sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A segunda chance de Temer… e o circo de horrores

Com a vitória na Câmara, Temer conquistou uma nova oportunidade para reorganizar a base e seguir na aprovação das reformas. Resta saber como se comportará daqui em diante um Congresso que só se move ao sabor de suas conveniências e interesses mais mesquinhos


Crédito: Caio Guatelli
O presidente Michel Temer ganhou muito mais do que uma sobrevida. Ao vencer o embate no plenário por 263 votos a 227 e mandar para o arquivo a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra ele por corrupção passiva, o governo exibiu musculatura política para reaglutinar as forças no Congresso e conseguir manter-se na trilha da aprovação das reformas necessárias ao País, como a da Previdência, a Tributária e a Política. Por isso, o triunfo na Câmara constituiu mais do que uma simples vitória. Foi a vitória da responsabilidade contra aqueles interessados em manter o País debaixo da névoa oportunista da instabilidade. Tudo para poderem voltar em 2018 na condição de salvadores da Pátria – de araque. “Pela votação que tivemos (263 votos), falta pouco para chegar ao quorum constitucional (308 votos)”, comemorou o ministro Moreira Franco. Ao contrário do que alardeia a oposição, em seu alarido renitente, o governo demonstrou ser capaz de domar as rédeas da governabilidade. A sensação entre os governistas é que Temer, hábil na ação de bastidor e mestre na arte da articulação política, soube medir o pulso do Parlamento conseguindo, com isso, pavimentar o terreno para as próximas batalhas.
FACES DA MESMA MOEDA Rodrigo Maia articulou a favor de Temer, embora ainda sonhasse com o Planalto (Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
Vencida a primeira etapa, o Planalto já prepara o que internamente chama de segunda fase do governo. Nos próximos dias, serão traçadas metas destinadas a solucionar a crise fiscal – prioridade zero do governo no momento. No campo político, onde todo cuidado é pouco, a ideia é apressar as votações da agenda econômica, estabelecida desde o início do mandato. Evidente, no horizonte, ainda se descortina uma possível segunda denúncia do procurador-geral contra Temer. Mas os aliados do governo calculam que ela virá com um peso bem menor – na verdade, a peça jurídica perde força a cada átimo de tempo, na ritmada contagem regressiva para a despedida de Janot do cargo. Entre os auxiliares do presidente, reina a convicção de que Temer não apenas conquistou um resultado expressivo, ao enterrar a primeira denúncia contra ele formulada pela PGR, como saiu da votação na Câmara muito maior do que entrou.
Ajuda da oposição
A sessão da Câmara transcorreu em clima de tensão. Afinal, para que o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), favorável ao encerramento da investigação, fosse aprovado, o governo precisava manter em plenário 342 parlamentares. A oposição fez o diabo para derrubar o quórum necessário para a votação. Apesar de estarem na Câmara e até discursarem da tribuna, os petistas e seus aliados insistiam em não registrar presença na Casa. Esse jogo, contudo, não funcionou por um grave erro de cálculo dos oposicionistas: em dado momento da discussão, produziu-se a impressão entre os partidos contrários a Temer de que eles poderiam vencer a queda-de-braço com o governo. Não foi o que aconteceu. E, ao fim e ao cabo, como eles resolveram participar do exame do relatório, garantindo o quórum qualificado, mesmo que indiretamente, acabaram por contribuir para o êxito da estratégia governista.
NO BRAÇO Deputados da oposição e da situação discutem no plenário
Independentemente de quem tenha se sagrado vitorioso, o processo de votação foi um verdadeiro circo de horrores. Escancarou a todos a face mais tenebrosa do Congresso brasileiro: a de um colegiado composto por parlamentares que só se move ao sabor de suas conveniências e interesses mais mesquinhos. Desprovidos de qualquer decoro, deputados da oposição chegaram a arremessar para o alto uma nota de US$ 100 que estampava o rosto do presidente da República. Sobre ela estava gravada a frase: “Fora Temer Golpista”. A pantomima, no entanto, não escolheu colorações partidárias. O deputado governista Wladimir Costa (SD-PA), celebrizado por tatuar o nome de Temer no ombro, fez do plenário seu picadeiro particular. Apareceu com dois pixulecos do ex-presidente Lula nas mãos, dirigiu-se à bancada do PT e começou a bater um boneco contra o outro. A confusão se instalou quando o deputado petista Paulo Teixeira (SP), da tropa de choque lulista, partiu para cima de Costa e estourou um dos bonecos infláveis, dando-lhe uma dentada. E o pior ainda estava por vir. Na hora da votação, o deputado da tatuagem protagonizou outro papelão: foi flagrado mantendo uma conversa por whatsapp com uma mulher na qual pedia “nudes” a ela. “Mostra a tua bunda. Vai lá, põe aí garota”, escreveu. Durante a votação, mais bizarrices: enquanto um deputado do PMDB afirmava votar pela “colisão” – ato de colidir – querendo dizer “coalizão”, petistas antecediam seu voto com o bordão “Diretas, Já” ou “Lula 2018”, como se sobre um palanque estivessem.
PICADEIRO Deputado petista morde pixuleco, enquanto aliado que tatuou Temer no ombro quer nudes no whatsapp e outro chega tarde ao presídio porque sessão demorou para terminar
Deputado presidiário
Tão ou mais lamentável foi a circunstância da participação do deputado Celso Jacob (PMDB-RJ). Ele encontra-se preso na Papuda, em Brasília, e obteve autorização judicial para trabalhar de dia no Congresso e se recolher depois das 18h ao presídio. Por conta da votação, no entanto, que terminou depois das 20h30, ele teve que chegar mais tarde à cadeia. Surreal, para dizer o mínimo.
Atuando como bedel de colegiais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dava puxão de orelhas em seus colegas a cada confusão ou declaração mais exacerbada. “Aqui não existem organizações criminosas, existem partidos políticos”, afirmou Maia no começo da votação. “É essa imagem que vocês querem transmitir à opinião pública?”, berrava aos microfones Maia, enquanto mais uma deprimente confusão irrompia no plenário.