terça-feira, 22 de agosto de 2017

Produtividade recorde de soja pode pesar no bolso do produtor

Paulo Muzzolon/Folhapress
Colheita de soja em fazenda a cerca de 215 km do município de Paranatinga (MT)
Soja em MT; produtividade atinge volume superior a 50 sacas por ha na média dos 3 maiores produtores


Mauro Zafalon - Folha de São Paulo


Pela primeira vez num período de quatro anos consecutivos, a produtividade da soja atinge volume superior a 50 sacas por hectare na média dos três maiores produtores (EUA, Brasil e Argentina).

Uma boa notícia, esperada há muito tempo pelos sojicultores, mas os reflexos dessa evolução da produtividade podem não fazer tão bem ao bolso deles.

Tal circunstância, associada ao preço favorável nos últimos anos, que permitiu o avanço da área, vai aumentar a produção mundial. O mercado terá de se adaptar a esse novo cenário.

"Estamos há quatro safras com uma produtividade acima da linha de tendência e podemos atingir a quinta. E isso é um problema quando se olha para o volume da produção mundial."

A avaliação é de Fernando Muraro, da AgRural. Segundo ele, o aumento médio anual do consumo foi de 13,8 milhões de toneladas nas últimas cinco safras. A produção evoluiu 22,3 milhões.



CHUVAS CERTAS

A safra 2017/18 dos americanos, em desenvolvimento, praticamente está garantida. Após circular pelas lavouras dos EUA nos últimos 15 dias, Muraro diz que as chuvas deste mês devem garantir mais um recorde de produção.

O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) prevê 119 milhões de toneladas, mas o volume poderá superar esse patamar, de acordo com ele.

"A safra dos EUA está praticamente fechada. Os olhos se voltam agora para a América dos Sul", diz.

Para Muraro, dois fatores permitem o avanço da produtividade da soja nos últimos anos. Um deles são as excelentes condições climáticas. O outro, o uso cada vez maior de tecnologia na produção.

José Renato Bouças Farias, chefe-geral da Embrapa Soja, lembra ainda o efeito das boas práticas de produção adotadas pelo produtores.



Os cuidados com solo, plantio e acompanhamento constante do desenvolvimento da cultura geraram aumento de produção.

Além disso, os produtos transgênicos de segunda geração visam mais à produtividade do que os da primeira, trazendo ganhos para a produção, segundo ele.

Farias afirma: "Algumas variedades de soja, principalmente as convencionais, já conseguem produtividade superior a 6 toneladas por hectare", ou seja, 100 sacas.
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JBS se diversifica e entra no setor de fertilizantes

A JBS, líder mundial em proteínas, vai entrar em novo setor do agronegócio: o de fertilizantes. A matéria-prima básica para essa nova atividade serão os resíduos orgânicos de suas operações.

A empresa, cujo nome e local da sede não foram divulgados, terá investimentos de R$ 30 milhões. O início das atividades ocorrerá dentro de um ano, de acordo com Nelson Dalcanale, presidente da JBS Novos Negócios.

Para dirigir essa nova empresa, foi contratada a executiva Susana Martins Carvalho.

Os fertilizantes produzidos pela nova empresa que está sendo criada se destinarão a culturas como soja, milho, café, algodão e hortifrútis, segundo Dalcanale.

O fato de o país ter alta dependência de importações de adubo pesou na decisão da empresa de entrar no setor.

Há três meses, os donos da JBS fizeram uma delação premiada na Procuradoria-Geral da República.
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Milho - A oferta de milho poderá ficar apertada no início do próximo ano. A área de plantio da safra de verão 2017/18 deverá recuar 13%, e as exportações vão ser aceleradas neste semestre, segundo informações da Consultoria Céleres.

Soja - Já a área de soja crescerá 2%, somando 34,5 milhões de hectares. A soja ganha espaço porque deverá remunerar melhor dos que as outras culturas. A Céleres estima produtividade de 3.160 quilos por hectare em 2017/18.

Ritmo melhor - As exportações de milho deverão atingir 5,4 milhões de toneladas neste mês, tomando como base os dados já apurados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Se confirmado, esse volume superará em 133% o de agosto de 2016.

Carnes - As vendas externas de carnes "in natura" suína e bovina melhoram neste mês, com aumentos de 10% e 3%, respectivamente, em relação a julho. As de frango recuam 4% no mesmo período, segundo dados da Secex.