segunda-feira, 16 de julho de 2018

"Revolução e civilização", por João Ricardo Moderno

Não faz sentido perguntar se estamos em guerra, mas sim como vamos ganhá-la, e urgentemente. Barbárie afastou o Brasil da rota da civilização temporariamente


O fim da União Soviética, em 1991, inaugurou uma nova fase da revolução comunista na América Latina, ainda sob a liderança ideológica de Cuba, mas associada à cocaína das Farc, e com os políticos de esquerda que iriam usufruir dessa aliança. Em que medida a cocaína financiou as campanhas políticas que elegeram vários presidentes da República nos diferentes países latino-americanos, resta um mistério. Quais políticos aceitaram o apoio do narcotráfico?

O fato é que o Brasil sofreu uma profunda mudança a partir do narcocinturão geográfico de fronteira formado por Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru e Paraguai, com o Equador e a Argentina lateralmente. Tornou-se o segundo maior consumidor de cocaína no mundo. Foram criadas uma ainda fragmentada espécie de Forças Armadas Revolucionárias do Brasil, de cunho urbano. A guerra assimétrica ceifou mais de 60 mil jovens brasileiros em 2016.

A China reinventa a Rota da Seda na contramão da Rota do Ópio, e o Brasil pavimenta a Rota da Cocaína. Estamos em caminhos opostos de desenvolvimento econômico. As Farc dissidentes têm cerca de mil fuzis, e o Rio de Janeiro pode ter milhares, fora pistolas, granadas e munição quase infinita. Portanto, não faz sentido perguntar se estamos em guerra, mas sim como vamos ganhá-la, e urgentemente. A barbárie afastou o Brasil temporariamente da rota da civilização. Todos os caminhos levam ao elogio das drogas, e todas as campanhas públicas exaltam o consumo livre de entorpecentes. É o front ideológico.

Há uma conjugação do front armado com o front ideológico ou cultural. Portanto, a contrarrevolução das forças da civilização brasileira deve-se dar nos planos policial, político, econômico, militar e ideológico.

Boa parte da deficiência cognitiva das crianças e adolescentes decorre das drogas: destruição do cérebro e da saúde, fobias, interrupção das aulas por tiroteios, morte de parentes e amigos, violência social nas comunidades etc. Portos, aeroportos e rodovias tornaram-se zonas francas do tráfico de entorpecentes. A economia do crime movimenta e destrói centenas de bilhões de reais, e somente uma política econômica verdadeiramente liberal poderá oferecer em massa empregos, renda e oportunidades de empreender para redirecionar a juventude rumo à legalidade e à moralidade.

O comunismo é sempre estatizante, mas a versão brasileira criou o narcototalitarismo, em que o Estado promove o crime. As Forças Armadas são o último bastião da democracia e da civilização brasileira.

João Ricardo Moderno é presidente da Academia Brasileira de Filosofia

O Globo