Foram 50 anos crescendo 5% ao ano. Éramos um País pobre, de renda baixa, com mortalidade infantil altíssima, expectativa de vida de 43 anos de idade. Melhoramos muito. Passamos a ser um País de renda média, expectativa de vida subiu. Inflação de 3 mil por cento, baixou para 3%, mas continuamos nessa armadilha de renda média. O Brasil está extremamente caro. Um automóvel aqui custa duas vezes mais do que nos Estados Unidos. Um minuto do celular, juros do banco, são os mais altos do mundo. Precisamos ter uma agenda de competitividade e reduzir o custo Brasil, para obtermos emprego, emprego, renda, renda. E para isso precisamos fazer as reformas. Se alguém falar que o Brasil vai mudar sem reformas não está sendo verdadeiro com a Nação. E para fazer reformas, o governo precisa ter maioria.
Há informações de que se o senhor for eleito em outubro vai pedir para o presidente Michel Temer enviar para o Congresso as principais reformas para que elas já fiquem encaminhadas para eventual governo seu. É verdade isso?
Acho improvável. O que eu quero reiterar aqui nesta entrevista. Esse é o lado positivo do presidencialismo. Quem for eleito pelo voto direto vai ter quase 60 milhões de votos. A força do voto, a força do povo é muito grande. Então eu vou apresentar já em janeiro todas as reformas e votá-las rápido, para aprová-las em seis meses. Assim, teremos como fazer as reformas macro e micro-econômicas. Nós podemos crescer 4% ao ano, gerar emprego, oportunidades, diminuir o desemprego, que hoje somam 13 milhões de pessoas sem trabalho, mais outro tanto no subemprego, no desalento. Precisamos implantar um grande programa de obras, na área de infraestrutura, estradas, hidrovias, aeroportos, portos.
O senhor falava em como conquistar os votos, citando a senadora Ana Amélia, que é do Sul. Outros candidatos foram na mesma linha, mas candidaturas a presidência e à vice do Nordeste foram pouco contempladas. Como o senhor tentará dar mais projeção aos Estados do Norte e Nordeste?
Eu vejo três questões importantes. Primeiro, se eu pudesse ter cinco vices, eu teria um de cada região, mas não tem jeito. As circunstâncias me levaram a escolher uma mulher, senadora, com experiência, passado respeitado, e que é do Rio Grande do Sul. Mas poderia ser do Rio Grande do Norte. Como eu pretendo dar destaque para o Norte e Nordeste? Na eleição de 2006, fui para o segundo turno contra o Lula, que era o presidente da República e é difícil enfrentar um presidente, porque a reeleição favorece quem está no poder. O Lula não sendo candidato, é outro cenário. O meu eleitor aqui em São Paulo é sempre mais simples. Não é da elite. Então, temos a possibilidade de falar com o cidadão que precisa mais. E temos boas propostas para o Nordeste. Estamos preparando um grande projeto de infraestrutura, água no semi-árido, segurança pública, industrialização, turismo. E teremos bons palanques nos Estados. Vamos ter desde a Bahia até o Maranhão se não o primeiro, pelo menos o segundo maior palanque para governador nos Estados. Teremos bons palanques nos Estados do Nordeste.
Mas têm candidatos nessas regiões que são do centrão, sua base de apoio, mas que estão com outros candidatos, como é o caso do senador Ciro Nogueira, presidente do PP do Piauí, que diz que lá vai apoiar o candidato do PT para presidente. Como o senhor vai lidar com isso?
O que eu acho disso. Sem reforma não tem solução para o Brasil. Não vamos mudar o Brasil sem a reforma política. Não dá para a gente continuar com 35 partidos. Nós vamos reduzir isso fortemente, ter o voto distrital, no modelo alemão, enfim, isso é fundamental. Se não, vamos continuar tendo problemas. É preciso agir na causa dos problemas. Segundo, o Brasil é uma federação. Cada Estado tem uma realidade diferente. As coligações não são iguais. E uma coisa é a coligação nacional e outra coisa é como funciona em cada Estado. Mas um dado importante que eu vou dar. Fiz um cálculo e vamos ter 52% dos prefeitos do Brasil. Eu já fui prefeito da minha cidade natal (Pindamonhangaba) e não tem pessoa mais próxima do povo do que o prefeito. Isso faz diferença enorme. Dos 5.570 prefeitos brasileiros, vamos ter 52% deles. Faz boa diferença para a gente levar nossa mensagem à ponto, onde estão as pessoas.
Não vai ter traição aí?
Não. É natural nessas alianças. Eu tenho até governador de Estado que é de partido que tem outro candidato e que já disse que vai me apoiar. Isso é fruto do excesso de partidos que o Brasil tem.
O senhor disse que o fato do Lula não ser candidato este ano será uma vantagem para o senhor não ter que enfrentá-lo. Nesse caso, parece que o seu adversário mais direto será o Bolsonaro. O que o senhor pretende fazer para tirá-lo do páreo?
As grandes mudanças ocorrem mais próximas das eleições. Isso já ocorreu em 2014, com mudanças mais perto da data da eleição. Já ocorreu na eleição municipal de 2016 e acabou de acontecer agora na eleição no Tocantins. A 10 dias das eleições quem estava em primeiro e segundo lugar nas pesquisas, nem foram para o segundo turno. As mudanças acontecem mais no final. Eu nem tenho certeza de que o deputado Bolsonaro irá para o segundo turno. Tenho essa convicção.
O senhor acha que Bolsonaro não estará no segundo turno?
Acho que pode não ir. Outro aspecto é que o Brasil quer segurança. Não quer aventura. Aventura não governa. O País está muito sofrido. A população brasileira está muito sofrida. Desemprego, perda de renda, problema na Saúde, Educação, Segurança. Você tem um sofrimento muito grande. E em política você não obriga ninguém a votar. Você conquista.
O Bolsonaro tem dito que não entende nada de economia e diz que quando quer saber pergunta no Posto Ipiranga, que no caso é o economista dele, o Paulo Guedes. O senhor também pergunta tudo o que deseja saber ao seu economista Pérsio Arída?
