quinta-feira, 19 de julho de 2018

"A música que educa", por Arnaldo Niskier

Nem sempre as reformas produzidas em nossas escolas foram para melhor. Às vezes, até foram movimentos incompreensíveis, como a supressão da educação artística. Somos um povo que aprecia artes, como o cinema, o teatro e a música. Por que não incentivar isso novamente nas escolas?

Enquanto produz ativamente um movimento teatral em suas instalações, no Rio de Janeiro, o professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira, presidente da Fundação Cesgranrio, diversifica a sua atuação e patrocina um belo projeto de música clássica nas escolas do Rio de Janeiro.

São livros e CDs selecionados pela pianista Carol Murta Ribeiro, que estão sendo distribuídos gratuitamente pelas escolas oficiais, divulgando a vida e a obra de compositores como Bach, Mozart, Chopin e Ravel, entre outros. A seleção foi feita respeitando períodos históricos da música erudita, com obras executadas pela Orquestra Sinfônica Cesgranrio, que revive uma iniciativa de que fomos autores, na década de 80, quando criamos a Orquestra Jovem do Teatro Municipal, com a preciosa colaboração do maestro Davi Machado.

Para se ter ideia da importância desse projeto, basta atentar para a primeira tiragem aprovada: 28 mil exemplares, destinados a alunos do ensino fundamental e médio, numa atividade de iniciação artística de primeira ordem.

Os volumes já estão sendo colocados em mãos de estudantes e professores. O primeiro deles intitula-se “Os barrocos”, abordando a vida e a obra de Antonio Vivaldi, Johann Sebastian Bach e Georg Haendel. O segundo, “Os clássicos”, refere-se aos compositores Haydn, Mozart e Beethoven. O terceiro, “Os românticos”, como não poderia deixar de ser, focaliza a vida de Chopin, Schumann e Franz Liszt. Para completar a série, Carol Murta Ribeiro selecionou a coleção de “Os modernos”, com Claude Debussy, Maurice Ravel e Igor Stravinsky.

Além do precioso tratamento musical da série, os livros apresentam bonitas ilustrações, o que torna a coleção ainda mais atraente.

Se esse trabalho ficasse somente nisso, seria algo incompleto, a nosso ver. Falta o toque brasileiro, que não poderia faltar, mesmo que ficássemos apenas na música clássica. Carlos Gomes é uma figura universal, com o seu clássico “O guarani”, ópera encenada com muito êxito no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção de Sérgio Brito.

Poderemos citar outros autores, como é o caso do padre José Maurício, que tem certamente um lugar garantido nessa lista consagradora.

Estamos nos referindo à música clássica, mas para a lista ser completa é preciso chegar à gloriosa música popular brasileira, de tantos e tão assinalados êxitos. Como deixar de se referir a Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Noel Rosa, para só ficar nesses? Vamos aguardar os próximos passos dos mentores dessa preciosa coleção.

Arnaldo Niskier é professor e jornalista

O Globo