quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Igor Gielow: "Estancada ou não, Lava Jato promete ser grande eleitora no ano que vem"

Pedro Ladeira - 20.nov.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 20-11-2017, 12h00: Cerimônia de transmissão de cargo do novo Diretor Geral da PF Fernando Segóvia, no ministério da Justiça. O presidente Michel Temer, o ministro Torquato Jardim (Justiça), o presidente do senado federal, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), o ministro do STF Dias Toffoli e o ex-diretor geral da PF Leandro Daiello participam. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O diretor da PF, Fernando Segovia, cumprimenta o antecessor, Leandro Daiello, sob aplauso de Temer
Folha de São Paulo



Nos fumos decorrentes do incêndio nas fundações políticas brasileiras, em curso livre desde 2013 mas de origem bem mais distante no tempo, uma das poucas coisas discerníveis foi a ascensão do fator Lava Jato como régua para a elegibilidade de um candidato.

Se você duvida, veja Aécio Neves. De líder inconteste do tucanato em 2014, quase eleito presidente com 50 milhões de votos, aplaudido por onde passava, o senador mineiro após ser gravado no caso JBS parece um daqueles robozinhos que monitoram o que sobrou da usina nuclear de Fukushima -radioativo ao ponto da inutilidade, no caso eleitoral.

Ressalta-se, claro, o caráter eleitoral, já que politicamente ele segue bem ativoe ajudando a construir o dissenso que ameaça trincar o PSDB de vez. A marca de ferro quente da Lava Jato, de forma justa ou não, seguiu firme como selo de qualidade para a embalagem de candidatos.

Voltemos ao novembro de 2017, com o governo Temer aparentemente com sua vida garantida até o fim. Como em qualquer discussão política nos dias de hoje, o campo está dividido em duas leituras:

1 - A sangria citada por Romero Jucá sendo estancada por uma combinação funesta de revisões judiciais no STF, trocas de comando no Ministério Público Federal e na PF, além do estrangulamento financeiro de operações. O acordão é pluripartidário: vai do PT de Lula, o magnânimo que perdoa golpistas, ao PMDB que namora o partido do qual foi algoz. Para completar, há fastio popular evidente com a sucessão de escândalos.

2 - A Lava Jato ganhou uma organicidade que a torna impenetrável. Como é uma hidra com muitas cabeças, mesmo o corte de algumas das principais não conseguirá ao fim impedir que ela siga seu curso. A infindável dissecação do cadáver do Rio após sucumbir à turma de Cabral seria prova cabal disso, além dos exemplos pontuais do PT, de Aécio e companhia. Uma delação mais substanciosa é capaz de atomizar nomes estabelecidos há décadas.

Como é dispensável explicar, misture as duas concepções, bata e coe os exageros e imprecisões. Há verdade num enunciado que una tudo isso, mas a fala do novo diretor da PF, Fernando Segovia, sapecando críticas ao Ministério Público e dando o benefício da dúvida à mala do caso JBS atiça de sobremaneira os aderentes da primeira explicação.

Segovia foi infeliz, para ser gentil com o doutor. No ambiente atual, sua fala equivaleu a um agrado ao chefe. Não que estivesse exatamente errado: se tem uma coisa que ajudou a aplicar hemostáticos nas feridas abertas pela Lava Jato foi justamente ocomportamento açodado, novamente apelando à gentileza, de Rodrigo Janot. Mas é preciso ressaltar que a mesma PF corroborou a conclusão da PGR no caso, o que pode sugerir divergências ainda inauditas.

Assim, será preciso acompanhar os próximos passos da Lava Jato para saber se a resultante das duas sentenças acima está pendendo mais para um lado ou mais para outro. Mas é possível inferir algumas coisas, em especial se as pesquisas nas mãos dos bruxos do marketing que ressaltam a força da marca Lava Jato e/ou Ficha Limpa estiverem corretas.

Duas se sobressaem, dado o atual cenário desértico de lideranças do campo governista e adjacências. A primeira é imediatista: a busca pela novidade com "punch" eleitoral, um esforço especulativo que vai de Luciano Huck a João Doria fora do PSDB. A segunda é a volta do balão de ensaio Joaquim Barbosanuma composição com Marina Silva em sua vice.

As combinações são todas muito diferentes, em especial porque só tempo de TV, Fundo Partidário e alianças estaduais são infalíveis como armas para um novato.

E PPS, PSB e Rede não os têm, para ficar na leitura simplória. Mas e se algum dos nomes no mercado disparar para uns 15% no começo do ano? A máquina se adapta.

Enquanto isso, Geraldo Alckmin enfim se mexe em público, como a visita ao feudo dos Campos no fim de semana provou. Se consolidar o PSDB, incerto mas provável, será um polo de atração grande -caciques da sigla já contam algo como quase 10 minutos mesmo sem o PMDB no barco. E parece algo imune à Lava Jato, já que as citações laterais ficaram por isso até aqui.

O que parece líquido é: com ou sem sangria, a Lava Jato segue eleitora importante em 2018.