quinta-feira, 19 de julho de 2018

"Uso do VAR será saudável para o futebol brasileiro", editorial de O Globo

Não há dúvida de que uma das estrelas da Copa da Rússia — ao lado de craques como o croata Luka Modric e o francês Kylian Mbappé — foi o VAR (Video Assistant Referee, ou Árbitro de Vídeo). A tecnologia, usada pela primeira vez na Copa do Mundo, revolucionou o sistema de arbitragem, à medida que permitiu ao juiz, ajudado por um assistente, rever num monitor à beira do campo lances duvidosos da partida, reduzindo assim as possibilidades de erros.

É óbvio que a entrada do VAR em campo não significa o fim das polêmicas. Nem do imponderável. E isso ficou claro ao longo da competição. Na partida de estreia da Seleção brasileira, contra a Suíça, por exemplo, reclamou-se de um empurrão no zagueiro Miranda no lance que originou o gol dos suíços, e de um pênalti não marcado em Gabriel Jesus. 

Nos dois casos, o árbitro mexicano César Ramos não acionou o tira-teima — posteriormente, a Fifa informou que considerara os lances normais. Na final da Copa, a falta cometida sobre o atacante Griezmann, que originou o primeiro gol da França (feito pelo croata Mandzukic, contra), não resiste a uma análise em câmera lenta. Mas, pelas regras, não era um caso para o VAR.

Tudo somado, porém, o saldo é altamente positivo — segundo a Fifa, o índice de acertos foi superior a 99%. Sete pênaltis foram marcados depois de o árbitro analisar o replay. Em outros dois casos, as penalidades foram confirmadas com a ajuda do monitor. E, por quatro vezes, o juiz cancelou o pênalti que havia apitado após rever as imagens. Talvez por isso, a Copa de 2018 tenha registrado o recorde de 29 pênaltis — um deles, com a assistência do VAR, na final entre França e Croácia.

O uso da tecnologia para corrigir erros de arbitragem não é inédito. O recurso já é utilizado com sucesso, por exemplo, nas partidas de voleibol. No futebol, em que estreou com o pé direito, há agora que se aperfeiçoar o sistema. O ideal é que, assim como ocorre no vôlei, o técnico do time que se sente prejudicado possa pedir a revisão do lance duvidoso. Tudo dentro de regras pré-estabelecidas, para não atrapalhar o andamento da partida.

Encerrada a Copa 2018, é hora de o Brasil pensar em adotar o VAR, pelo menos nos campeonatos principais. Evidentemente, a estrutura para pôr em prática o Árbitro de Vídeo tem seus custos. Mas eles podem ser equacionados, com planejamento e entendimento entre a CBF e os clubes.

Por enquanto, o combinado é que o VAR será usado nas quartas de final das Copas do Brasil e Libertadores da América. Já é um avanço. Mas a iniciativa precisa ser estendida a outras competições. Ou o futebol brasileiro ficará para trás. O Mundial da Rússia mostrou o quanto o sistema pode ser importante para a obtenção de resultados mais justos. No caso do Brasil, será essencial também para criar uma nova mentalidade em campo, evitando que espertezas e simulações triunfem. Com o advento do VAR, ficará cada vez mais difícil dar um drible no árbitro.