sábado, 18 de novembro de 2017

"Chile confirma nova tendência política no continente", editorial de O Globo

Em meio a uma profunda divisão no campo da esquerda, ao desinteresse generalizado do eleitor e a escândalos e troca de acusações, os chilenos vão hoje às urnas escolher o sucessor de Michelle Bachelet. Segundo as pesquisas mais recentes, o ex-presidente (2010-2014) Sebastián Piñera, da coalizão de centro-direita Chile Vamos, lidera com folga, alcançando até 45% das intenções de voto.

Dependendo do número de votos em brancos e abstenções, ele poderá se eleger no primeiro turno, se obtiver 50% mais um dos votos. A divisão da esquerda e o escândalo envolvendo sua nora — o Noragate, como é chamado pela imprensa chilena — tornaram inviáveis para Bachelet disputar a reeleição.


O movimento Força de Maioria, de centro-esquerda, tem no ex-senador Alejandro Guillier, com 20% e 25% da preferência do eleitor, o candidato mais bem cotado para disputar um segundo turno com Piñera. Ele apoia as reformas realizadas por Bachelet e prometeu dar prosseguimento à gestão da presidente, inclusive a proposta de revisão da Constituição, a fim de reconhecer as comunidades indígenas e regularizar os direitos dos trabalhadores a negociações coletivas e greves. Guillier também defende propostas polêmicas, como o aumento dos gastos públicos para financiar a Previdência e a tributação compulsória de empregadores, além de apertar a regulação e fiscalização dos fundos de previdência privada.


Beatriz Sánchez, da coalizão de 14 partidos e coletivos de esquerda, é a grande novidade dessas eleições. Ela defende mudanças radicais e prometeu convocar uma Assembleia Constituinte. Carolina Goic, da Democracia Cristã, e Marco Enríquez Ominami, do Partido Progressista e candidato pela terceira vez, completam o quadro fragmentado da centro-esquerda. Os três têm, juntos, cerca de 20% das intenções de votos.

A extrema-direita também tem seu candidato. José Antonio Kast é ultraconservador, crítico da lei que autoriza o aborto em casos como estupro e risco à vida da gestante, e contrário ao acolhimento de imigrantes. Admirador do ex-ditador Augusto Pinochet, recentemente afirmou: “Se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim.”


Já Piñera foi pouco modesto: prometeu tornar o Chile a maior economia do continente, alcançando status de um nação desenvolvida, apoiada na exportação de cobre. Para isso, vai reduzir o peso tributário sobre as empresas e elevar os investimentos, iniciativas para acelerar o crescimento.


Independentemente dos aspectos internos do processo eleitoral chileno, o crescimento de Piñera também se ancora numa tendência mais geral no continente, após o fracasso das gestões de esquerda populista do tipo bolivariana e lulopetista. Os eleitores parecem preferir agora uma administração marcada pelo apoio a uma disciplina fiscal mais austera a fim de gerar crescimento econômico sustentável, como se viu recentemente no Peru de Pedro Pablo Kuczynski e na Argentina de Mauricio Macri.