sábado, 16 de dezembro de 2017

"A importância da geração térmica a gás natural", por Adriano PIres

O Estado de São Paulo


Este artigo pretende dar um breve panorama da situação energética do Brasil até maio/junho de 2018, levando em conta a necessidade de assegurar um crescimento da nossa economia de 2% a 4%.
O sistema brasileiro contava com reservatórios de usinas hidrelétricas nas décadas de 1970 e 1980 para garantir a segurança do sistema em períodos de baixo nível de chuvas. Com o passar dos anos e sucessivo crescimento da demanda, não foi possível aumentar o número de reservatórios no sistema elétrico. Assim, paulatinamente, houve a necessidade de aumento de geração térmica como fator predominante da confiabilidade do sistema.
Atualmente, o nível dos reservatórios na Região Sudeste é de 18% (novembro 2017) - essa região é onde está a maior concentração da demanda e onde se encontram alguns dos maiores reservatórios. Comparativamente, no mesmo mês em 2016, o nível era de 35,9%. É importante observar que estes 18% de armazenamento equivalente incluem a Hidrelétrica de Ilha Solteira, que não pode deplecionar mais por causa de problemas com a hidrovia existente. O reservatório de Furnas, o maior da região, fechou novembro com 9,46% de seu volume útil.
Já na Região Nordeste, o nível dos reservatórios é de 5,1% (novembro 2017), enquanto em novembro de 2016 era de 9,9% - essa região é a mais "enfraquecida" energeticamente, por causa dos já conhecidos problemas de seca do Rio São Francisco. Esse cenário de chuvas no País em 2017 foi o quarto pior do histórico desde 1931, o que significa que as usinas hidrelétricas estão com nível de geração bem abaixo do desejável. Desta forma, há 22% de probabilidade de que o reservatório equivalente do sistema nacional chegue a 10%, o que é bastante crítico, uma vez que alguns consideram que o nível deveria ser de pelo menos 40% neste período.
Repetidamente, temos chegado ao fim de períodos úmidos com os níveis de reservatórios em torno de 40%/50%, gerando dificuldades para assegurar confiabilidade energética que se repetem ano a ano. Isso ocorre, certamente, pela redução de capacidade de regularização de nossos reservatórios e, portanto, indica claramente a necessidade de introdução de um certo montante da denominada "geração térmica de base", ou seja, geração térmica de última geração, com gás natural (mesmo que GNL), operando em cerca de 70% do tempo e funcionando como um verdadeiro "reservatório virtual".
Vale a pena ressaltar que a simples introdução de bandeira vermelha para o consumidor final é uma medida inibidora de demanda, mas não garante segurança energética. O que realmente a assegura é a colocação em operação de maior montante de geração termoelétrica, o que é sinalizado pelo Custo Marginal de Operação (CMO) vigente, que tem se mostrado, no entanto, bastante volátil, considerando os modelos computacionais que o calculam. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) chegou a determinar o despacho de usinas térmicas fora da ordem de mérito, mas a medida foi aplicada somente na primeira semana de novembro.
Portanto, podemos concluir que, em termos de segurança, provavelmente seremos obrigados a despachar as usinas térmicas mais caras de forma a evitar eventual falta de energia. Ainda assim, um eventual período hidrológico crítico em 2018 poderá levar o sistema a condições extremamente caóticas.
Deve-se, também, registrar que a energia solar e a eólica, embora importantes na composição da matriz energética, são fontes intermitentes e muitas vezes de suprimento aleatório. Primeiramente, observa-se que em termos de energia realmente tem havido participação efetiva de tais fontes, em particular da eólica. Entretanto, elas introduzem, em especial no Nordeste, um nível de intermitência que pode comprometer a confiabilidade do sistema. Por esse motivo, será efetivamente necessário garantir a confiabilidade do sistema com suporte de geração térmica.