sábado, 18 de agosto de 2018

Ainda pior do que a desigualdade no Brasil é a pobreza, diz João Amoêdo

João Amoedo sorri sentado à mesa de uma sala de escritório
O candidato à presidência João Amoedo, do Partido Novo, concede entrevista em escritório no Itaim - Rafael Roncato/Folhapress

O mais rico entre os candidatos à Presidência, João Amoêdo (Partido Novo), que nesta semana apresentou fortuna de R$ 425 milhões à Justiça Eleitoral, afirma que, mais importante do que acabar com a desigualdade de renda no país é combater a pobreza. 
“Qual é o problema da desigualdade? Você acha que se a gente resolver a desigualdade no Brasil é bom?”, rebateu o candidato ao ser questionado sobre o tema. 
“Vamos resolver de uma forma mais simples: vamos pedir para todo mundo que tenha acima de uma determinada quantidade de dinheiro, que mude a sua cidadania e vá morar fora do Brasil. Pronto. Resolveu a desigualdade.”
O candidato é contra o aumento da tributação sobre grandes fortunas. 

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O que achou da repercussão de seu patrimônio após a declaração à Justiça Eleitoral? 
Os comentários foram positivos. Não herdei nada, ganhei com trabalho. Sempre paguei imposto, nunca estive na área pública. As pessoas falam que é insano porque eu poderia estar morando fora do Brasil e não estar me expondo. A única coisa que me preocupa é que tenho três filhas no Rio e acho desnecessária a exposição por causa da segurança. Mas tem o lado positivo. Como eleitor, eu gostaria de escolher alguém que teve sucesso na vida privada e com mérito. Acho que é um indicador importante da capacidade dessa pessoa.
Diante da exposição toda, vai se candidatar na próxima eleição?
É difícil saber. Não estou preparado ainda para tomar essa decisão. Sempre faço o balanço das coisas. 
A desigualdade de renda é grave no Brasil, como pretende combater? 
O pior para mim é a pobreza, mas o principal responsável por essa desigualdade é o Estado brasileiro, porque ele cobra uma carga tributária enorme. E a educação é de péssima qualidade. O ambiente para montar empresas é ruim, muita burocracia, exige muitas licenças e juros altos. O combate a isso é dar mais liberdade para as pessoas e melhorar a educação.
Tem medo de perder uma parte dos eleitores que estão considerando votar no sr. no primeiro turno, mas que possam decidir mudar para Alckmin ou Bolsonaro, de modo a evitar que a esquerda chegue ao segundo turno? 
Esse receio não deveria ser meu. É questão de cada um. Se acham que os outros vão ser melhores administradores e vão fazer um Brasil melhor para eles, cabe a eles decidir. Estou apresentando minha candidatura porque acho que serei melhor. Foi a tese do menos pior que nos trouxe até aqui. As pessoas têm que assumir suas responsabilidades. Nossa dificuldade não é o convencimento. É tornar o projeto mais conhecido, que é o que estamos fazendo pelos eventos e mídias sociais.
Sua candidatura é viável com pouco tempo de TV?
Está tudo indefinido e tem uma vantagem no meu caso: não tenho rejeição. Basta a gente ter um pouco de divulgação, mesmo que seja o patrimônio. Eu não esperava que todas as mídias fossem divulgar tanto isso. Quando tem uma coisa positiva do Novo, não é muito divulgado. Aí tem um negócio que o pessoal acha que é negativo e pinça.
É curioso o seu patrimônio ser mais alto que o do Meirelles.
Achei que o Meirelles fosse declarar mais. Ele já esteve no Bank Boston e é mais velho. Se a pessoa não faz nada e deixa o dinheiro aplicado, tem 20 anos de rendimento a mais. Achei engraçado como a mídia tratou. Mas é importante mostrar para as pessoas que é bom ter alguém que ganhou esse dinheiro trabalhando e está querendo se expor para a política. É diferente porque não é o que a gente está acostumado a ver no Brasil.
Esse número escancara as desigualdades do país?
Deixa eu entender? Qual é o problema da desigualdade? Vamos lá. Você acha que se a gente resolver a desigualdade no Brasil é bom?
Não seria bom? Talvez com reforma tributária?
Vamos resolver de uma forma mais simples. Vamos pedir para todo mundo que tenha acima de uma determinada quantidade de dinheiro mudar a sua cidadania e ir morar fora do Brasil. Pronto. Resolveu a desigualdade. O Japão é muito mais desigual do que o Afeganistão. É absurdo vocês insistirem na tese da desigualdade e achar que alguém, porque tem dinheiro, não pode representar o povo.
Por que o partido não chegou a um consenso sobre aborto e legalização de drogas? Foi o limite do liberalismo do Novo?
Temos um consenso: os candidatos do novo têm liberdade para tomar as suas decisões. Teremos candidatos a favor e contra, porque com isso a gente dá liberdade ao cidadão de fazer a escolha final nestes assuntos. Metade da população brasileira, ou mais, é contra a liberação do aborto. A gente dá a opção ao cidadão. Ele pode escolher um representante que seja contra a liberação do aborto. Tem coisa mais liberal do que você permitir que as pessoas tenham suas próprias opções? Acha que é liberal eu exigir que você seja a favor do aborto?

E as drogas? Estados Unidos e Canadá estão avançando na liberação do uso recreativo do cânabis e movimentando negócios bilionários. Isso ajudaria a fomentar um novo setor e gerar riqueza aqui?
O Uruguai liberou e está aumentando a criminalidade. A Holanda, que já foi mais aberta, está voltando um pouco atrás. O Brasil tem uma série de problemas e eu não gostaria de trazer uma variável a mais neste momento. Tratarei de resolver desemprego, saúde, criança que sai da escola sem aprender, contas desequilibradas e Previdência insustentável. Eu preferia colocar energia nestes pontos. Vamos acompanhar o que é feito no mundo para ter um exemplo do que está funcionando. Depois de um ciclo um pouco maior, aí a gente avalia.
O que sentiu ao assistir o debate ao qual não foi convidado?
Achei que a gente poderia ter agregado muita coisa. 
Como o quê? Por exemplo?
Propostas, posturas, práticas e históricos diferentes. As pesquisas espontâneas mostram que a maioria das pessoas não sabem em quem vão votar e querem algo diferente. Se isso é verdade, porque as emissoras não convidam de fato quem está vindo de fora da política e é diferente e novo, para que as pessoas tenham opção de conhecer? Seria bom para a emissora e para o cidadão. Mas quem tem que tomar a decisão é a emissora. A gente acredita no  livre mercado.
Joana Cunha, Folha de São Paulo