sexta-feira, 21 de julho de 2017

"Nós contra eles? Em que lado da moeda está Lula?", por Antonio Carlos Prado


Crédito: Divulgação

IstoE

Revelou-se para o Brasil, na semana passada, o paradoxo dos pronomes pessoais. Ou melhor: a fantasia pronominal. Mais claro ainda: a mentira. Mentira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que falsamente se alardeia pobre nos palanques para iludir, com a demagogia e o populismo de sempre, os corações e as mentes de brasileiros que são pobres de verdade ou toureiam a condição de classe média que vai empobrecendo.
O rei está nu, e agora até os mortos sabem que Lula é a cigarra fingindo-se de formiga. A mentira em questão, como toda mentira, mostrou suas pernas curtas quando na quarta-feira 19 o Banco Central comunicou ao juiz Sergio Moro que cumprira parte de sua determinação de bloquear recursos financeiros do ex-presidente e que também já promovera o sequestro e arresto de alguns de seus bens. Vinte e quatro horas depois, o Brasilprev, do Banco do Brasil, avisava que tornara indisponível cerca de R$ 9 milhões de Lula, distribuídos em dois planos de previdência.
A coisa é de pirar, é meio esquizofrêanica, é teatro do absurdo: Lula se diz “nós” mas é “eles”
Eis como formou-se o pardoxo: o BC bloqueou R$ 606.727,12 em quatro contas bancárias de Lula, existentes no Bradesco (R$ 63.702,54), Itaú (R$ 21.557,44), Banco do Brasil (R$ 397.636,09) e Caixa Econômica Federal (123.831,05). O sequestro e arresto de propriedades envolveram cinquenta por cento de três apartamentos e um terreno, todos localizados na cidade paulista de São Bernardo do Campo, onde mora o ex-presidente (os outros cinquenta por cento estão fora da ação penal porque pertenciam a Marisa Letícia, já falecida).
Entraram ainda nesse rol dois automóveis: um Ford Ranger LTD e um Omega CD. Quanto aos planos de previdência bloqueados, um deles está inchado com R$ 7.190.963,75 e o outro guarda R$ 1.848.331,34. Pois bem, vindo à tona essa notícia, veio também a perplexidade: “mas Lula não se diz pobre?”; “mais que pai dos pobres (slogan de Getúlio Vargas do qual ele se apropriou), o ex-presidente não se coloca pessoalmente como pobre?”; “e por acaso pobre ou mesmo gente da classe média têm seiscentos mil reais depositados em conta corrente, como se tal quantia fosse troco que se esquecesse adormecido?”. Nessa toada o espanto cresceu, cresceu e virou o paradoxo dos pronomes referido no início desse texto.
Eu sempre lidei bem com pronomes pessoais e sei distingui-los:
Eu
Tu
Ele, Ela
Nós
Vós
Eles, Elas
Apesar de bastante familiarizado com tais pronomes, confesso que me senti um tanto confuso. Não, não foi Sergio Moro quem me confundiu não, quem me atrapalha é Lula. Se ele encontrar um caixote pela frente, sobe no dito cujo e discursa, e não há discurso no qual não esgoele o surrado bordão “nós” contra “eles”, “eles” e “nós”, a terceira pessoa do plural contra a primeira pessoa, também do plural, ou vice-versa.
Por “nós”, na gramática da intolerância formulada por Lula, entenda-se todos aqueles que concordam com ele, todos aqueles que o ex-presidente traduz como pobres. Por “eles”, seguindo ainda a cartilha lulista, são os indivíduos que não gostam do PT, e então, segundo tal regra radical e obtusa, são rotulados de “burgueses”, “ricos”, “coxinhas”. Ser “eles”, para Lula, é ser “elite”.
O “nós” contra “eles” vale para a questão do impeachment de Dilma Rousseff, vale para quem crê ou não crê em sua santa inocência, mas abrange sobretudo a questão de dinheiro – relembrando que tudo é fantasia e populismo, que o cerne da questão (no caso do PT é xis do problema mesmo) consiste em estar ou não estar “fechado” com o “companheiro”.
Se “nós” são os desvalidos e “eles” são a elite, dá para Lula se encaixar no primeiro pronome, tendo R$ 606 mil em conta corrente, R$ 9 milhões em previdência, mais imóveis e carros? Sinceramente, é claro que não dá. A coisa é de pirar, é meio esquizofrênica, é teatro do absurdo: Lula se diz “nós” mas é “eles”!
E com certeza tem milhões de “eles” espalhados pelo Brasil que, vendo agora o que Lula tem, bem que gostariam de ser “nós” – não o “nós” de pertencer ao PT, mas o “nós” em matéria de patrimônio e grana. E, falando-se em dinheiro, a partir do cacife de Lula exibido publicamente, torna-se inevitável a indagação: de que lado da moeda ele está?
Lula perdeu a munição de palanque. Caiu-lhe a máscara. Está órfão do pronome “nós”
Não se trata, aqui, de ser contra a riqueza de ninguém, desde que ela tenha sido conquistada, bem entendido, pelo mérito e não pela gatunagem, sobretudo a que deixa a Viúva à mingua. O nó é que as posses de Lula, segundo o Ministério Público Federal e o juiz Moro, são fruto da mais ampla e acabada rapinagem. E tanto é assim que a Justiça requereu cautelarmente o bloqueio e o arresto já efetuados, e ainda há mais a bloquear.
A aritmética é a seguinte: quando condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, no processo do tríplex dado e reformado pela OAS, Moro também estabeleceu uma “multa” de R$ 16 milhões – mais ou menos o cálculo do quanto rendeu a Lula e a “agentes petistas” a maracutaia das propinas na Petrobras.
Desses R$ 16 milhões, a Justiça já bloqueara o valor do tríplex, e, agora, bloqueia o valor do terreno, dos dois carros, dos três apartamentos (um deles é onde o ex-presidente mora), o saldo nas quatro contas correntes e nas duas previdências. A soma de tudo que foi tornado indisponível resulta em cerca de R$ 15.644.000,00.
Assim, para se chegar aos R$ 16 milhões, faltam somente R$ 356 mil. Por enquanto, Lula não perdeu definitivamente nada do que lhe foi confiscado, mas, por outro lado, não pode dispor sequer de um centavo – deixará de ser dono no momento em que o TRF do Rio Grande do Sul confirmar a sua sentença condenatória. Quando se fala, no entanto, que o ex-presidente ainda não perdeu nada, há de se fazer uma importante ressalva. Ele perdeu, sim, a sua principal munição de palanque. Caiu-lhe a máscara. Lula está órfão do pronome “nós”.