quinta-feira, 18 de maio de 2017

"Às ruas, por justiça", por Rogerio Chequer

Zanone Fraissat/Folhapress
Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS
Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS


Folha de São Paulo

delação da JBS revela que chegamos a um ponto irreversível da faxina geral do país. Entramos numa nova fase, a de corridas pela liberdade, e tudo daqui para frente acontecerá em velocidade alucinante.

Tudo começa com Lula. Sua derrocada começa com o fim do farto dinheiro que fluía dos governos petistas. Com a queda de Dilma, o poder acabou. Sem cargos para distribuir, sem amigos nas posições chave da República, sem um Ministro da Justiça cúmplice, e sem moeda de troca com os empreiteiros e empresários, parceiros de longa data na corrupção, o propinoduto secou. Só restaram os sindicatos e as centrais sindicais, ainda abastecidos pelo imposto sindical. Combalidas pela perspectiva de seu fim, não conseguiram juntar 10 mil pessoas em Curitiba, ou na pífia greve geral. Sem poder e sem dinheiro, Lula definha.

Com os grandes esquemas de corrupção em parte desvendados, e com as delações coletivas de mais três grandes empreiteiras no forno, fica cada vez mais difícil para os criminosos trazer novidades ao Ministério Público. O valor marginal de cada delação é decrescente.

Além de novidades, delações só têm valor quando levam os investigadores para mais perto dos chefes. Ora, já chegaram em Lula. Faltam algumas poucas conexões, e os candidatos que oferecerem-nas são vários. Palocci e Duque, provavelmente apenas um deles, bastam para terminar um quebra-cabeças com desenho já revelado.

Criminosos são leais até que seu pescoço esteja em jogo. Aí, para se safarem de anos na prisão, contam tudo, entregam todos, amigos ou não. Nós brasileiros já nos acostumamos com isso. Palocci, pragmático como sempre foi, vai delatar. Se não o fizer, e rapidamente, alguém o fará antes dele. 

Imagine agora todos os personagens comprometidos -empresários, políticos ou laranjas- passando pelo mesmo dilema. É uma corrida pela liberdade, só disponível para quem chegar primeiro. O processo dos últimos três anos, que vem acontecendo gradualmente, vai agora acontecer todo de uma vez.

É aqui que entra Joesley Batista. Com o cerco apertando, Palocci e Duque na corrida, Mantega prestes a entrar no jogo, ele tinha que correr contra o relógio. Curiosamente, decidiu enveredar por caminhos novos. Em vez de esclarecer tudo que aconteceu entre a JBS e o BNDES -que injetou R$ 8,1 bilhões durante os governos de Lula e Dilma, em operações aprovadas a toque de caixa-, ou as doações de R$ 463 milhões feitas a políticos e partidos desde 2006, ou as relações que se seguiram às doações, Joesley optou por gravar e filmar Temer e assessores, e com isso enterrar as reformas que o Brasil tanto precisa, na iminência de serem aprovadas. Para salvar o próprio pescoço, cortou a cabeça do Brasil. O mesmo Brasil que ofereceu a ele bilhões de reais em contribuições sociais e impostos, para que montasse um império empresarial e financeiro em benefício próprio. Faltam-me palavras publicáveis para caracterizar o ato.

Montado o escândalo, resta saber se as declarações, filmes e áudios confirmam o que os vazamentos de quarta-feira indicam. Se confirmarem, não há saída para Temer. Precisa renunciar imediatamente. Resultado dos governos de Lula e Dilma, de quem recebeu a vice-presidência e consequentemente o poder, terá que juntar seu destino novamente ao deles.

O mesmo vale para Aécio Neves e qualquer outro político ou governante envolvido e comprometido.

Nós brasileiros não admitimos mais esse comportamento. Vamos às ruas exigir que essa faxina prossiga, que se prendam todos os corruptos, e que tenhamos, novamente, uma transição constitucional. Esperamos que o Congresso cumpra a sua função com a responsabilidade que não teve até agora no combate à corrupção e na limpeza do país.