terça-feira, 22 de agosto de 2017

Raquel Dodge anuncia 12 nomes e troca postos-chave da Lava Jato

Com O Globo


Raquel fez basicamente três movimentos, que demonstram a intenção da nova procuradora-geral em marcar diferença em relação a Rodrigo Janot e seu entorno
Raquel fez basicamente três movimentos, que demonstram a intenção da nova procuradora-geral em marcar diferença em relação a Rodrigo Janot e seu entorno
Foto: Divulgação
Anunciada nesta terça-feira (22), a 27 dias da posse, a composição da equipe da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, revela trocas estratégicas em postos-chave relacionados aos trabalhos da Operação Lava-Jato. Raquel fez basicamente três movimentos, que demonstram a intenção da nova procuradora-geral em marcar diferença em relação a Rodrigo Janot e seu entorno: 1) será criada uma nova secretaria, de Função Penal Originária no Supremo Tribunal Federal (STF), que vai abarcar o grupo de trabalho da Lava-Jato; 2) secretarias decisivas à operação trocam de mãos; e 3) o grupo da Lava-Jato será capitaneado por dois procuradores da República experientes em casos rumorosos, como os mensalões petista e mineiro e a Operação Zelotes, sem relação com o grupo montado por Janot, o que indica que essa força-tarefa terá um alto índice de renovação.
Raquel é conhecida entre seus colegas por ser discreta e por segurar informação, numa estratégia para fazer valer as decisões tomadas. No fim de julho, escalou os cinco procuradores que a auxiliam na transição até a posse, marcada para o próximo dia 18. Reportagem publicada pelo GLOBO em 16 de julho revelou o perfil de combate à corrupção dos primeiros nomes levados em conta por Raquel para integrar seu gabinete. Nesta terça, ela divulgou o primeiro organograma da Procuradoria Geral da República (PGR) sob seu comando. Estão na equipe os cinco nomes da transição e mais sete novos nomes. Outros ainda serão anunciados nos próximos dias.
A nova procuradora-geral anunciou como titular da secretaria a ser criada a procuradora regional da República Raquel Branquinho, que tem um histórico de atuação em casos de corrupção. Branquinho auxiliou o então procurador-geral Antônio Fernando de Souza no processo do mensalão. Hoje, a procuradora é a chefe administrativa da Procuradoria Regional da República (PRR) da 1ª Região e atua no núcleo de ações originárias, que investiga prefeitos. Colegas de Branquinho relatam que o núcleo teve um incremento de 100% nas ações contra os titulares de Executivos municipais. Já na chefia administrativa da PRR, sua função vinha sendo basicamente cortar custos, diante da crise fiscal.
Também integra o núcleo de ações originárias o procurador regional José Alfredo de Paula Silva, um dos mais jovens do grupo anunciado por Raquel, apesar de já ter experiência no Ministério Público. Ele tem menos de 40 anos e ingressou na instituição em 2003. Agora, estará à frente do grupo de trabalho da Lava-Jato, ao lado do procurador regional Alexandre Espinosa, outro integrante do núcleo de ações originárias. Branquinho, Alfredo e Espinosa auxiliaram Antônio Fernando no mensalão. Os dois, agora, estarão submetidos à secretaria a ser criada por Raquel.

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A expectativa na PGR é que Branquinho faça uma coordenação mais jurídica da Lava-Jato e Alfredo e Espinosa, mais operacional, à frente efetivamente das investigações. Em ofício a Janot, Raquel reforçou convite para que os nove integrantes do grupo de trabalho da Lava-Jato permaneçam na força-tarefa. Desde o início, porém, já não havia a intenção de a maioria dos procuradores permanecer no grupo, assim como estava claro o desejo da nova gestão por renovação. Apenas quatro procuradores – principalmente os que estão há menos tempo no grupo – têm manifestado a intenção de permanecer.
Alfredo, o novo coordenador do grupo, acompanhou a parte final do processo final do mensalão, segundo colegas dele de Ministério Público. Ele já denunciou policiais federais por tortura e sua atuação mais recente foi na Operação Zelotes. Alfredo é descrito por colegas como "prático", "operacional" e "discreto".
Na Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional, que ganhou protagonismo em razão do caráter transnacional da Lava-Jato, entrará Cristina Romanó. Havia a expectativa de que o atual titular, Vladimir Aras, permanecesse no posto, o que não se confirmou. Romanó é procuradora regional da República e tem larga experiência na área internacional. Ela já integrou o quadro de promotores do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia.
O procurador da República Pablo Barreto, da Bahia, será o novo secretário de Pesquisa e Análise. Esta unidade foi decisiva à Lava-Jato, com o desenvolvimento de novas tecnologias de perícia e um trabalho de coleta de provas que embasaram as denúncias de Janot.
O vice-procurador-geral da República será o subprocurador-geral Luciano Mariz Maia, reconhecido por seus colegas pelo trabalho na área de direitos humanos e na academia. Mariz Maia, segundo colegas de Ministério Público, tem parentesco com o senador Agripino Maia (DEM-RN), investigado na Lava-Jato por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro. A atuação do subprocurador, porém, é tida como isenta e mais voltada a questões de direitos humanos, com boa interlocução com os movimentos sociais.
O novo vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, também tem atuação na academia, além de ser atuante na defesa dos interesses da categoria – o subprocurador-geral é vice-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Os outros nomes anunciados por Raquel são Zani Cajueiro, que será secretária-geral do MPU; Lauro Cardoso e Marcelo Ribeiro Oliveira, que vão atuar na secretaria a ser criada; Alexandre Camanho, secretário-geral jurídico; e Sidney Pessoa Madruga, coordenador do Grupo Executivo Nacional de Função Eleitoral.
Até a posse, Raquel deve administrar uma disputa entre subprocuradores-gerais da República que a apoiaram na campanha e que querem espaço na composição da equipe. Essa disputa, por exemplo, influencia na definição do novo corregedor-geral.
Na nota divulgada nesta terça-feira, Raquel destacou a presença de mulheres em sua equipe. "Convidamos para o gabinete especialistas nas matérias que mais afligem a população brasileira atualmente. A equipe precisa estar atenta aos problemas nacionais em todas as suas dimensões e de forma equilibrada", disse a nova procuradora-geral na nota.