sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

"Críticas", por Miranda Sá

Fico extremamente feliz quando recebo críticas aos meus textos, divulgados pelas redes sociais. Desta vez desejo responder com este artigo a avaliação, quase uma censura, apontando-me como agressor dos muçulmanos para proteger os israelenses.
Como tento despir-me de qualquer partidarismo com relação aos conflitos do Oriente Médio, faço críticas indistintamente a judeus e árabes, primos irmãos, cujas desavenças são muitas vezes inexplicáveis.
Sou contra, por exemplo, a adoção de Israel à doutrina nazista do “espaço vital”, ocupando militarmente territórios em detrimento dos palestinos; e condeno o tratamento nada civilizado que alguns países árabes dão às mulheres.
Tomo posição, igualmente, contra o militarismo israelita, o apoio dos árabes a terroristas e sua omissão quando da criação do Califado pelo ISIS.
Não faz muito tempo, quando o deputado Roberto Freire ocupava o Ministério da Cultura, defendi-o ao ser criticado por patrocinar uma exposição sobre a cultura árabe e, repeli mais tarde os ataques feitos ao Clube Hebraica por patrocinar um debate com o deputado Jair Bolsonaro.
Esses dois fatos têm semelhanças nas suas diferenças. O Clube Hebraica sempre teve um comportamento mais liberal do que os seus críticos sectários da Confederação Israelita do Brasil, defensora do expansionismo territorial em Israel promovido por extremistas da direita religiosa.
Nada obscurece a minha admiração pelos primeiros ocupantes do pequeno território do Estado de Israel cedido pela ONU por proposta brasileira do chanceler Oswaldo Aranha.
Exultei com a criação dos kibutzim, a luta heroica dos pioneiros pela coletivização da terra e o progresso obtido apesar da adversidade natural em menos de três décadas. Reconheço e admiro o desenvolvimento econômico democrático em pouco mais de 50 anos, primeiro no campo e depois na indústria, ambos sustentáveis, permitindo ao governo garantir subsídios ao desemprego, seguridade social e rendimento mínimo.
De outro lado, não posso negar o meu encanto e respeito pela cultura árabe, noves fora a intolerância do califa Omar que queimou 700 mil livros da Biblioteca de Alexandria, das ditaduras ainda vigentes e da escravocracia.
Entretanto, reservo o meu elogio ao que o Império Árabe ocupante da metade do mundo nos legou. Sua herança cultural excedeu todas demais civilizações na arquitetura, nas ciências e na Medicina. Na literatura, contribuiu com as lendas maravilhosas das Mil e Uma Noites.
Enquanto a Europa católica proibia a dissecação de cadáveres pelos estudiosos da anatomia humana, a medicina árabe mantinha atendimento clínico e criava a hospitalização; obteve notável avanço na cirurgia usando a anestesia.
Deve-se ao sábio Maomé-Ibn-Mousa a invenção do zero, um salto qualitativo e insuperável na Matemática, e, na Química, o Islã nos deixou o álcool, os ácidos cítrico e sulfúrico e o nitrato de prata.
Balanceando estas duas contribuições para os povos, a antiga e a contemporânea, somos obrigados a demonstrar que não agrido nem protejo árabes e judeus; eles nasceram como irmãos, semitas e camitas, e, com a sua origem étnica se bipartiram como canaanitas, israelitas, moabitas, amonitas e fenícios.
Mesmo sob críticas, sugiro que Jerusalém seja dividida entre judeus e palestinos; porque não? Aprendi com Aristóteles que só existe uma maneira de se evitar as críticas: “não fazer nada, não dizer nada e não ser nada”; e fui educado desde a tenra infância a não me meter em briga de família…