sábado, 24 de fevereiro de 2018

Ibovespa renova recorde em dia de rebaixamento do Brasil - Índice subiu 0,70%, aos 87.293 pontos; dólar comercial recuou a R$ 3,242


Operador na Bolsa de Nova York - Brendan McDermid / Reuters

Marina Brandão e Ana Paula Ribeiro, O Globo


O Ibovespa, principal índice do mercado de ações local, renovou a sua máxima histórica nessa sexta-feira, apesar do rebaixamento da nota de crédito brasileira pela agência de classificação de risco Fitch Ratings. O indicador avançou 0,70%, aos 87.293 pontos. Essa é a oitava alta consecutiva. Na semana, os ganhos acumulados chegam a 3,3%. Já o dólar comercial recuou 0,21% ante o real, cotado a R$ 3,242 – alta de 0,62% na semana.

A justificativa para a valorização dos ativos brasileiros, mesmo com a piora da nota do Brasil, que mede a capacidade de um país honrar com seus pagamentos futuros, é que o rebaixamento já era esperado. Em janeiro, a S&P já havia feito movimento semelhante. 

Além disso, apesar do rebaixamento, a perspectiva da nota foi alterada de negativa para estável, o que indica que novas mudanças não devem ser feitas no curto prazo.

— Tanto a Bolsa como o dólar retornaram aos seus patamares, motivados pelo fato de a perspectiva do país ter subido de “negativa”, para “estável”. Isso foi recebido bem pelo mercado, que já aguardava e já havia precificado o rebaixamento — avalia Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset.

Na avaliação de Rogério Freitas, sócio da Florença Investimentos, a perspectiva estável também sinaliza de que a Fitch irá esperar o processo eleitoral e a posse do novo presidente, que terá a chance de voltar a implementar as reformas econômicas.

— O mercado até vê como positivo um rebaixamento, porque é uma pressão nos governantes e candidatos. A perspectiva estável mostra que a Fitch vai esperar o processo eleitoral para que quem vença possa agir. Isso também é positivo — disse.

Ari Santos, gerente de renda variável da H.Commcor, lembra ainda que além de já esperado, o rebaixamento tem pouco efeito prático para o movimento de processo de recuperação da economia.

— As empresas que captam recursos lá fora vão pagar um pouco mais. Mas são poucas as empresas que acessam esse mercado. A economia está em um processo positivo, com juros menores, inflação em queda e crescimento, que ajuda a arrecadação — disse.

INFLAÇÃO BAIXA

Os investidores repercutiram de forma positiva os dados da inflação. Foi divulgado o IPCA-15, espécie de prévia da inflação em fevereiro, que ficou em 0,38% – na segunda leitura mais fraca para o mês desde a implantação do Plano Real. Foram anunciados também o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe) – que recuou 0,23% na terceira quadrissemana de fevereiro; e o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), que desacelerou 0,26% na terceira quadrissemana de fevereiro.

— Enquanto o IPCA veio completamente dentro da expectativa e ainda se manteve abaixo do piso do Banco Central, os outros surpreenderam para baixo. Todos esses indicadores apontam para um cenário de tranquilidade e isso ajuda a Bolsa, com o mercado apostando em um novo corte da Selic — avalia Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos.

A estimativa é que o Banco Central faça mais um corte de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros, em março. Atualmente, ela está em 6,75%.

Outro dado que anima investidores é a bandeira tarifária de março. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou também nesta sexta-feira que irá continuar verde, o que pode ajudar a manter a inflação do país no patamar de baixa.

Na Bolsa, o principal destaque positivo foi o desempenho da Magazine Luiza. A empresa divulgou ontem à noite seus resultados do quarto trimestre de 2017 e contabilizou um lucro líquido de R$ 165,6 milhões, acima da expectativa. As ações da companhia subiram 6,84%, a maior valorização entre os papéis do Ibovespa.

Entre os mais negociados, a Vale teve leve alta de 0,89%, a R$ 46,08. No exterior, os contratos futuros da commoditie subiram 1,11%.

A Petrobras também ficou em terreno positivo. A ação ordinária (ON, com voto) subiu 2,58% a R$ 22,65; e a preferencial (PN, sem voto) teve alta de 1,83% a R$ 21,12, seguindo o desempenho do petróleo no exterior.

Na ponta negativa, a BRF teve a pior queda. O prejuízo líquido foi de R$ 784 milhões no quarto trimestre – uma piora ante o resultado negativo de R$ 442 milhões no ano anterior. Suas ações recuaram 8,32%, cotadas a R$ 28,40.

— Nem tudo é ruim para a BRF. Após a saída do CEO da empresa, espera-se que a nova gestão faça uma forte mudança na companhia, com uma gestão mais centralizada, sem tanta mudança de conselhos. A expectativa de baixa inflação dos preços de grãos também pode ajudar a empresa — completou Suzaki.