terça-feira, 4 de julho de 2017

"Brasil está submetido ao terrorismo do medo", por Carlos Fernando dos Santos Lima

Pedro Ladeira-30.mar.17/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 30-03-2017, 12h00: O juiz federal Sérgio Moro participa de audiência pública da Comissão da câmara que analisa mudanças no código penal. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Sergio Moro, juiz da Lava Jato

Folha de São Paulo



Em resposta ao artigo publicado na Folha de S.Paulo do último sábado, dia 1º de julho, sob o título "Janot dá a senha de combate para procuradores messiânicos", de autoria de Demétrio Magnoli, só podemos dizer que o Brasil está submetido ao terrorismo do medo. Há muito os propagandistas políticos descobriram que o medo é mais forte que a esperança.

É mais fácil culpar o "outro" que admitir nossa falta. É fácil angariar apoio dividindo o país em esquerda e direita, em coxinhas e mortadelas, em isso e aquilo, esquecendo-se que somos parecidos uns com os outros.

A maioria de nós acorda pela manhã pensando em trabalhar para sustentar sua família, em como os impostos comem parte do nosso suor, em qual será o futuro de nossos filhos, e assim por diante. Somos semelhantes em sonhos e esperanças.

Por outro lado, ter esperança tornou-se brega. Falar em melhorar o país é tachado de messiânico. Lutar por essa melhora passou a ser jacobino.

Direita e esquerda falam em "tribunais revolucionários", em "tribunais de exceção", como se não fôssemos uma democracia –imperfeita, mas, ainda assim, uma democracia em que prevalece o Estado de Direito.

A Lava Jato representa a esperança. De repente, um golpe de sorte impediu a operação de ter sido morta no nascedouro e confirmou aquilo que há muito intuíamos.

Sabemos hoje como são financiadas as eleições em nosso país. Conhecemos agora como partidos e políticos enriquecem à custa dos impostos que pagamos.

Temos ciência dos conchavos, da distribuição de cargos apenas para a produção de propina. Agora há esperança de que, sabendo o diagnóstico de nossa doença –a corrupção–, possamos usar dos remédios para a cura.

Um desses remédios é a lei penal. E como lei, deve valer para todos. Obediente a esse princípio, a investigação de um pagamento de propina a um ex-diretor da Petrobras cresceu exponencialmente para revelar como partidos da base do governo Lula, sob o comando deste, usaram dessa estatal para fazer caixa para seus projetos de poder.

Mas não só, revelou-se logo que outras estatais foram vítimas do mesmo crime. Até aí o maniqueísmo de alguns e o oportunismo de outros encontravam alguma racionalidade. Para aqueles que detestavam o PT, estava claro que este partido tinha criado a prática da corrupção no governo federal.

Já os oportunistas viram a oportunidade de tirar o PT do poder. Para os simpatizantes do PT, não passava de trama das elites. Quanto aos petistas envolvidos nos crimes, acreditaram em intenções políticas dos investigadores.

Todos estavam errados. A resposta veio quando as investigações chegaram aos outros partidos, inclusive da oposição. Dessa forma, aquele Jucá que vai nas manifestações vestido de amarelo teve reveladas suas relações espúrias com a Odebrecht.

Aquele Temer que se colocou como um estadista para substituir Dilma na Presidência acaba sendo denunciado por corrupção no mandato. Aquele Aécio que usa das revelações da investigação para acusar o PT de corrupção na campanha presidencial é gravado solicitando milhões de um empresário.

Nesse momento os argumentos caíram por terra. Hoje a população sabe que a Lava Jato é uma tentativa séria de investigar, processar e punir TODOS os crimes de corrupção de que se tenha notícia, de que partido ou político forem. Só lhes restou mudar inteiramente o discurso.

Agora unidos entre si, políticos, partidos e seus simpatizantes atemorizam a população com terrores econômicos e um suposto "estado de exceção". Mentem para implantar o terror, para novamente dividir. Mentem para se salvar e salvar o seu modo de fazer política.

O final desse embate entre esses mercadores do medo e o Ministério Público terá consequências para o futuro de nosso país, seja pela prevalência do medo e do divisionismo, seja pela prevalência da esperança e da ética.