terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Campanha de Lula sofre novo revés com indiciamento de Haddad


O ex-prefeito Fernando Haddad com Lula - Edilson Dantas / Edilson Dantas/Agência O Globo


Gustavo Schmitt - O Globo



Não bastasse a sucessão de denúncias contra o ex-presidente Lula, condenado em primeira instância a nove anos de seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá, dois de seus principais aliados, cotados para postos-chave na campanha presidencial, estão na mira da Justiça. Na segunda-feira, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por falsidade ideológica eleitoral, o chamado caixa dois. Haddad, que nega a acusação, é cotado para ser um dos coordenadores do programa de governo de Lula. Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ré por corrupção e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal (STF), pode vir a ser a coordenadora da campanha petista.

A decisão da PF ainda enfraquece a possibilidade, discutida no PT, de Haddad ser apresentado como candidato do partido à Presidência, em caso de impedimento de Lula. O ex-presidente pode ter a candidatura impugnada se for condenado, em segunda instância, pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal (TRF-4) no caso do tríplex.

Segundo a Polícia Federal, a empreiteira UTC pagou R$ 2,6 milhões via caixa dois para custear serviços das gráficas LWC e Cândido Oliveira LTDA para a campanha vitoriosa de Fernando Haddad, em 2012. Além do ex-prefeito, outras seis pessoas foram indiciadas: o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o coordenador da campanha de Haddad, o ex-vereador Chico Macena, o ex-deputado Francisco Carlos de Souza, o Chicão, e três pessoas ligadas às gráficas. Vaccari ainda foi indiciado por lavagem.

A investigação que levou ao indiciamento partiu das delações premiadas de Ricardo Pessoa, dono da UTC, e Walmir Pinheiro, executivo do grupo, ambas formalizadas no âmbito da operação Lava-Jato.

Em depoimento, Pessoa disse que foi procurado por Vaccari para quitar uma dívida de R$ 3 milhões que o partido teria com a gráfica, de propriedade da família do ex-deputado Chicão. A PF diz que, após negociar com a empresa, Walmir Pinheiro reduziu o valor para R$ 2,6 milhões. Os pagamentos foram feitos pelo doleiro Alberto Youssef, dono das empresas de fachada Rigidez e Phisical Comércio Importação e Exportação. A PF sustenta que essas empresas repassavam os recursos, com o uso de laranjas. Uma quebra de sigilo bancário apontou pagamentos de R$ 360 mil das duas empresas de Yousseff à gráfica LWC.

O doleiro também fez pagamentos em espécie. Segundo a PF, o dinheiro foi entregue em sacolas e caixas para uma pessoa chamada Chicão, no escritório de Youssef na rua Renato Paes de Barros, no Itaim, em São Paulo. Rafael Angulo Lopes, funcionário de Youssef, afirmou que, em uma das ocasiões, chegou a entregar R$ 200 mil em espécie ao ex-deputado. Segundo a polícia, o dinheiro foi recebido por Chicão em seu carro, um Hyundai Azera, na garagem do prédio.

HADDAD: “COLABORADOR SEM CREDIBILIDADE"

Após os pagamentos, a UTC descontava os valores de sua contabilidade paralela relativa a propinas de contratos que tinha com a Petrobras. Os pagamentos para quitar a dívida do PT foram mencionados nas delações Ricardo Pessoa, Walmir Pinheiro e Alberto Youssef. Procurado, Chicão não foi encontrado.

Segundo consta de relatório da PF, Chicão admitiu ter recebido recursos do doleiro para quitar dívidas do partido com sua gráfica. Contudo, o ex-deputado disse que os valores recebidos seriam referentes a dívidas de campanha do diretório estadual do PT e não de Haddad.

Segundo o delegado federal João Luiz Moraes Rosa, responsável pelas investigações, a campanha do petista gastou mais do que o declarado à Justiça Eleitoral com as gráficas LWC e também a Cândido Oliveira. Na prestação de contas do então candidato, constam gastos de R$ 240 mil com a LWC. A PF oficiou a Eletropaulo, concessionária de distribuição de energia, para saber se houve consumo de energia na sede da gráfica durante a campanha. E constatou que não houve despesa desta natureza no período eleitoral de 2012.

Já Gleisi Hoffmann foi acusada de receber R$ 1 milhão proveniente de esquema de corrupção na Petrobras para sua campanha ao Senado, em 2010. Ela nega as acusações.

A assessoria de imprensa do ex-prefeito afirmou que “não há o mínimo indício de qualquer participação de Fernando Haddad nos atos descritos por um colaborador sem credibilidade, cujas declarações já foram colocadas sob suspeita em outros casos”. Segundo o ex-prefeito, ao longo do processo o dono da gráfica negou ter recebido recursos da UTC para quitar a dívida de campanha.

Já o PT, em nota assinada pelo Gleisi, “manifesta sua solidariedade ao companheiro Fernando Haddad, que foi alvo de manifestação totalmente despropositada por parte de um delegado da PF de São Paulo”. “Factoides como este demonstram a partidarização de setores do sistema policial e judicial, que abusam da autoridade para promover perseguição política”. O PT ainda afirma que “não pode ser mero acaso” o indiciamento do petista a nove dias do julgamento de Lula pelo TRF-4.