Não. As decisões vão ser minhas. Agora,é claro que a gente precisa ter bons quadros. Para governar, precisa ter equipe. Eu trouxe os melhores quadros do agronegócio, da indústria, da economia. Você citou bem. Trouxe o Pérsio Arída, o Edmar Bacha, o José Roberto Mendonça de Barros, os pais do Plano Real. Enfrentaram desafio de estabilizar a moeda, de acabar com a inflação. Uma das preocupações da população é não voltar a inflação. E não vamos deixar voltar. Só que precisamos ter o desafio do Brasil sair dessa renda média e passar para uma renda mais alta.
O senhor citou a liquidez abundante no mundo e enfatizou a necessidade de se ter confiança, que é o que muitos candidatos estão falando. Esse também foi o discurso do presidente Temer quando assumiu o governo, com o Meirelles como seu ministro da Fazenda, dizendo que só haveria crescimento desde que se conquistasse a confiança. O que o senhor vai fazer de diferente, já que eles estão entregando um País com o crescimento abaixo do que se previa?
Umas diferenças importantes. Em primeiro lugar, há a legitimidade. Eu fui governador com voto e sem voto. Tive três mandatos com voto e um quarto por ter sido vice do Mário Covas, que faleceu e eu assumi o governo. Não teve impeachment. Você não tem legitimidade. Mas depois que você é eleito muda tudo. A democracia tem lógica. Era muito difícil um governo fruto do impeachment, no final do governo, totalmente sem força popular, fazer reforma. Quem assume não tem voto. Vai na garupa de quem foi eleito. É diferente. Quem for eleito, se tiver convicção, se quiser por o País no rumo, isso será possível. Acho que o Brasil vai ter uma bifurcação. Ou vai para um período de competitividade, inserção internacional, com investimentos e vai crescer, ou vai para o populismo fiscal, com o sexto ano de déficit primário, sexto ano gastando R$ 140 bilhões a mais do que arrecada, sem pagar nada da dívida pública, de R$ 5,2 trilhões, onde é que isso vai parar? Vamos terminar na Venezuela.
Mas no caso do déficit fiscal, sua proposta é zerá-lo em dois anos. Por outro lado, é preciso uma base de apoio para aprovar as medidas constitucionais, mas o Centrão, que o apóia e é a base de apoio do Temer hoje, está por trás de uma bomba fiscal que vai deixar para o próximo presidente de aproximadamente R$ 100 bilhões. Como o senhor vai resolver essa incrongruência?
Primeiro que ninguém sabe quais serão os deputados e senadores que serão eleitos. Eu fui governador com apoio de 11 partidos e fiz o ajuste fiscal. Enquanto o Brasil teve um déficit de R$ 139 bilhões, aqui em São Paulo eu não tive nenhum déficit nos últimos 5 anos e ainda fiz um superávit primário de R$ 5,3 bilhões em plena crise. Tem coisas que nem depende do Legislativo. Por exemplo, cortar gastos, acabar com o desperdício, reduzir ministérios, reduzir órgãos públicos, reduzir cargos comissionados, devolver aluguel, vender prédio, não precisa tanto do Legislativo. É ter vontade, quer fazer. Quem apaga a luz é quem paga a conta. O presidente tem que liderar esse trabalho, com ajustes.
Só isso seria suficiente para zerar o déficit público?
Não. São três coisas. E essas pautas que oneram o Estado em mais R$ 100 bilhões ainda estão para ser votadas no Senado. E vou dizer mais. Se passarem, o presidente tem que vetar. No presidencialismo, a solidariedade é baixa com o Executivo. No mundo inteiro isso acontece. Não é só aqui. No parlamentarismo é diferente, porque se o governo vai mal, dissolve-se a Câmara e marca-se eleição geral. No presidencialismo, se o presidente vai mal, problema dele. Cabe ao Executivo vetar e trabalhar a sua base para aprovar coisas que a dona Maria é que vai ter que pagar.
O senhor vetaria esse reajuste de 16% que o STF acaba de se conceder?
Isso nem foi ainda para o Congresso votar. Mas o problema desse reajuste não é o aumento dos 11 ministros do STF. O problema é o efeito cascata que esse reajuste vai provocar no funcionalismo e que vai dar um gasto de mais de R$ 4 bilhões. O problema são as vinculações. Então esse cartório brasileiro não pode mais continuar. Eu vou enfrentar as corporações, enfrentar o cartório, desburocratizar, simplificar, desregulamentar. Não é possível essa cultura brasileira cartorial, de um cartório emendado no outro, o que dá no que estamos vendo. Corrige o salário de ministro que está quatro anos sem reajustar e de 11 ministros do Supremo tem um impacto brutal no funcionalismo da União, que tem os salários vinculados ao STF. Está errado essa vinculação.
Internautas está dizendo aqui que o senhor representa a velha política. Perguntam também sobre as fake news, a fraude na Merenda e sua ligação com o PCC. Gostaria que o senhor comentasse isso.
Primeiro sobre a velha política. O que é o novo? É a idade? É ter 30 anos e não ter 60? O novo é nunca ter disputado uma eleição? É não ter nenhuma experiência em administração pública? Não. O novo é defender o interesse coletivo, que é órfão todo o dia no Brasil. As corporações tomaram conta do setor público, tanto do setor privado. Isso é o novo. É ter coragem de enfrentar as corporações, que isso eu vou fazer. Você quer no comandante do avião alguém que tenha experiência. Numa cirurgia você quer um cirurgião que tenha experiência. A experiência é importante. Eu sou médico. Quando estava no sexto ano de Medicina fui fazer o projeto Rondon em Itauçú, em Goiás. Num domingo, fui visitar a Cora Coralina (escritora) na Ponte do Rio Vermelho, em Goiás Velho. Na hora de ir embora, ela virou para nós estudantes e disse: olha meninos, guardem o seguinte. Todos nós estamos matriculados na escola da vida e o professor é o tempo. Então, o tempo nos ensina. Eu estou muito mais amadurecido do que estava em 2006, quando fui candidato a presidente na outra vez. Estou mais preparado. O novo é defender o interesse coletivo.
E sobre o PCC?
