quarta-feira, 24 de maio de 2017

Setor privado intensificam pressão por reformas, por Maria Cristina Frias

Folha de São Paulo


Entidades de diferentes setores se mobilizam para pressionar parlamentares a aprovarem as reformas trabalhista e da Previdência depois da crise política que afetou o governo federal.

A Cbic, da construção, diz que levará, nesta quarta (24), cerca de 150 empresários em um encontro com Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e Eunício Oliveira, presidente do Senado.

"Diremos que não vamos sobreviver. O setor não aguenta mais uma crise, as vendas não se recuperam, empresas têm dívida e demitem", segundo José Carlos Martins, que comanda a associação.

"Eles têm de aprovar as reformas porque precisamos de confiança e crédito, que vão sumir e o investidor estrangeiro vai virar as costas, se elas não forem para a frente."

Representantes da Cbic também vão buscar apoio de políticos de seus Estados, acrescenta ele.

"Vamos procurar parlamentares da nossa frente de sustentação, não importa quem esteja no Executivo", afirma Fernando Pimentel, presidente da Abit (associação das empresas têxteis).

As instituições financeiras vão priorizar conversas com senadores para discutir a reforma trabalhista, segundo José Ricardo Alves, presidente-executivo da CNF, confederação que reúne nove entidades do setor financeiro.

"A trabalhista primeiro, e, depois, Previdência e tributária. A questão é manter o ritmo da votação das reformas, mas não vamos nos colocar politicamente."

A ABPA (de proteína animal) mobilizou empresas a falarem com parlamentares de seus próprios Estados, diz o presidente Francisco Turra. "Uma ida a Brasília poderia passar uma imagem agressiva e seria um custo extra."

*
De presidente... O presidente Temer e o presidente-executivo da CNF (das instituições financeiras) José Ricardo Alves se falaram por telefone, na segunda (22), sobre a possível derrubada no veto à lei do ISS, uma das pautas do setor.

...para presidente Até ontem, estava marcada uma sessão no Congresso que poderia alterar o recolhimento do imposto e, segundo empresas, inviabilizar a operação de bancos e cartões. A votação foi cancelada na terça (23).

*
É passado

A venda de GLP no Brasil abaixo do preço internacional gerou perdas de R$ 8 bilhões para a Petrobras entre 2006 e 2015, segundo a Accenture e o Sindigás (sindicato que representa o setor).

A opção por preços menores é válida como forma de universalizar o acesso ao recurso, mas o prejuízo deveria caber ao Estado, e não a um agente de mercado, argumenta a entidade.

Outros R$ 31 bilhões foram desperdiçados pela estatal, de acordo com a consultoria, por ter optado pelas vendas internas em detrimento das externas.

Os dados serão apresentados pelo Sindigás nas próximas semanas a equipes de ministérios e à representantes da ANP (agência reguladora), diz Sergio Bandeira de Mello, presidente do sindicato.

"Com pequenos ajustes, há uma grande oportunidade para o setor se tornar mais atrativo para o capital privado."

Procurada, a Petrobras não se manifestou até o fechamento da coluna.


*

Ponto a ponto

A Dotz, de programa de fidelidade, deverá investir ao menos R$ 30 milhões neste ano, segundo o presidente, Roberto Chade.

O maior aporte da companhia, porém, virá em 2018, ano em que planeja iniciar sua atuação em São Paulo —estão previstos cerca de R$ 50 milhões em operação, análise de dados e marketing, afirma o executivo.

"É um mercado relevante, que deverá acelerar nosso crescimento." A previsão é ampliar em ao menos 30% o número de clientes. As maiores praças da empresa são Rio, Brasília e Fortaleza.

Em 2017, o principal plano da companhia é aumentar a participação no interior de Minas Gerais e em Salvador.

No ano passado, a Dotz investiu R$ 19,5 milhões, com foco no mercado carioca. A receita subiu 13%, mesmo ritmo esperado para 2017.

22 milhões
são os clientes cadastrados, dos quais 72% usam os pontos ao menos uma vez por ano

*

Poucos e grandes

A JBS fechou quatro contratos para venda de carne em pregões do Exército neste ano. Somadas, foram 660 mil peças e R$ 13,4 milhões.

"Ela consegue oferecer preços baixos nesses contratos de grandes volumes —acontece o mesmo com supermercados", diz Décio Zylbersztajn, professor da faculdade de economia da USP.

Há possibilidade de a empresa não ser mais fornecedora: se o acordo de leniência não sair, lembra Sandro Cabral, professor de estratégia do Insper.

*

Construtora muda de segmento e projeta aporte de R$ 300 milhões

Após sofrer com o rompimento de contratos nos dois últimos anos, a construtora mineira Patrimar mudará o perfil de seus lançamentos imobiliários em 2017.

A empresa prevê um investimento de R$ 300 milhões em dois segmentos principais: alto padrão e faixa dois do programa Minha Casa Minha Vida, afirma o presidente Alexandre Veiga.

"Recentemente, o foco eram imóveis com valor entre R$ 500 mil e R$ 700 mil, justamente a categoria em que havia mais contratos rompidos. Agora, estamos nos afastando desse mercado para buscar os extremos."

No ano passado, o nível de distratos da Patrimar ficou em 42%. Em 2015, foi de 50%, segundo o executivo.

Cerca de R$ 180 milhões estão orçados para seis projetos, cuja documentação já está regularizada. O restante poderá ser postergado, a depender do ritmo de emissão de licenças e do futuro político do país, segundo Veiga.

"Hoje, os planos estão mantidos, mas nosso mercado se baseia na expectativa em relação ao futuro. Não saber quem será o presidente amanhã é algo que pode gerar total insegurança."

*
Montanha-russa

O faturamento das micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo caiu 3,3% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o Sebrae-SP.

A queda acontece após duas altas seguidas.

O desempenho negativo em 12,3% do setor industrial e um mês com menos dias úteis foram os responsáveis pelo resultado, afirma o coordenador de pesquisas da entidade, Marcelo Moreira.

"Os próximos meses deverão ser positivos, pois inflação e juros menores influenciam o mercado interno, que é o das pequenas empresas."

*
Tecnologia Cerca de 84% dos brasileiros gostariam de usar realidade virtual em lojas físicas, número acima da média global, de 59%, segundo pesquisa da Opinum com a Worlpay, feita com 16 mil consumidores em oito países.
Aquisições O Cade (conselho de defesa econômica) registrou 104 editais de atos de concentração nos primeiros quatro meses deste ano, 10% mais que em 2016, aponta levantamento do escritório Souza Cescon Advogados.
*
Hora do Café
com FELIPE GUTIERREZTAÍS HIRATA e IGOR UTSUMI