sexta-feira, 27 de abril de 2018

"Joaquim Barbosa vem aí?". por Marco Antonio Villa

IstoE


No Brasil, a história política se repete. E sempre como um misto de tragédia e farsa. Novamente o tema da corrupção vai assumir o primeiro plano da cena eleitoral. Não é uma novidade. Vale recordar que na eleição de 1960 Jânio Quadros se notabilizou pela defesa enfática da luta contra a corrupção. 
Transformou a vassoura no símbolo maior da sua campanha. Teve no jingle “Varre, varre, vassourinha” seu carro-chefe. Quase trinta anos depois, Fernando Collor, o caçador de marajás, também deu ao combate à corrupção enorme destaque. E, assim como Jânio, venceu a eleição. Tanto um como o outro não terminaram seus mandatos. Frustraram os eleitores.
E a corrupção continuou presente na estrutura de Estado. Joaquim Barbosa, hoje, é quem está vestindo essa fantasia. Tem suas particularidades mas veste bem o figurino. Apresenta como principal cartão de visita a sua atuação na Ação Penal 470, o processo do “mensalão”. Foi relator e depois presidiu o STF ainda no decorrer da ação. Ficou muito conhecido. Teve entreveros famosos com o revisor, o ministro Ricardo Lewandovski. Em outros momentos trocou pesadas acusações com o ministro Gilmar Mendes. Acabou, por razões de saúde, se aposentando precocemente. Parece curado tendo em vista a disposição com que enfrenta a atual maratona como pré-candidato.
Lembrei do ex-presidente Epitácio Pessoa. Aposentado, em 1912, segundo sua filha e biógrafa, Laurita Raja Gabaglia, pois “sua saúde, combalida pela crise que determinara a extração da vesícula, desaconselhava-lhe de modo absoluto um regime de vida todo sedentário, como era o de ministro do Supremo Tribunal Federal.” Porém, acabou eleito senador pela Paraíba meses depois e, em 1919, presidente da República. Morreu em 1942, 30 anos após ter se aposentado. Trabalhou apenas 10 anos no STF. Coisas do Brasil.
A permanência da corrupção como importante mote de campanha é preocupante. Demonstra como a longa duração é componente da história do Brasil. Não há país democrático no mundo que numa eleição retome um tema de mais de meio século. É uma clara demonstração de que a corrupção é uma indústria poderosa e que conta com amplo apoio entre as diversas frações da classe dominante. Também evidencia o desejo da cidadania de extirpá-la. E o único caminho encontrado — em um País que ainda tem uma sociedade civil relativamente frágil — é votar em um candidato que se propõe enfrentá-la.