Marcelo Justo/Folhapress | |
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, fala em palestra sobre ética |
JOSÉ MARQUES - Folha de São Paulo
Em um dia, mais de mil pessoas haviam curtido e mil retuitado publicação do procurador Helio Telho (15,5 mil seguidores), de Goiás, sobre o Orçamento: "Lava Jato terá R$ 1,6 mi para investigações em 2018. Escolas de samba do RJ terão R$ 13 mi para uma semana de Carnaval".
Uma delas foi a também procuradora Monique Cheker (23,9 mil seguidores), do Rio, que acrescentou: "Tratar o combate à corrupção (verbas, estrutura) como prioridade deve pautar o voto do eleitor".
Telho e Cheker fazem parte de uma parcela do Ministério Público Federal que tem se destacado por comentar medidas do governo, ações de políticos e até de ministros do Supremo Tribunal Federal em redes sociais, onde também defendem a Lava Jato e causas ligadas ao trabalho.
Os perfis são marcados como "conta verificada"–ou seja, "de interesse público" e "autêntica", segundo o Twitter. O Conselho Nacional do Ministério Público recomenda aos procuradores que não façam nas redes pronunciamentos oficiais sobre casos em que atuam, publicações que possam ser percebidas como discriminatórias. É pedido que atuem "com reserva, cautela e discrição".
As recomendações não são obrigatórias. Vedada mesmo é atuação político-partidária, o que não inclui críticas a ideias, projetos e programas, mas "ataques de cunho pessoal" a lideranças e partidos.
Deltan Dallagnol (130 mil seguidores no Twitter e 595 mil no Facebook) e Carlos Fernando dos Santos Lima (31 mil seguidores no Facebook), ambos da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, geram bastante repercussão.
Eles rebatem ataques, criticam editoriais e medidas dos três Poderes. Quando o Supremo libertou o ex-ministro petista José Dirceu, Dallagnol listou decisões que mantiveram prisões preventivas de réus em casos como o de "posse de menos de 150 gramas de cocaína" e questionou o "tratamento diferenciado".
'DIREITO DE FALAR'
Lima passou a usar a hashtag #quemnãodevenãoTemer e #2018iscoming ao reclamar das pessoas que acha serem inimigos da operação. Em entrevista à Folha, disse que está exercendo "o direito de falar" e que se posiciona a favor de "limpar as eleições para ter uma democracia forte".
Monique Cheker faz constantes referências ao ministro Gilmar Mendes (STF). Só em junho e julho, foram 50 menções ou retuítes. Ao compartilhar reportagem sobre encontro dele com o presidente Michel Temer, indagou: "Há, dentre as competências de um ministro do STF, o papel de consultor do presidente?".
Há, dentre as competências de um Ministro do STF, o papel de consultor do presidente? https://twitter.com/g1politica/status/880214763296493568 …
Procurada, ela disse que o perfil não é extensão do trabalho, mas "uma rede pessoal com enfoque voltado a questões jurídicas e fatos em geral, os quais considero relevantes, no exercício da cidadania e liberdade de expressão". O retorno que recebe, afirma, é em geral positivo.
O procurador Fernando Rocha (6.600 seguidores), do Rio Grande do Norte, fixou uma enquete no alto da linha do tempo de seu perfil: "Ano que vem tem eleição! Vc votaria no parlamentar que imunizar Michel Temer do processo por corrupção?".
Ano que vem tem eleição! Vc votaria no parlamentar que imunizar Michel temer do processo por corrupção?
Rocha afirma que seu perfil é pessoal e não aborda casos sob sua responsabilidade. "Tenho uma verve voltada ao combate à corrupção. Ganhei muitos seguidores porque é o tema do momento."
Telho diz que seu perfil é para opinião pessoal e "assuntos de interesse público". "Nem apoio nem faço oposição a partido ou a candidato, nem posto ataques a eles."
No Pará, o procurador Alan Mansur (17 mil seguidores), diretor de comunicação da Associação Nacional dos Procuradores da República, diz que usa as redes para "potencializar" seu trabalho e criar um canal com a população.
Afirma que, ao publicar, pensa que qualquer post pode ser reproduzido em jornal. "Não vou me sentir incomodado por publicarem uma crítica que fiz a um senador, deputado ou a um presidente."
Procurado, Deltan Dallagnol não se manifestou.