quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Apesar de combustível e luz, inflação fica abaixo do piso da meta pela 1ª vez

Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Consumo de combustíveis cresce em fevereiro, diz ANP
Posto em São Paulo; alta nos preços de combustíveis pressionou a inflação de julho


Folha de São Paulo

Após ter registrado deflação em junho, a inflação no país voltou a subir em julho, divulgou o IBGE nesta quarta-feira (9).

O IPCA, índice oficial de inflação do país, teve alta de 0,24% em julho. Os vilões do mês foram justamente os que deram alívio no mês passado.

Combustíveis e energia elétrica, que tiveram quedas em junho, voltaram a subir no mês seguinte.

No acumulado de 12 meses encerrados em julho, o índice ficou em 2,71%, mais alto que a previsão dos analistas, de 2,66%.

É a primeira vez em dez anos que o índice em 12 meses fica abaixo de 3%, o piso da meta do governo federal. Essa meta passou a ser adotada em junho de 1999.

Atualmente, a meta de inflação do governo é de 4,5%, com variação de até 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A inflação ficou abaixo do centro da meta nas 13 capitais pesquisadas pelo IBGE.

Antes disso, o índice em 12 meses já havia sido menor em dezembro de 1998 e janeiro 1999, quando atingiu 1,65%.

No acumulado dos sete meses do ano, a alta foi o 1,43%, a mais baixa para o período desde 1994, o início da série histórica medida pelo IBGE.

A alta dos combustíveis promovida pelo governo de Michel Temer e a mudança da bandeira tarifária nas contas de luz reverteram a queda de junho e pressionaram o índice de preços em julho.

O governo autorizou aumento no imposto nos combustíveis em 21 de julho.

Mesmo tendo ocorrido no fim do mês, a medida teve impacto no IPCA porque a gasolina tem peso importante no indicador. Alimentos, na outra ponta, deram alívio, devido à melhor safra.

Em junho, o país teve a primeira queda de preços —chamada de deflação— em 11 anos, ao registrar variação de 0,23%, algo que não era visto desde 2006.

Na ocasião, a queda da conta de luz, da gasolina e dos alimentos ajudaram reduzir o índice.

O resultado de julho foi o melhor para o mês desde 2014 (0,01%). O dado do mês veio acima do que previam analistas consultados pela agência Bloomberg, que estimavam IPCA em 0,19%.




CRISE E ALTA NOS PREÇOS

A energia elétrica teve o maior impacto individual, com alta de 6% em julho. A gasolina subiu 1,06% e o etanol, 0,73%. Os combustíveis tiveram aumento de PIS/Cofins.

Os chamados preços administrados ou preços monitorados, cujas altas são aprovadas pelos governos, pressionaram a taxa de julho.

Além da energia e dos combustíveis, subiram por exemplo os planos de saúde (1,06%), taxa de água e esgoto (1,21%), ônibus interestadual (2,15%) e gás de botijão (0,65%).

Já está previsto para agosto a mudança da bandeira tarifária na conta de luz para vermelha, mais cara, em substituição a amarela que está em vigor atualmente. também estão previstas altas de pedágio e gás encanado em algumas partes do país.

A crise tem feito desabar a inflação no Brasil. O desemprego e o endividamento das famílias derrubaram o consumo de produtos e serviços no país.

Segundo o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves, a despeito de oscilações pontuais, alguns segmentos têm registrado quedas de preços em razão da demanda mais baixa por produtos e serviços.

Esse fator, diz ele, ocorre inclusive com alimentos, que registram queda de preços por conta da safra melhor e também porque as pessoas têm escolhido produtos mais baratos para sua cesta de compras.

Em julho, segundo Gonçalves, a demanda pior teve impacto também nas quedas de roupas femininas (-0,95%) e infantil (-0,87%) e automóveis usados (-0,93%) e novos (-0,64%). Estacionamento (-0,65%) e aluguel de veículo (-1,88%) também tiveram queda.

"Além da safra recorde, há um componente de demanda que influencia no consumo de alimentos e pressiona os preços para baixo. No caso dos serviços, eles têm impacto porque as famílias acabam segurando gastos", disse Gonçalves.

Apesar da crise, foi somente neste ano que a inflação realmente começou a cair. No ano passado, quebras de safras e altas no preço da energia elétrica impediram a queda de preços na economia. Os vilões de outrora são hoje componentes da queda de preços.

Mesmo com a desaceleração, o índice sofre impacto de altas pontuais desses componentes, como ocorreu neste julho.

Foi em abril deste ano que a inflação acumulada em 12 meses ficou abaixo do centro da meta do governo pela primeira vez em sete anos. Isso não ocorria desde dezembro de 2010.

Em agosto do ano passado, a inflação em 12 meses estava em 8,97%. A partir daquele mês, a taxa anualizada iniciou trajetória de desaceleração constante.