Crime organizado não tem fronteira. Tem em todo lugar. Nós combatemos o PCC 24 horas por dia. Nós tínhamos em São Paulo em 2001, 13 mil assassinatos. Reduzimos para 3.503 mortes no ano passado. Se tivemos salvo uma família, já teria valido a pena, mas nós salvamos 10 mil vidas por ano. Hoje, o Brasil tem 63 mil assassinatos por ano. No meu governo, vamos ter metas. Vamos reduzir a criminalidade, para evitar morte de jovens, negros, mulheres, feminicídio, os pobres. Vamos agir firme no enfrentamento da criminalidade, porque já fizemos isso em São Paulo, independente do Brasil. No Brasil, temos 30 homicídios por 100 habitantes por ano. Aqui em São Paulo, temos 10.
Ainda sobre o PCC, o candidato Ciro Gomes, do PDT, atacou-lhe dizendo que o senhor fez acordo com o PCC. O senhor vai processá-lo?
Não processei, porque até tenho apreço por ele. Meu conterrâneo da minha cidade. Até nascemos na mesma cidade (Pindamonhangaba), no interior de São Paulo. Mas é um absurdo total. É até um desrespeito com São Paulo. O Estado, a sociedade de São Paulo, tem mérito nisso. É uma conquista da polícia de São Paulo sair de 13 mil mortes por ano para 3.503 mortes por ano. Na verdade, eu vou ajudar o Ceará a resolver os problemas de segurança. Eles lá tem um problema gravíssimo de segurança pública. É um dos mais altos índices de homicídio do Brasil. Aliás, o Nordeste inteiro. Por causa do problema da droga. Vamos combater firme o tráfico de drogas e o tráfico de armas, que é crime federal. Questão na fronteira. Vamos enfrentar o crime organizado.
E a merenda escolar?
Nada pode ficar sem resposta. Nós é que investigamos. A polícia de São Paulo junto com o Ministério Público. Há uma lei federal, até discutível, dizendo que 30% das compras para a merenda têm que ser feitas junto aos agricultores familiares. Imagina em São Paulo, com 4 milhões de alunos, em mais de cinco mil escolas, tendo que comprar em agricultores familiares. Então se abre uma licitação e se compra junto a cooperativas de pequenos agricultores. A cooperativa que ganhou foi a de menor preço, o produto foi entregue e o governo não teve prejuízo nenhum. Acontece que quem dirigia a cooperativa eram fraudadores, estelionatários, que lesavam o seu cooperado, porque eles não pegavam o produto do pequeno, pegavam do grande. E nós descobrimos e todos foram punidos. Isso aconteceu em seis Estados brasileiros e em dezenas de municípios. Nós, que junto com o Ministério Público, é que descobrimos e corrigimos.
O senhor falou em violência, mas agora estamos vivendo novamente as balas perdidas no Rio. O que o senhor fará para rever a crise de segurança do Rio?
O caminho não é a intervenção. Porque se o caminho for esse, vamos ter mais de dez Estados, que tem a situação até mais grave do que o Rio de Janeiro. O problema é porque os Estados estão nessa situação. O Brasil inteiro. Então, o governo federal tem que liderar esse trabalho, é dever do governo federal fazê-lo, porque isso envolve o tráfico de armas e tráfico de drogas. Eu diria mais: é uma questão latino-americana. Estamos numa região muito violenta. Vou trabalhar com os países vizinhos, cobrando responsabilidade. Crime não tem fronteira. Claro que o Rio tem uma situação diferenciada e nós vamos ajudar. Primeiro, integrar a inteligência das polícias dos Estados, Polícia Federal, com informação numa agência. Hoje, temos a Força Nacional, em que se empresta um PM de um Estado para ir trabalhar no outro. Vestindo um santo e descobrindo o outro. Vamos fazer uma guarda nacional permanente. E a outra é tecnologia. Temos 17 mil quilômetros de fronteira seca, com os maiores produtores de droga do mundo. Temos que ter tecnologia e ampliar os programas de proteção das fronteiras. Então é: gente, gestão e tecnologia. Como fizemos em São Paulo, vamos salvar vidas no Brasil. Ter metas, estado por estado, para reduzir a criminalidade.
O senhor falou que a economia pode crescer 4% ao ano, para atrair investimentos e nesse caso até a segurança melhora, mas o problema é que o Brasil costuma gastar mal. Hoje, só o custo da máquina consome quase toda a receita. Como gastar melhor na Educação e Saúde?
Essa é uma questão essencial. A população paga muito imposto e recebe um serviço público de má qualidade. Temos um País caro e a conta não fecha. A dívida está subindo. Era 50% do PIB, foi para 70%  e hoje já está em 77% do PIB. É insustentável ter déficit sendo sustentado pelo endividamento. Por isso falei que em até dois anos nós vamos zerar o déficit. Cortando despesas e revendo incentivos fiscais. Hoje temos um déficit primário de 2% do PIB, R$ 140 bilhões, sem pagar a dívida. E temos um incentivo de 4% do PIB, de R$ 280 bilhões. Precisamos passar um pente fino em tudo isso. Será que todos eles se justificam? Certamente alguns deles se justificam, mas não todos. A outra é o Brasil crescer. O governo confia na economia, mas não tem dinheiro para investir. O empresário tem dinheiro, mas não confia no governo. E por isso não temos investimentos. E sem eles, não vamos crescer. O que temos que fazer: trazer de volta a confiança. E como se traz de volta a confiança? Colocando no rumo correto. Não tem mágica. Por isso, eu disse que o Brasil só vai mudar se tiver reformas. Não tem outro caminho a não ser esse.
Falando em reformas, a da Previdência é a mais urgente. Se o senhor for eleito, qual é a reforma que o senhor pretende fazer? Há um estudo da FGV que diz que mesmo com a reforma da Previdência, a regra do teto dos gastos vai fazer uma pressão sobre o governo. O senhor pretende rever a regra do teto dos gastos?
Se possível não. Embora ache que não precisa ter teto de gastos para cortar despesas. São Paulo não tem teto e nós temos superávit. No ano passado foi de R$ 5,3 bilhões. Então não precisa de teto para cortar despesas. Não adianta ter teto e não reduzir despesas. Teto é uma mera boa intenção. Não há razão para mudá-lo. Agora, vamos agir pelo lado da despesa. Eu coloquei quatro reformas para no comecinho do ano já estarem no Congresso. A reforma política. Precisamos mudar esse sistema político, porque se não mudar não adianta. Temos que olhar nos olhos das pessoas e dizer isso claramente. Precisamos mudar a política, reforma do Estado, diminuir o tamanho do Estado, porque está muito caro para o trabalhador, que paga muito imposto. E para o empreendedor incentivar o investimento, simplificar, transformando cinco impostos no IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e Previdenciário. É o caso da aposentadoria no Brasil: ela é de R$ 1.391,00 em média, enquanto que na Câmara dos Deputados é de R$ 27 mil, em média. Pode isso?
