sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Raquel Landim: "Se a Venezuela der calote, a conta será dos contribuintes brasileiros"

Palácio de Miraflores/Reuters
Venezuela's President Nicolas Maduro speaks during a meeting with ministers in La Guaira, Venezuela September 8, 2017. Miraflores Palace/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS PICTURE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. ORG XMIT: MIR102
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro


Folha de São Paulo

Nos anos Lula e Dilma, o governo do PT reagia com indignação às críticas contra os bilionários empréstimos do BNDES para financiar obras na Venezuela, em Cuba, Angola e outros países.

As autoridades diziam que a elite brasileira tinha complexo de vira-lata e preferia bajular os Estados Unidos e a Europa do que se unir aos demais países pobres.

Com essa retórica inflamada, desviavam o debate e se esquivavam de discutir tecnicamente o risco de emprestar a países que têm um histórico de calotes.

Não é à toa que boa parte das nações africanas e latino-americanas não tem acesso ao mercado de crédito internacional. Portanto, a prudência recomendava, pelo menos, cobrar juros altos e reforçar as garantias, mas não foi o que aconteceu.

Reportagem publicada nesta Folha demonstrou que os técnicos do governo resistiram a aceitar as frágeis garantias oferecidas para a construção do porto de Mariel, mas a decisão política de apoiar o país dos irmãos Castro prevaleceu.

Todas as brechas foram utilizadas para oferecer a Cuba o empréstimo mais vantajoso possível, com subsídio recorde e 25 anos para pagar. É factível imaginar que esse padrão tenha se repetido em outros financiamentos para obras de Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que irrigavam ilegalmente os caixas de campanha do PT.

Agora a fatura começou a chegar. Moçambique deu o primeiro calote no Brasil, deixando de pagar as parcelas de uma obra de US$ 125 milhões. O valor é pequeno, mas a situação ameaça ficar bem mais complicada se atingir Angola e Venezuela.

A repórter Mariana Carneiro revelou que a Venezuela atrasou o pagamento de US$ 262 milhões (cerca de R$ 820 milhões) para fornecedores brasileiros.

O governo enviou uma comitiva para tentar evitar o calote, já que os venezuelanos devem cerca R$ 15 bilhões ao Brasil.

Se o default venezuelano se concretizar, o prejuízo vai cair no colo do contribuinte brasileiro, porque, no sistema de apoio à exportação, todo o risco recai sobre o Tesouro, que tem obrigação contratual de ressarcir o BNDES.

Odebrecht e outras construtoras corruptoras podem até ter tido prejuízos por interrupção de projetos, mas já receberam faz tempo pelas obras que concluíram. Ou seja, a conta será minha, sua, nossa.