segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Filhos de caciques, invariavelmente corruptos, têm as maiores coligações estaduais

Exemplo central de corrupto de 'estimação' é Renan

As maiores coligações para a disputa de governos estaduais na eleição deste ano serão lideradas pelos filhos de dois caciques do MDB, por um ex-governador que viu seu adversário desistir da reeleição e por governador do PC do B que levou até o DEM para o seu palanque.
Dono do maior arco de alianças do país, o governador de Alagoas Renan Filho (MDB) disputará a reeleição com o apoio de 19 partidos. Seu pai, Renan Calheiros (MDB), é um dos candidatos ao Senado.
Em seu palanque estarão desde partidos do centrão como PR e Solidariedade, que apoiam Geraldo Alckmin (PSDB) para a Presidência, até PT e PC do B, que sustentam a candidatura do ex-presidente Lula.
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Com a aliança, Renan Filho terá mais tempo de propaganda partidária que seu principal adversário, o senador Fernando Collor (PTC), sustentado por oito partidos.
Mas também deve enfrentar embaraços diante da incompatibilidade ideológica de partidos. Exemplo disso aconteceu há duas semanas: Renan Filho e o pai foram vaiados e chamados de golpistas na convenção do PT.
Renan Calheiros e Renan Filho tiram foto com eleitores.
Renan Calheiros e Renan Filho tiram foto com eleitores - Divulgação
Em situação semelhante estará o ex-ministro dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Helder Barbalho (MDB). Ele disputará o governo do Pará e também terá o pai, Jader Barbalho (MDB), como candidato a senador.
Helder conseguiu aglutinar 17 partidos mesmo disputando o governo do estado pela oposição. Enfrentará nas urnas o deputado Márcio Miranda (DEM), com o apoio do governador Simão Jatene (PSDB).
Entre os aliados do emedebista estão cinco dos oito partidos que nacionalmente apoiam Alckmin e até partidos ainda mais à direita como o PSL de Jair Bolsonaro e o Patriota do Cabo Daciolo.
Helder afirma que sua aliança é resultado de convergência dos partidos que estão insatisfeitos com os atuais rumos do Pará. E diz que os partidos aliados terão que se adequar ao seu projeto e não o contrário.
"Não fiz nenhuma tratativa com partidos que possa imobilizar o nosso governo. Cheguei até aqui dialogando com a sociedade", disse à Folha.
No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) terá a quarta maior coligação do país, com 16 partidos. Mas na prática será o candidato com mais apoios partidários, já que terá o apoio informal de outros oito partidos que uniram-se em torno de Eunício Oliveira (MDB), candidato ao Senado de forma independente.
A aliança informal com Eunício foi uma exigência do presidenciável Ciro Gomes (PDT) e de seu irmão Cid Gomes (PDT), único candidato ao Senado na chapa de Camilo. Aliado do petista no Ceará, Ciro já chegou a afirmar que o MDB "precisa ser destruído".
A formação de uma aliança informal de 24 partidos, contudo, gerou uma série de ruídos na base do governador Camilo Santana. Parte do PT ligada a deputada federal Luizianne Lins é adversária do PDT de Ciro e Cid Gomes.
Os irmãos Gomes, por sua vez, têm um histórico de desavenças com o MDB de Eunício. O tamanho do problema ficou claro há dez dias, quando nem Luizianne nem Eunício nem Cid compareceram à convenção que oficializou Camilo como candidato.
No Espírito Santo, o ex-governador Renato Casagrande (PSB) terá a segunda maior aliança do país. Ele foi beneficiado pela desistência do governador Paulo Hartung (MDB) em disputar a reeleição.
Partidos que estavam com Hartung, como PSDB, DEM e PDT, acabaram migrando à candidatura de Casagrande. O MDB ficou isolado e vai apoiar a candidatura ao governo da senadora Rose de Freitas (Podemos).
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), ampliou o seu arco de alianças para as eleições deste ano e terá o apoio de 16 partidos, alguns díspares como PT e DEM.
"O que nos une é o que chamamos de partido do Maranhão, dos interesses do estado acima dos interesses partidários", diz Márcio Jerry, presidente estadual do PC do B.
Em São Paulo, Márcio França (PSB) também conseguiu formar uma ampla coligação mesmo tendo assumido o governo do estado há apenas quatro meses. Terá 15 partidos, em sua maioria legendas de médio ou pequeno porte.
Seus adversários vão na contramão. Paulo Skaf (MDB) não tem mais nenhum aliado, e João Doria (PSDB) terá uma aliança de seis partidos, entre eles legendas de maior porte como DEM e PP

João Pedro Pitombo, Folha de São Paulo