O senhor unificaria isso, de militares inclusive?
Claro. A única exceção é com as Forças Armadas, que também terão reforma, mas não igual. No mundo inteiro e eu estudei muito isso quando fui deputado federal. Países em desenvolvimento e em países desenvolvidos. Tem uma única exceção que são as Forças Armadas. Tem que ter reforma, vai ter, mas é de forma separada. Mas vamos ter o regime geral, que eu já fiz em São Paulo. Em 2011, quando entrei já fiz, a reforma foi aprovada por unanimidade pela Assembleia e já está vigorando. Até R$ 5.600, que é o teto do INSS, tudo igual. Quem ganhar acima disso, no Poder Judiciário, no Legislativo, no Executivo, é Previcom, Previdência Complementar. Como existe na iniciativa privada. É contribuição. Com isso, o déficit da Previdência vai ser zero.
O senhor falou das desonerações de R$ 280 bilhões no governo federal, mas aqui em São Paulo o senhor também concedeu desonerações (redução de impostos para empresários). Não é incoerência sua?
Por isso eu falei que não vamos cortar todas. Por isso, é preciso passar um pente fino e ver as que se justificam. Nós vamos mudar. A guerra fiscal é a guerra do ICMS. O ICMS deve acabar. ICMS, IPI, ISS, PIS e COFINS, vai se transformar no IVA. Aqui em São Paulo nós beneficiamos o consumidor. Vou dar um exemplo prático. No Brasil o etanol que s põe no carro o ICMS é de 25%. Tem Estado que é 28%. Em São Paulo eu reduzi para 12%. Não é para o usineiro. É para o consumidor, na bomba. Por isso, em São Paulo a população usa mais álcool do que gasolina. E está ajudando o meio ambiente, porque a gasolina polui o meio ambiente. O etanol é energia renovável, limpa e gera emprego na agricultura de São Paulo.
Mas o senhor pode dizer qual desoneração será revista?
Está sendo estudado com a nossa equipe de economia para ver quanto dá para reduzir. Não tem uma bala de prata. Não tem mágica. Será uma série de medidas, que no conjunto vai fazer a diferença.
O senhor fala em reforma tributária, que não é um tema que surgiu agora. Sempre que se falou em reforma tributária, há estados que resistem, não querem perder receita. Por que São Paulo não liderou uma reforma para reduzir o ICMS durante todo esse tempo em que o senhor ficou no governo?
Quem tem que liderar isso é o governo federal. As reformas que dependiam do Estado, eu as fiz. Mas isso depende do governo federal. Qual é a dificuldade? É que nessa questão de impostos temos um conflito federativo. Não é para tirar de um Estado para dar para o outro. Não é esse o objetivo. O sentido dessa reforma é a eficiência, é crescer a economia e dividir com equidade os impostos. Há um estudo do Bernard Appy e do deputado Luiz Carlos Hauly, do Paraná, de que a simplificação tributária pode trazer em dez anos um ganho de 1% do PIB. Como vencer a resistência? Fazer no comecinho do governo, o povo espera mudanças, explicar bem a reforma para a sociedade e tendo o povo do nosso lado fazer a reforma gradual: vou fazendo uma escadinha, reduzindo os cinco impostos e vou aumentando o IVA, fazendo a transição em quatro anos, cinco anos, seis anos. Esse é o caminho quando há uma resistência grande, vai fazendo por etapas até passar para a regra nova.
Queria voltar ao teto dos gastos. Há um estudo da FGV que diz que para cumprir os tetos de gastos no ano que vem se o governo cumprir como está, não haverá dinheiro, o Estado vai parar. O próprio Pérsio Arída, seu economista, diz que o teto dos gastos para 20 anos não faz sentido, que não se pode engessar os gastos porque a economia é dinâmica. E o senhor mesmo tem propostas para retomar o crescimento. Como fazer tudo o que o senhor está propondo sem dinheiro. Vai aumentar impostos? Qual é a mágica?
Eu não vou aumentar impostos e se possível num segundo momento reduzi-los. Aliás, já quero antecipar aqui: eu vou reduzir o Imposto de Renda para a pessoa jurídica e instituir a contribuição social sobre o lucro líquido. Vou tributar dividendos. É o que os Estados Unidos fizeram. Nós precisamos de mais investimento. Quando eu tributo o lucro, eu inibo as empresas de virem para o Brasil. A empresa vai para a Argentina, vai para os Estados Unidos e eu desestimulo o reinvestimento. Tem muita que quer investir na empresa e distribui lucro, distribui dividendos. Então o nosso objetivo é emprego e renda, com o Brasil voltando a crescer. E para isso e para o jovem ter emprego e renda, nós precisamos reduzir o Imposto de Renda, o imposto corporativo e vou tributar dividendos. Quem assumir o ano que vem, você tem razão, não vai ser fácil. Com sexto anos de déficit primário, congresso muito dividido, fragmentado, nenhum partido vai ter 10% dos votos, vai ficar tudo dividido, com o teto dos gastos na sua cabeça, não é uma coisa simples. Portanto, a gente tem que falar a verdade para a população. Agora, é possível, porque acredito que voltando os investimentos, a economia cresce. E na hora que a economia cresce, você arrecada mais. Então, todo o foco é no crescimento.
Os eleitores querem o fim do desemprego, pois muita gente está sem renda alguma e muitos no SPC. Como reduzir o déficit de empregos? O senhor tem uma meta?
