domingo, 19 de novembro de 2017

Brasil abriga 10% da biodiversidade do planeta


Projeto permitirá compreensão da origem das espécies e abrirá caminho para novos medicamentos: rede global de colaboradores vai coletar amostras - Márcio Alves / Agência O Globo

Sérgio Matsuura - O Globo


A professora Marie-Anne Van Sluys, do Instituto de Biociências da USP, participou da primeira reunião do Earth Biogenome, em 2015, e desde então representa o Brasil no grupo internacional de pesquisadores. Como destacou Harris Lewin, um dos idealizadores do projeto, a participação brasileira no consórcio é essencial, já que o país abriga 10% da biodiversidade do planeta. Das cerca de 9 mil famílias eucarióticas, 40% estão em nosso território.
Em setembro, Marie-Anne organizou, com apoio da Fapesp e da Academia Brasileira de Ciências, um workshop sobre o tema, com a participação de pesquisadores de diversos institutos como o Centro de Referência em Informação Ambiental, o Laboratório Nacional de Computação Científica e a Embrapa. O maior desafio do projeto é conseguir amostras de material genético para o sequenciamento, por isso é essencial atrair centros que possuam grandes coleções.

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— É um projeto muito ambicioso, mas existem muitos trabalhos em andamento. Nós vamos tentar coordenar o que está sendo feito para que possamos tornar essa informação aberta para uso de toda a comunidade científica. Precisamos coordenar os esforços, ou as informações ficam pulverizadas — comentou a pesquisadora.

Marie-Anne explica que a coleta é apenas a primeira barreira a ser vencida, pois é preciso também determinar parâmetros de qualidade. Apesar de inúmeros estudos trabalharem com sequenciamento genético, cada pesquisador faz o recorte necessário para responder às suas questões:

— Isso é comum acontecer, não por displicência, mas pelas necessidades específicas de cada pesquisa.

A pesquisadora também pede pequenas alterações na lei de biodiversidade, que burocratizaram o envio de material genético para o exterior.

A participação brasileira deve ir além de coleta e cessão de espécimes e material genético. Apesar das dificuldades enfrentadas pela comunidade científica, com profundos cortes de investimentos, o país está pronto para participar de forma efetiva do projeto.

— O Brasil não pode ser mero fornecedor de material. Competência nós temos, mas dependemos da infraestrutura. Vamos precisar de investimento — analisa a pesquisadora.

Esta é a mesma percepção de Lewin. E não apenas para a coleta e sequenciamento de espécies nativas, mas como um centro para toda a América do Sul. Segundo ele, a USP e a Unicamp já demonstraram interesse em colaborar com o Earth Biogenome. Além disso, existem outros centros com coleções importantes, como o Museu Emílio Goeldi e o Jardim Botânico.