sexta-feira, 14 de abril de 2017

Sem propina, Bendine mandou achacar a Odebrecht, segundo delator


O ex-presidente do BB e da Petrobras, Aldemir Bendine, acusado de achacar a Odebrecht, em delação - Givaldo Barbosa/Agência O GLOBO


Bruno Calixto - O Globo


Ex-presidente do BB e da Petrobras é acusado de sentir 'ciúmes' de 'esquemas' tratados entre Marcelo Odebrecht e Guido Mantega


Acusado de receber R$ 3 milhões para "atenuar" os efeitos da Lava-Jato, o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, mandou achacar a Odebrecht, segundo depoimento de delação premiada de Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental. O motivo: Bendine se sentiu enciumado com esquemas alheios, entre Marcelo Odebrecht e Guido Mantega, como publicou o colunista Lauro Jardim, em seu blog nesta sexta.


O delator diz que, no início de 2014, recebeu André Gustavo Vieira da Silva, enviado de Aldemir Bendine, para cobrar 1% de uma operação de reestruturação da dívida da Odebrecht Agroindustrial, que estava sendo negociada com o Banco do Brasil, mencionando o alongamento de um crédito de R$ 2,9 bilhões negociado pela Odebrecht Agro com o BB. Iniciou dizendo que Bendine estava irritado, pois a Odebrecht resolvia seus assuntos direto com Mantega. Em suma, Bendine sentia-se atropelado pelo ministro da Fazenda, que dava ordens ao BB sem levá-lo em conta.

Ainda segundo a delação, Bendine procurei reis mais quatro vezes e firmou um pedágio de 1% do valor total da operação. Inicialmente, esse percentual corresponderia a R$ 29 milhões.

No início de 2015, porém, o alongamento caiu para R$ 1,7 bilhão (já que a área técnica do BB decidiu segregar o valor da operação e refinanciar R$ 1,2 bilhão para o plantio de cana dentro do Plano Safra). Vieira da Silva insistiu no 1% do valor, ou seja, R$ 17 milhões.

Em depoimentos da delação premiada à Procuradoria-Geral da República, Marcelo Odebrecht relatou que Bendine havia pedido R$ 17 milhões à Odebrecht quando ainda presidia o BB, o que teria sido recusado pelo empresário.

Quando Bendine assumiu a Petrobras, em fevereiro de 2015, Odebrecht diz que decidiu autorizar os pagamentos a ele, porque a empresa já enfrentava problemas com investigações da Lava-Jato e por temer que, no novo cargo, Bendine pudesse criar problemas para o grupo.

O delator revelou que um encontro entre Bendine, Reis e Marcelo aconteceu em 18 de maio de 2015, na casa de Vieira da Silva, em Brasília. Na ocasião, foi acertado um pagamento inicial de R$ 3 milhões, feito pelo departamento de propinas.

Por e-mail, Aldemir Bendine afirma: "Jamais solicitei ou recebi pagamento de de propina e nem autorizei que qualquer pessoa negociasse pagamentos ilegais em meu nome. Durante minhas gestões no Banco do Brasil e na Petrobras, jamais atuei - ou prometi atuar - em prol dos interesses do grupo Odebrecht ou de qualquer outra empresa".

Ainda segundo Bendine, no Banco do Brasil, a operação de rolagem da dívida da Odebrecht agroindustrial foi concluída e contratada após sua saída do banco.

"Cabe destacar que se tratava de operação conjunta com outros bancos, que participavam da análise do financiamento. Durante toda a minha gestão na Petrobras, a Odebrecht esteve impedida de firmar novos contratos com a estatal. Além disso, houve significativa redução e cancelamento de contratos em vigor com as empresas do grupo", finaliza.