Acho que nós vamos reduzir muito o desemprego. O pior do que ter os 13 milhões de desempregados, é que entre os jovens é de 27% o desemprego. É o dobro do que acontece entre a população adulta. Nós vamos reduzir forte. E de que forma? Apoiando o agronegócio. Nós temos tudo para crescer. Só ocupamos 8% do território brasileiro com a agricultura. Temos campos de pastagens, de pecuária, que estão degradados e podem virar agricultura. Agroindústria, para agregar valor. O maior beneficiário do IVA, do Imposto de Valor Agregado, com a redução do imposto corporativo, vai ser a indústria. A indústria tem 11% do PIB e paga quase 30% de imposto. É o setor mais onerado. Investir no turismo. Por que a Espanha e Portugal passaram para um patamar de renda mais alta? Porque investiram em serviços e no turismo. Por que a Austrália e Nova Zelândia passaram a ser ricos? Agricultura. Como a Noruega passou a ser rica? Petróleo, commodities. Nós temos agricultura, temos petróleo. Pré-sal faz crescer nossa produção de petróleo em 40% ao ano. O mundo vai crescer quase 4% este ano. Nós temos que aproveitar rápido esse bom momento da economia mundial, porque isso não vai ser permanentemente. Temos que aproveitar o bom momento.
Falando em petróleo, o senhor privatizaria a Petrobras?  E quais outras empresas estatais que o senhor venderia?
Eu pretendo ter um grande programa de privatização. Passa pelo setor elétrico. Só a Chesf que nós vamos examinar com mais cuidado por causa da operação do Rio São Francisco, que é central para a questão da água no Nordeste brasileiro. Mas vou privatizar o que puder. A Petrobras, pretendo privatizar a distribuição, transporte, gás, tudo pode ser vendido. No refino, pretendo quebrar o monopólio na prática. Hoje, a Refinaria do Comperj, no Rio de Janeiro, foi investido R$ 12 bilhões. Falta R$ 4 bilhões para se ter uma grande refinaria para derivados de petróleo. Está há cinco anos parada. E porque não termina? A Petrobras não tem dinheiro para investir em tudo. Precisamos trazer investimento privado para o refino. Veja o absurdo. Estamos pegando o petróleo bruto, mandando para o exterior, refina e volta para o Brasil como derivado de petróleo. Estamos perdendo no mínimo o frete que vai, o frete que vem, deixando de ter investimento e emprego no Brasil. Por que não consegue investir nas refinarias aqui. Porque a Petrobras não tem dinheiro para investir em tudo. Temos que trazer o setor privado para a área de refino. Vai ficar mais barata a gasolina, o Diesel e nós vamos gerar emprego no Brasil. A Petrobras é campeã em prospecção e retirada de petróleo em águas profundas. E não vou privatizar a Petrobras, mas todo o entorno da Petrobras. E vou trazer a iniciativa privada para os chamados campos maduros. Por que a Petrobras quebrou na mão do PT? Ela foi rapidamente para aquilo que tem mais resultado, que é o Pré-sal, que tem muito petróleo, cresce 40% ao ano, e abandonou os poços maduros, que podem produzir ainda bastante petróleo e gás. Tem empresas no mundo especializadas em poços maduros. No Pós-Sal, isso pode beneficiar o Norte do Rio, Espírito Santo, Bahia, Nordeste, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pernambuco. Vamos trazer muitos investimentos para esses poços maduros, que vai ativar a economia do Nordeste brasileiro.
Em paralelo às privatizações, há uma critica grande em relação ao avanço do capital estrangeiro sobre as nacionais, o caso da Boeing, adquirindo parte da Embraer, a entrada de empresas aéreas, estamos vendo a entrada no setor de low cost. Como o senhor vê esse avanço do capital estrangeiro?
Nós precisamos de investimento. O investimento estrangeiro é muito bem vindo. Ninguém vai pegar a terra brasileira e levar lá para fora. O que nós precisamos é ter um bom marco regulatório. Agências de regulação e fiscalização despartidarizadas, a mil quilômetros de distância de partidos políticos. Hoje dos 40 cargos de direção das 11 agências federais e de órgãos de controle, 32 são cargos de indicação política. Nós vamos manter isso a mil quilômetros de distância. A agência é de Estado. Quem faz um contrato de 30 anos e investe no Brasil R$ 10 bilhões, ele não pode ficar sujeito ao governante do momento. Ele precisa ter regras permanentes, segurança jurídica e boas agências reguladoras. O capital estrangeiro é bem vindo, com as regras do Brasil e seus marcos regulatórios. Temos que acabar com essa xenofobia boba, coisa ultrapassada no mundo globalizado. O Brasil precisa é abrir a economia. Nós temos 3% do PIB do mundo e apenas 1% do comércio exterior. Não tem nenhum país que melhorou de renda se ele não exportou e importou mais. Quanto mais comércio exterior você tem, mais você beneficia a dona Maria, que vai ter produtos melhores e mais baratos.
O senhor citou as agências reguladoras e tem uma outra crítica que cresce muito no País que são o fato das agências estarem mais advogando em causa das empresas do que efetivamente dos consumidores. A gente está vendo isso nos planos de saúde, no setor de energia, a Aneel, no setor de telefonia, a Anatel, que sofrem críticas de estarem advogando em favor das empresas, muito mais do que fiscalizando o trabalho que elas fazem em prol da população. Como o senhor pensa em mudar isso?
Foi o que eu disse logo no início. O novo é enfrentar o corporativismo estatal e privado. Aí está um exemplo de corporativismo. Agências capturadas pela iniciativa privada. Agência é profissional, de Estado. Qual o segredo de fazer Parcerias Público Privadas (PPPs), Concessões, em estradas, ferrovias, saneamento básico. É ter um bom marco regulatório e agência fiscalizadora. Esse é o caminho.
Falando um pouco sobre infraestrutura brasileira, que está sucateada. O que se investe hoje no setor não dá nem para manter a infraestrutura que a gente já tem. Um dos motores para a economia crescer é nesse segmento. De que forma o senhor pensa em impulsionar esse setor?
