domingo, 18 de março de 2018

"Não culpe o político, ele é a sua cara", por Ascânio Seleme

O Globo

Não adianta dissimular, fomos nós que elegemos homens e mulheres que envergonham o Brasil


Virou esporte nacional bater no Congresso, no Palácio do Planalto, nos partidos e nos políticos de um modo geral. Quem aqui nunca recebeu uma, duas, dez, cem mensagens atacando Brasília, a cidade que chamam de berço da corrupção? Piadas e memes, alguns muito engraçados, entopem nossas caixas de mensagens e WhatsApp. A última que recebi veio de uma amiga com o seguinte teor: “Dizem que colhemos o que plantamos, eu não me lembro de ter plantado tanto político filho da p...”

O pior é que ela, eu e você plantamos, sim, todos estes políticos. Quando falamos de uma democracia representativa, concordamos que todos os eleitos devem ser empossados e aceitamos o resultado das urnas como justo, legítimo e representativo da nossa vontade coletiva. Por isso, vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e o presidente da República são integralmente nossos representantes.

Claro que você pode dizer que o eleitor médio é mal informado e não pensa como você. 

Pode ser, mas ele é tão brasileiro quanto você. E como você ele tem deveres e direitos. 

Dentre estes direitos, o de eleger seus, nossos representantes nas casas legislativas e nos poderes executivos nacionais. Não há nada que se possa fazer quanto a isso. É assim que funciona a democracia.

Como evitar que tantos maus políticos sejam eleitos pelo voto popular? A resposta mais simples e objetiva seria tratar de educar politicamente o eleitor. Mas como, se nem educação formal adequada o país consegue oferecer aos seus cidadãos? O tempo poderá se encarregar disso. Não sei, creio que sim. Mas sempre que penso na evolução política do país me ocorre aquela famosa frase do deputado Ulysses Guimarães: “Se você acha ruim este Congresso, espere pelo próximo.”

O fato é que não se pode atribuir apenas à ignorância a multiplicação de políticos oportunistas, canalhas e ladrões. Ou será que todos os 223.708 fluminenses que elegeram Eduardo Cunha em 2014 ignoravam quem estavam elegendo? Você pode dizer que talvez sim, porque Cunha só ganhou maior visibilidade depois de se eleger presidente da Câmara, um ano depois. Está certo. Mas, então, o que dizer dos eleitores de Paulo Maluf?

Maluf virou verbete tamanho o seu reconhecimento. Malufar, segundo o Dicionário Informal, significa esperteza e malandragem descarada ou encobrir, disfarçar, negar, fraudar. E com tudo isso, 250.296 paulistas o elegeram para uma cadeira na Câmara dos Deputados. Não se pode dizer que todas estas pessoas ignoravam em 2014 quem era o Paulo Maluf que estavam elegendo. Desde 1985, quando perdeu para Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, Maluf é o que é.

E o que dizer de Lula? Foi na sua gestão que ocorreram os dois maiores escândalos de corrupção da História deste país, o Mensalão e o Petrolão desbaratado pela Lava-Jato. Alguém pode argumentar que ele foi o presidente da inclusão, etc. Tudo bem, mas ele também foi condenado a 12 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ainda responde a mais quatro processos que devem adicionar alguns anos a mais na sua conta com a Justiça. Mesmo assim, Lula tem o apoio de mais de 30% dos brasileiros.

Isso aqui não é a Malásia, mas parece. Lá, US$ 681 milhões foram descobertos na conta do primeiro-ministro Najib Razak na sequência de um escândalo de US$ 4,5 bi na agência de desenvolvimento local. Ele disse que o dinheiro da sua conta foi dado por um admirador anônimo, e segue no comando do país. Segundo especialistas malaios ouvidos pela revista “The Economist”, o partido do primeiro-ministro deve ganhar a eleição de agosto, e tudo indica que Razak continuará em seu posto.

Não adianta dissimular e fingir que não é culpa nossa a infestação de ratos no ambiente político nacional. Na Malásia, pode ser, porque lá as eleições são esquisitas. O partido de Razak com 47% dos votos ganhou 60% dos assentos no Parlamento na última eleição. 

Aqui, não. No Brasil, cada voto conta e elegem-se os mais votados. Então, quer uma solução? Arregace as mangas, faça política, converse, debata, candidate-se. Mas apure, outubro já está quase aí.

MELHOR DO MUNDO
A Biblioteca de São Paulo (BSP) é finalista do prêmio de melhor biblioteca do mundo, oferecido pela Feira Internacional do Livro de Londres em parceria com a Associação dos Editores do Reino Unido. A BSP foi erguida onde ficava o antigo Presídio do Carandiru, no centro de uma praça cultural. Enquanto isso, a Biblioteca Parque do Rio permanece fechada e apodrecendo desde 2016. Ela recebia 4 mil usuários por dia e custou R$ 85 milhões.

MINAS NÃO HÁ MAIS
Quem diria que um dia Minas deixaria de ter qualquer relevância política nacional. Não há no estado sequer um político em quem se possa apostar qualquer ficha federal. Terra de Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, Magalhães Pinto, José Aparecido de Oliveira, hoje em Minas sobram Aécio Neves e Fernando Pimentel, ambos réus em casos de corrupção e lavagem de dinheiro.


VERA HOLTZ
Ela não precisa de publicidade, já tem 1 milhão e 300 mil seguidores, mas é meu dever alertar os leitores desta coluna. Vale a pena seguir o Instagram da atriz Vera Holtz. É sensacional.