quarta-feira, 5 de julho de 2017

Ruy Castro: "Receita de marmelada"

Folha de São Paulo


Pedro Ladeira/Folhapress
Sessão no plenário do STF para decidir se mantém ou não liminar que determina o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado
Sessão no plenário do STF


O STF entrou em recesso na sexta-feira (30) e só voltará no próximo dia 1º/8. Serão 30 dias difíceis para quem se habituou à transmissão de suas sessões pela TV com a duração de, às vezes, 6 horas —em que o destino do Brasil parece por um fio, até que um ministro "pede vista", a decisão crucial vai para as calendas e o Brasil é obrigado a seguir seu destino por conta própria.

Diante da naturalidade com que aprendemos a acompanhar essas maratonas televisivas com Gilmar Mendes e grande elenco –sempre generosos diante de criminosos inocentes–, pergunto-me se conseguiríamos resistir a debates tão longos protagonizados por outras categorias.

Seria tolerável, por exemplo, uma sessão de 6 horas entre juízes de futebol discutindo as regras do jogo para dirimir um lance mal explicado ou uma acusação a um jogador? De repente, um juiz invoca a regra de que, numa cobrança de pênalti, o goleiro deve estar com os pés em cima da linha —mas, e se ele estiver com um dos pés dentro do gol e defender o chute? Vale a defesa ou manda repetir? E se outro juiz, citando parágrafos e incisos, remeter ao peso original da bola que, em 1900, se media em onças —mas, se uma onça está entre 0,02 kg e 0,03 kg, como estabelecer uma jurisprudência? Assim são as sessões do STF.

Será que suportaríamos 6 horas de médicos discutindo a cirurgia de próstata de um paciente, com referências à possibilidade de incontinência e sugestões de próteses para mitigar a de impotência? E se for uma sessão de economistas dizendo que o mercado "está nervoso", a Bolsa "despencou", o dólar "disparou" e o Estado precisa "enxugar os gastos"?

Acho que não aguentaríamos nem 6 horas de chefs de cozinha falando de molhos, temperos e sobremesas. A não ser que o assunto fosse receita de marmelada.