terça-feira, 22 de agosto de 2017

Empresas buscam IPO no exterior devido a custo alto no Brasil

Maria Cristina Frias - Folha de São Paulo


Diego Padgurschi/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL - 09-05-2015: Gráfico das recentes flutuações dos índices de mercado no pregão da BM & F Bovespa Bolsa de Valores de Sao Paulo apos o anuncio da anulacao do impeachment. - (Diego Padgurschi /Folhapress - MERCADO)
Custos ligados à ofertas públicas no Brasil estão entre fatores que levaram empresas a fazer IPO fora


O custo de lançar ações no Brasil e um mercado com receio de empresas sem histórico fazem com que companhias médias deixem de abrir capital no Bovespa Mais, segmento de iniciantes, e procurem a Bolsa de Nova York.

A Decolar.com anunciou que protocolou o pedido no órgão americano equivalente à CVM para ter ações negociadas nos Estados Unidos.Em abril, a Netshoes abriu capital também em Nova York.

Essa iniciativa se explica por haver mais investidores que se interessam por empresas de tecnologia no exterior que aqui, afirma Cristiana Pereira, diretora da B3.

A presença desses negócios na Bolsa é baixa e não há parâmetro de comparação para o desempenho dos papéis.

"Aqui, investe-se em companhias que já dão resultado positivo e que têm estrutura."

Exigências e custo para entrar no segmento do Bovespa Mais são iguais ao de outros mercados, diz ela. Essa ideia não é unanimidade.

"Valores aqui são mais elevados —não o que se paga à B3, mas aos advogados, auditores, implementação da área de relações com investidores", diz Andrew Storfer, diretor-executivo da Anefac (associação de executivos).

Nos EUA, o mercado tem mais escala, e esses serviços custam menos, segundo ele.

As exigências são parecidas, afirma Vinicius Correa, vice-presidente da Apimec.

"Para valer a pena abrir capital, tem de ser oferta grande, de R$ 1 bilhão, e ainda que se façam esforços no Bovespa Mais, não é vantajoso."


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Não é de aço

A Tramontina, fabricante de produtos para a casa, desacelerou sua expansão no primeiro semestre deste ano, afirma o presidente do grupo, Clovis Tramontina.

O crescimento na primeira metade de 2017 foi de 5% —bastante abaixo dos 17% projetados no início do ano.

"Em fevereiro, pela primeira vez, nenhuma das fábricas atingiu sua meta."

A área de ferramentas foi uma das maiores responsáveis pela desaceleração: recuou 30% no período.

A empresa também concentra esforços em ampliar a venda de panelas de inox, segmento que responde por 10% da receita. A fábrica dedicada ao produto, com capacidade para produzir 400 mil itens por mês, tem ociosidade de 30%.

"A crise brasileira é de confiança, embora hoje a economia esteja se descolando da política. Temos de trabalhar e falar menos de Lava Jato. O importante agora é resolver o desemprego."

O grupo também reduziu sua velocidade de investimentos em 25% neste ano —em geral, o nível de aportes é de 10% da receita anual.

A previsão, porém, é fechar este ano com alta de 9,5% e retomar o ritmo de expansão e de investimentos em 2018. "Nunca paramos de investir, o mercado é cíclico. Queremos estar prontos quando a crise passar."

R$ 4,75 BILHÕES
foi a receita total da Tramontina em 2016, alta de 13%

18 MIL
itens tem o portfólio

10
são as fábricas no Brasil, além de uma nos EUA

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Compras adiadas

A retração da saúde suplementar e a crise fiscal dos Estados derrubou a demanda por equipamentos para saúde no primeiro semestre deste ano, segundo Carlos Goulart, presidente da Abimed (associação do setor).

O consumo aparente —soma de produção local e importações, menos exportações— caiu 12,3% no período.

O índice chegou, em fevereiro, a seu pior nível desde 2012. Desde então, a demanda tem se recuperado, mas segue em um patamar baixo.

"São produtos que, em uma crise, podem ter sua compra postergada."

A investigação de empresas e associação do setor pelo Cade, por suspeita de formação de cartel, não teve impacto comercial, segundo Goulart, que também foi acusado pelo órgão.

Editoria de Arte/Folhapress
MÁQUINA DE SAÚDEConsumo aparente* de equipamentos médico
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Viagens e negócios

A Flytour Viagens, braço de de lazer da operadora de turismo Flytour, deverá investir cerca de R$ 24 milhões no ano que vem, segundo o presidente, Michael Barkoczy.

O valor é 20% maior que o destinado a aportes em 2017.

A maior parte será investida em tecnologia e formas de pagamento, além de treinamento e dos eventos organizados pela companhia para oferecer pacotes com desconto a consumidores.

"Trazemos companhias aéreas, hotéis, e agências aos feirões, e todos reduzem os preços por três dias", diz ele.

"Os feirões representam 15% do nosso faturamento, que deverá terminar o ano de 2017 em R$ 450 milhões", afirma o executivo.
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Menos que o... O plano do Ministério de Minas e Energia é que a União fique com cerca de 45% das ações da Eletrobras, após a capitalização anunciada na segunda-feira (21).

...controle Atualmente, a União detém diretamente 40,99% das ações da empresa. O BNDES tem 18,82% e fundos federais contam com outros 3,45%.

Ação dourada O governo federal deverá manter uma "golden share" (ação de classe especial que dá direito de veto em votação de assuntos estratégicos).
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com FELIPE GUTIERREZTAÍS HIRATA e IGOR UTSUMI