Num País continental como é o Brasil, o quinto maior País do mundo. A grande produção agrícola, agropecuária, está longe dos portos. Imagina você tirar soja do Norte do Mato Grosso e colocar no Porto de Paranaguá, de caminhãozinho, para depois subir para o Norte do mundo? Eu pretendo ter um grande programa de PPPs e concessões, com a participação privada, porque  isso gera emprego rápido. Vamos dar um exemplo. O Norte do  Mato Grosso, vai exportar para quem? Vai para o Norte do mundo, Europa, Oriente Médio, China. Então, qual é o caminho? A ferrovia do grão, ligando o Norte do Mato Grosso com o Porto de Itaiutiba, no Rio Tapajós. Não tem um caminhão. Tudo de trem. Põe dentro do porto no Rio Tapajós, no Amazonas, e já sai pro mundo. Logística. Bom, você vai falar, não tem dinheiro. Primeiro, um bom ajuste fiscal você zera o déficit e tem uma margem de investimento. É o que São Paulo faz: déficit zero, com espaço para investir. E na outra ponta trazer investimento privado. Sobra dinheiro no mundo. Sobra liquidez. O Brasil tem demanda. O problema nosso não é demanda. É ter projeto.
Falando no Mato Grosso, lá tem a BR-163 que está parada por causa de questões ambientais e já vem há muito tempo com as obras paradas. Como retomar essas obras sem agredir o meio ambiente? Lá tem a floresta amazônica, o senhor pretende passar por cima dessas questões ambientais?
Não desconsiderar. Agora, a rodovia já existe. A BR-163 ligando Cuiabá a Santarém já existe há décadas. É só asfaltar. Todo mundo culpa o meio ambiente, culpa tudo, mas por que não asfaltou até hoje? Não tem dinheiro. O governo federal quebrou. Esse é um fato. A Transnordestina, parada. As BRs, paradas. Tudo parado. Precisamos recuperar a capacidade de investimento do governo, que é o que eu fiz em São Paulo. Se não fizer o ajuste fiscal, não tem solução. Eu até estou programando uma viagem nos próximos 15 dias para percorrer a BR-163 de carro. Começar em Sinop, no Norte do Mato Grosso, e vou até Santarém, parando no Porto de Miritituba lá em Itaituba, para ver o problema. Campanha eleitoral é para isso também, você ver, sentir, ouvir. Eu pretendo, se for eleito, fazer um governo muito próximo das pessoas. Quem ouve mais, erra menos. Estar muito perto e com o foco no crescimento da economia brasileira.
Há um internauta perguntando se o senhor aceitaria o apoio do PT no segundo turno e no seu governo? E qual a importância da aliança com o Centrão?
Primeiro em relação ao PT. Seria até indelicado eu já dizer que o PT já perdeu e que não vai para o segundo turno. Vou com as sandálias da humildade. Eu não vou com salto 15. Não vou de salto alto, para dizer que o PT já está fora. De jeito nenhum. Mas agora, o PT tem bons quadros. Política não é como filme de caubói. Todos os partidos têm bons quadros, pessoas interessadas no bem comum, pessoas com valor. Precisamos trabalhar com os bons quadros de todos os partidos. Sobre o Centrão, todo mundo tentou fazer aliança com os partidos de centro, porque, são os maiores partidos do Brasil, não só necessários para ganhar a eleição, mas também para governar. E vou dizer mais: nós vamos levar uma vantagem, porque nós já fizemos a aliança sem dar nada. Ninguém nos pediu nada. Aliás, escolhi a vice que eu quis. Vamos ter uma maioria tranquila no Congresso. Os outros, se ganharem, vamos ter que dar tudo para os partidos, porque você precisa ter maioria para poder governar. O que nós precisamos fazer: a reforma política. Não é possível continuar com 35 partidos. Por isso, eu em janeiro já vou estar com a proposta de reforma política no Congresso.
No caso da infraestrutura, uma das críticas ao seu governo aqui em São Paulo é o atraso nas obras do Metrô. Como o seu eleitor pode ter certeza de que esses atrasos não acontecerão nas obras públicas federais?
É importante destacar o seguinte. A crise foi muito dura. Não é que o Brasil não cresceu. Ele retrocedeu. Teve ano que nós perdemos 3,5% do PIB. Com PIB negativo de 3,5%, a arrecadação cai 5%, cai 6%, porque o empresário primeiro paga seus colaboradores, depois os fornecedores, e se sobrar dinheiro ele paga imposto. A arrecadação desaba. Por isso, a maioria dos Estados não conseguiu nem pagar a folha de pagamento dos funcionários. Nós mantivemos todos os salários em dia e mantivemos uma boa capacidade de investimento. Eu assumi o governo com 60 estações do Metrô e teremos em dezembro agora 89 estações, ou seja 50% a mais. Assumi o governo com menos de 70 km de Metrô. Quando chegarmos a dezembro, vamos estar com 102 km. Dentro de 60 dias vamos inaugurar mais uma estação, a Morumbi. As pessoas poderão ir ao estádio de Metrô. Já estamos na Vila Sônia. Já entregamos Butantã, Fradique Coutinho, Oscar Freire. Na linha cinco, entregamos 12 estações novas. Na linha 13, temos o trem para o Aeroporto de Cumbica. Linha 9 o trem em Varginha na Zona Sul de São Paulo. A linha 17, no Aeroporto de Congonhas, mais um ano vai estar pronta, está em obras.  A linha 15 vamos entregar oito estações a mais. Então é recorde ter sete obras de trilhos simultaneamente em plena crise. Só com dinheiro do Estado.
O senhor disse que no Brasil falta dinheiro, mas em São Paulo não falta. Não tem um problema de governança aí?
Em São Paulo também tivemos dinheiro curto, mas como fizemos um bom ajuste, o Estado conseguiu manter as contas em dia e não teve déficit, diminuindo até o endividamento do Estado e mantivemos uma boa capacidade de investimento. Essa é uma diferença importante. Uma coisa é falar, outra coisa é fazer. Às vezes tem um abismo entre o falar e o fazer. Nós fizemos aqui no Estado de São Paulo.
Por falar em obras, o TCU e o Ministério Público identificaram que houve um superfaturamento no Rodoanel, uma das obras do seu governo, na qual foi constatado um sobre-preço de R$ 110 milhões. O que o senhor vai dizer na campanha quando for perguntado sobre isso?
