sábado, 10 de junho de 2017

Sites ativistas influenciaram o debate na eleição no Reino Unido

Diogo Bercito - Folha de São Paulo


Em outubro de 2015, Kerry-Anne Mendoza e um punhado de amigos investiram quase R$ 2.000 para montar um site de notícias partidário, tendendo à esquerda, que batizaram de The Canary —o canário, em inglês.

O projeto bateu asas, decolou e é hoje um veículo consolidado no Reino Unido, com 13 milhões de acessos únicos em maio passado.

Richard Washbrooke/Xinhua
Repórteres e fotógrafos registram a saída da primeira-ministra britânica, Theresa May, de Downing Street
Repórteres e fotógrafos registram a saída da primeira-ministra britânica, Theresa May, de Downing Street

O site faz parte de um grupo de veículos independentes que ajudaram a determinar o debate público nas eleições de quinta-feira (8) —possivelmente com um impacto em seu resultado.

Pesquisa encomendada pelo jornal "The Guardian" mostrou que as notícias relacionadas à votação mais compartilhadas no Facebook vieram desses sites, e não dos diários de jornalismo profissional.

O texto mais compartilhado foi produzido pelo "Another Angry Voice" (outra voz irritada) defendendo a plataforma de Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista. Foram 102 mil "shares".

O "Guardian" aparece só em 11º lugar, com 41 mil compartilhamentos de uma reportagem sobre o registro de estudantes às eleições.

Esses sites, por vezes produzidos em casa de maneira semiprofissional, se alimentam da insatisfação de parte do público com os veículos tradicionais de maior porte, vistos como defensores dos interesses do establishment.

"A maior diferença é que nós não somos financiados por milionários", diz Mendoza à Folha. O The Canary se sustenta com anúncios e o apoio de leitores, que podem doar R$ 16 mensais.

A equipe, baseada em Bristol, tem cerca de 20 pessoas, entre repórteres e editores, a maior parte deles em tempo integral. Mendoza justifica seu crescimento —duplicando o número de visitantes por mês— ao "sentimento de abandono dos leitores". "Não havia um meio tão progressista", diz. O The Canary defende abertamente o Partido Trabalhista.

Outro dos gigantes independentes é o site Evolve Politics, produzido por uma equipe enxuta em Nottingham e Peterborough. O texto deles sobre um rapper que defendeu Corbyn foi compartilhado 55 mil vezes.

Um dos membros, Matthew Turner, 21, diz que enxerga o projeto como um "antídoto" à imprensa tradicional conservadora. Estudante de política, ele explica o site como uma mistura entre ativismo e jornalismo, respondendo a uma demanda dos leitores. Houve 1,3 milhão de acessos únicos em maio.
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Editoria de Arte/Folhapress
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