domingo, 10 de dezembro de 2017

Depravado, Lula tenta se desvincular de Cabral em pré-campanha eleitoral no Rio. Só se os fluminenses forem suicidas 'esquecerão' que Cabral entrou firme na corrupção após ser cooptado por Lula


Lula cumprimenta moradores de Nova Iguaçu, cidade que já foi governada por Lindbergh Farias - Gabriel de Paiva / Agência O Globo


Fernanda Krakovics e Miguel Caballero - O Globo



Em caravana pelo Brasil para fazer pré-campanha eleitoral e se defender dos processos que enfrenta na Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no Rio na semana passada, mas teve baixa adesão no estado que lhe deu 69% dos votos no segundo turno de 2006, quando foi reeleito. Seu público no Rio foi turbinado pela mobilização feita por sindicatos e pela convocação de servidores de prefeituras do PT e de aliados políticos. Mas os eventos também atraíram eleitores de pleitos anteriores, que se sentem beneficiados pela gestão do petista.

Lula tentou se distanciar do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), que está preso por corrupção e lavagem de dinheiro. O petista foi o principal cabo eleitoral de Cabral nas eleições de 2006 e 2010 — ano em que declarou ser “uma obrigação moral, ética, política” o voto do eleitor fluminense no governador buscando reeleição. Na época, não se cansava de decantar com frequência sua amizade com o peemedebista.

Na semana passada, o tom foi outro. Em Campos, no Norte Fluminense, na noite da última segunda-feira, Lula disse que “o povo do Rio foi traído” pelos políticos que “roubaram o estado”. Na noite seguinte, em Maricá, na Região dos Lagos, afirmou que o Rio tem de “voltar a ter gente honesta” no governo.

— Como é que esse povo (do Rio) foi tão traído por alguns políticos que, em vez de governar, roubaram esse estado? Roubaram a confiança de vocês — disse Lula, em discurso em Campos.

Mesmo reconhecendo a “traição” do estado pelos políticos,o ex-presidente atribuiu a crise por que passa o Rio à Lava-Jato, que, segundo ele, teria quebrado a indústria do petróleo, e à falta de apoio do governo Michel Temer. Os investimentos do governo federal no Rio nos anos Lula foram sempre alardeados como prova da parceria e amizade entre o petista e Cabral.

BOLSONARISTAS CONTRA LULA

No caminho de Lula não faltaram protestos. Tanto em Campos quanto em Nova Iguaçu, na última quinta-feira, simpatizantes do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), outro pré-candidato à Presidência, compareceram com faixas como “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” e “Deus nos livre da esquerda”. Lula está à frente das pesquisas para o Planalto, seguido por Bolsonaro.

Em Campos, Lula fez críticas ao deputado sem citar seu nome. A polarização com Bolsonaro interessa ao petista, e a passagem pelo Rio foi também uma forma de demarcar território onde o adversário é popular.


Simpatizantes do também pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro protestam contra Lula em Nova Iguaçu - Marcio Alves / Agência O Globo


Em três ônibus, Lula e sua equipe chegaram a Campos na noite de terça-feira. O percurso incluiu Maricá, única cidade do estado administrada pelo PT; Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio; e cidades da Baixada Fluminense. A caravana foi encerrada na noite de sexta, na Universidade do Estado do Rio (Uerj), o ato que teve maior público no Rio.

O PT afirma que a viagem e seus eventos foram custeados pelo partido. Essa é a terceira caravana de Lula pelo Brasil este ano, e incluiu o Espírito Santo. A primeira foi pelo Nordeste, em agosto, e a segunda percorreu Minas, em outubro.

Na manhã da última quinta-feira, Lula fez um ato em frente ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, um dos maiores símbolos do esquema de corrupção na Petrobras revelado pela Lava-Jato. O juiz Sérgio Moro condenou Cabral a 14 anos de prisão por recebimento de R$ 2,7 milhões em propinas pelas obras de terraplanagem do empreendimento.

Em abril de 2008, o então presidente Lula participou, ao lado de Cabral, da cerimônia de início das obras do Comperj, que faziam parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe do segundo mandato do petista no Palácio do Planalto.

‘SÓ VIM GANHAR MEU DINHEIRO’

Na quinta, Lula foi barrado e teve que fazer o ato na porta do complexo. A administração chamou a polícia, que fez uma barreira com cinco carros no acesso ao Comperj.

— Se o empresário roubou, ele tem que estar preso. O que não pode é você fechar a empresa. Tem muita gente que roubou, fez acordo e está vivendo uma vida de nababo com metade do que roubou. E quem pagou o pato foram 197 mil trabalhadores da Petrobras que já perderam o emprego. E 50 mil da indústria naval — discursou Lula, em cima de uma caminhonete adaptada para se tornar carro de som pertencente à Central Única dos Trabalhadores (CUT) de São Bernardo (SP), seu berço político.


Palco montado no calçadão de Nova Iguaçu, onde Lula discursou para a militância: em referência a Cabral, ex-presidente disse que políticos do Rio “em vez de governar, roubaram esse estado”; adesão foi baixa e houve protestos - Marcio Alves / Agência O Globo


Uma Kombi do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e Montagem Industrial de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Magé e Guapimirim distribuía sanduíches e bananas para homens que aguardavam a chegada de Lula ao Comperj. Doze ônibus levaram sindicalistas e ex-trabalhadores das obras, paralisadas desde o fim de 2014.

Em Magé, uma moça de 19 anos que segurava uma bandeira com o símbolo da caravana petista riu ao ser indagada sobre sua militância no PT:

— Só vim aqui ganhar o meu dinheiro.

No mesmo ato, Rosângela Barbosa chorou ao dizer que o marido, pintor, está há três anos desempregado. Acompanhada de um filho com síndrome de Down, a aposentada disse acreditar que sua vida vai melhorar se Lula voltar a ser presidente:

— Eu me aposentei por causa dele (Lula). Tenho úlcera varicosa. Ele vai vir e ajudar meu marido.

Em uma mostra do atual isolamento político, Lula foi acompanhado nos palanques basicamente por petistas, como o senador Lindbergh Farias e a deputada Benedita da Silva. As exceções foram o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), ex-ministro da presidente Dilma Rousseff que votou contra o impeachment; e a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).