O que é importante nisso. Nós temos que prestar contas todos os dias. Eu fiz uma licitação para as obras do Rodoanel, que é uma das mais importantes obras do País. Já entregamos a Oeste, ligando a Bandeirantes até a Régis Bitencourt, cinco auto-estradas, pelo Sul, chegando ao Porto de Santos, Imigrantes e Anchieta. E o Leste, chegando às rodovias Ayrton Senna e a Dutra. E falta a última etapa. São 160 quilômetros de anel dentro da metrópole, ligando o maior porto ao maior aeroporto brasileiro. A licitação foi internacional, coisa raríssima no Brasil. Têm empresas estrangeiras, espanhola, participando da construção do Rodoanel. Todo o rigor. Tanto é que nas desapropriações nós denunciamos valores absurdos. A Dersa fixava valores de desapropriação e o Judiciário de Guarulhos mandava pagar valores com 300% a mais. Nós denunciamos, fomos ao Ministério Público e conseguimos reverter e conseguimos reverter mais de R$ 300 milhões. O que houve na obra que está em execução. Daqui a pouco ela estará pronta. Tem hoje 3.400 trabalhadores lá, uma das maiores obras do Brasil. Em determinado momento, a empreiteira encontrou rochas enormes no meio do caminho, chamadas mata-cão na Serra da Cantareira e o construtor falou que queria o reequilíbrio do contrato, porque isso não era previsível. A Dersa não concordou e surgiu o impasse. E o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que financia a obra disse que quando há conflito cria-se uma câmara arbitral. Foram nomeados três engenheiros da Escola Politécnica de Engenharia, outro da concessionária e outro independente. O que houve então: três a zero dizendo que tinha que pagar o aditivo, porque as rochas não estavam previsíveis. Tem decisão do Judiciário que quando há uma decisão da câmara arbitral, você tem que cumprir a decisão. Tem um auditor do TCU que levantou a questão e nós vamos explicar isso. Acho que obteremos bom resultado.
A gente fala em emprego, mas tem uma questão no Brasil que mais de 50 milhões de brasileiros vivem com uma renda mensal de R$ 387,00 e muita gente com renda abaixo da linha de pobreza.  Que tipo de programa social que o senhor pretende adotar para fortalecer esse pessoal?
A primeira questão é retomar o emprego. Todo mundo quer para seu filho, para seu neto, é que as pessoas possam ser felizes, realizando sua vocação de servir ao próximo, nas mais variadas atividades. Cada um serve com sua vocação, mas precisa ter emprego. Governo não cria emprego. Governo precisa estimular a atividade empreendedora. Tem que ser estimulador da atividade empreendedora, para o País poder crescer e ter emprego. Tendo mais emprego, sobe a renda. Qual o desafio que coloquei para os economistas que estão trabalhando conosco? Eu quero reduzir o desemprego e em quanto tempo eu dobro a renda do brasileiro? Nós vamos ter meta ano a ano. Educação é básica. Se melhorar o acesso das 500 mil crianças fora da pré-escola. Temos que garantir o acesso das crianças de 4 a 5 anos na escola e aumentar as crianças nas creches, com o ensino fundamental, médio e técnico, se aumentarmos 50 pontos no Pisa, que é o que mede a evolução da educação básica no mundo, o PIB cresce permanentemente 1%, pelos ganhos de produtividade. Então, nós temos uma agenda para atingir essas metas. Então, é o que temos que fazer para melhorar a renda. Qual é a poupança do trabalhador brasileiro, que trabalha na agricultura, no comércio, na indústria? Todo mundo é CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), com o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Se pegarmos o FGTS dos últimos 10 anos, ele foi corrigido por valores menores do que a inflação. O trabalhador brasileiro está sendo tungado. O dinheirinho dele no FGTS está rendendo menos do que a inflação, está derretendo. Eu vou corrigir esse dinheiro pela TLP, com correção monetária mais juros. Fazer justiça aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. Eu tenho compromisso com os trabalhadores. Não sou filho da dinastia política, não sou filho da fortuna pessoal. Eu vim do mundo do trabalho.
E a Bolsa Família?
O Bolsa Família é um belíssimo programa social, complementação de renda. Qual é o problema das pessoas que estão no Bolsa-Família? Elas pensam que se saírem e arrumarem um emprego e depois não dar certo, não podem voltar ao Bolsa Família e por isso não procuram emprego. Eu vou garantir que as pessoas podem sair e qualquer coisa depois voltarem. Vamos dizer, saiam, procurem um emprego, um trabalho e se amanhã perder o emprego você volta sem problema. Precisamos ter um sistema, mas complementação de renda precisa ser mantido.
O próximo presidente vai ter que definir a política do salário mínimo. Na última década o reajuste é reajustado acima da inflação. Qual é a sua proposta para o salário mínimo?
Quero dizer às pessoas. Nossa prioridade é o salário mínimo. Governar é escolher. Então temos que ver os que mais necessitam. O meu compromisso é que o salário mínimo tenha um ganho real, que cresça acima da inflação, que possa ter ganho real, poder de compra da população, porque isso vai irrigar a economia. Aposentados, pensionistas, trabalhadores rurais, do Funrural, benefícios de prestação continuada, pessoas com deficiência, pessoas que se aposentaram por idade, nós vamos ter uma política de salário mínimo que valorize essas pensões por valores acima da inflação.
Entre muitos eleitores indecisos estão as mulheres. O que se nota é que grandes questões do universo feminino estão em discussão, como o aborto, o feminicídio, com episódios quase que semanalmente, como o senhor vai tratar questões tão complexas como essas?
Em relação ao aborto, já temos uma legislação que permite o aborto quando há risco de vida para a mãe, no caso de anencefalia e no caso de estupro. Eu manteria o que nós temos hoje. Não faria outra alteração, Em relação ao feminicídio, farei todo o empenho para reduzir. São Paulo tem 2,2 mulheres mortas por ano por 100 mil mulheres. O Brasil tem 4,5. São Paulo é menos da metade do Brasil. Tem estado brasileiro que é 10 mulheres mortas por cada 100 mil habitantes. Nós vamos reduzir fortemente. O que fizemos em São Paulo? As delegacias de mulheres. Temos delegacias especializadas, delegadas, investigadores, escrivãs, equipes de mulheres, ação rápida para atender as mulheres, investigação. A impunidade estimula a atividade delituosa, criminosa. Pegar quem fez isso e punir, ampliar as delegacias de polícia. Temos que ter justiça com as mulheres na questão do emprego. A mulher tem desemprego mais alto e ganha de 15 a 62% menos do que o homem. Precisamos ser justos com as mulheres. Tem uma diferença em relação aos homens totalmente injusta. Nós vamos fazer justiça, através da educação, informação e fiscalização. Instruções normativas da OIT prevalecerem. Tanto que fiz questão de trazer para minha vice uma mulher. As mulheres não são só para votar. Elas precisam ser empoderadas. Meu governo terá uma fortíssima presença das mulheres.
O senhor não acha que a decisão de fazer ou não o aborto deveria ser da mulher?
A mulher não quer fazer o aborto. Nós temos que evitar a gravidez indesejada. E para evitar essa gravidez temos que dar informação já às jovens, adolescentes, que acabam engravidando. Informação para evitar a gravidez indesejada. Faz parte de um programa de saúde pública e educação. Aliás, São Paulo reduziu a gravidez precoce.
Como será sua relação com o senador Aécio Neves no seu governo ou mesmo na campanha dele para deputado federal?
O Aécio foi afastado da direção partidária. Ele era o presidente do partido. Quando ocorreram as denúncias, toda a direção partidária foi substituída. Eu, que nunca passou por minha cabeça ser o presidente do PSDB, acabei sendo eleito por unanimidade presidente do partido. Então a ação foi rápida. Aliás, trocamos toda a direção partidária. Fizemos uma nova eleição que não estava prevista, na esfera municipal, estadual e nacional.
A nossa sabatina está chegando ao final e a gente sempre faz um jogo rápido com os candidatos, em temas que estão na ordem do dia, sobre a descriminalização das drogas, se o senhor defende a liberação da maconha como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também relação ao armamento, se o senhor defende que as pessoas se armem e também sobre a redução da maioridade penal para 16 anos.
Em relação às drogas, eu tenho uma divergência em relação ao ex-presidente Fernando Henrique, um estadista como ele é. Eu não sou favorável à legalização da maconha. Temos experiências no Uruguai, Portugal, estados americanos, na Holanda, mas não há uma comprovação de que a legalização possa reduzir o consumo ou que traga qualquer benefício. O que eu defendo é de um lado o combate duro ao tráfico de drogas, pois não produzimos cocaína e precisamos ter um trabalho duro em relação ao tráfico de drogas. Depois, precisamos dar a mão aos jovens. Dependência química é uma doença, como é a apendicite, como é a pneumonia. Temos que levar o programa Recomeço para o Brasil inteiro. Ajudar o jovem para ele poder sair da dependência química. Acredito, como médico, e nos muitos trabalhos voluntários de igrejas, que nos tem ajudado muito, junto às famílias, porque elas também ficam doentes com o problema das drogas. Por isso, não sou favorável à liberação. Sou favorável ao tratamento, para tirar o jovem da droga e o combate duro ao narcotraficante.
Sobre o armamento da população?
É possível ter arma. Já teve o plebiscito e passou. O Estatuto do Desarmamento isso passou. Defendo flexibilizar o uso da arma na Zona Rural. Lá não tem a viatura da polícia passando em frente da sua casa. Não adianta discar o 190, que vai demorar para chegar. Você está num lugar distante, ermo. Então, posse de arma para esses locais distantes, como é o caso da Zona Rural. Nas cidades, quem tem que estar armada é a polícia. Não podemos retroceder, voltar ao século 19. Estamos no século 21. Temos é que tirar as armas dos bandidos. Combater duramente o tráfico de armas. Nós sabemos por onde elas entram. Nós temos que agir duramente com a Polícia Federal e as Forças Armadas.
E a redução da maioridade penal?
Eu tenho uma proposta mais prática. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi meu secretário de Justiça e de Segurança Pública aqui no governo de São Paulo. O que ele propunha. Discutir redução de maioridade, vai acabar tudo no Supremo, se pode, não pode, se é cláusula pétrea, não é. No fim não vai acontecer nada. O que eu proponho, prático e mais rápido. Hoje, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, prevê que mata um, dois, cinco, fica no máximo três anos e sai com a ficha limpa. Isso não educa. O que não tem limite deseduca. Proponho ficar oito anos, não mais três. Se for crime hediondo é oito anos. E depois dos 18 anos, não é mais criança ou adolescente. Não fica mais na Fundação Casa. Vai para uma penitenciária, ala isolada, mas penitenciária, como é no mundo inteiro. Hoje com 21 anos ainda fica na Fundação Casa. Isso não faz sentido.
O que o senhor acha do fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela?
O Brasil tem uma tradição humanitária. Vieram para cá pessoas do mundo inteiro. São Paulo é local de japonês que fala português com sotaque italiano. É muito triste o que está acontecendo lá. Olha o que dá o populismo fiscal. Um país rico como a Venezuela, campeão na produção do petróleo, chegar à situação que chegou. É um alerta que serve para nós também. Temos a tradição de abrigar as pessoas. A Venezuela precisa se recuperar e nós latino-americanos ajudar para que haja democracia lá.
Pedimos que o senhor explique por que o eleitor deve votar no senhor?
A campanha eleitoral serve exatamente para ouvir a população. Tenho viajado pelo país, ouvido a população e vou me dedicar muito ao desenvolvimento regional. Vou me dedicar muito às regiões que precisam mais. A mudança para o IVA é um caminho para a origem do imposto. Portanto, regiões muito populosas, como do Nordeste, vão ser muito beneficiadas, porque vamos ter aumento de arrecadação. Eu quero ser presidente. Vou trabalhar muito para chegar lá. Porque acho que o Brasil está perdendo tempo. Poderíamos estar crescendo mais, ter desemprego muito mais baixo, a renda ser muito mais alta. A saúde deveria ser melhor. É meu dever como médico que a Saúde seja melhor e hoje a população mais pobre sofre muito com isso. O Brasil está envelhecendo, acho que deveríamos cuidar melhor dos nossos idosos. Não tem mágica, mas olhar nos olhos das pessoas, falar a verdade, trabalho, trabalho e trabalho. Eu acredito nisso. Estamos juntos para mudar o Brasil. O Brasil vai mudar com reformas.  O Brasil quer segurança. Aventura não governa.
Participaram da sabatina a Geraldo Alckmin os seguintes jornalistas: Carlos José Marques, Carlos Sambrana, Camila Sroug, Celso Masson, Gabriel Baldocchi, Germano Oliveira e Ralphe Manzoni Jr.