sábado, 15 de abril de 2017

Odebrecht enviou a Dilma 'trambique' lista de pagamentos de João Santana. Emissário: Fernando Pimentel, governador de MG

Gabriela Valente - O Globo



O empreiteiro Marcelo Odebrecht usou o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), para alertar a ex-presidente Dilma Rousseff para a "contaminação" de sua campanha em 2014 pelos fatos investigados na Lava-Jato. Na delação premiada, ele contou que entregou a ele uma planilha com todas as transferências feitas para contas do marqueteiro João Santana por meio de caixa 2. A missão do petista era repassar para ela o documento.

— Entreguei para ele aquela planilha que tinham os valores que foram depositados para João Santana, que não necessariamente era no Brasil, para ele alertar ela. Muitas vezes, as pessoas não tinham coragem de levar para ela os problemas e eu usavam ele — disse o empresário. — Ele foi uma das pessoas que usei para alertar a presidente para a contaminação da campanha, na conta dela. Ele tinha acabado de ser eleito governador.


Odebrecht relatou ainda que o relacionamento com Pimentel já tinha alguns anos. Aproximou-se dele enquanto ocupava o Ministério do Desenvolvimento.

Ele contou à força-tarefa da operação Lava-Jato que, pela ajuda do ministro dada em várias frentes de interesse da Odebrecht, teria dado muito mais do que os R$ 8 milhões pedidos pela campanha do petista.

— Se ele tivesse pedido R$ 15 (milhões), eu teria incentivado — revela. — Realmente, Pimentel foi uma pessoa que nos apoiou muito. Nos apoiou muito. Não é só o pessoal fala muito em crédito a exportação, mas no MDIC, apoiou na questão da guerra dos portos, que não era só nossa, mas de todo o setor, apoiava a questão do Reiq, que transitou pela área técnica do Mdic.

Por tanta ajuda, o empresário já se preparava para uma alta fatura:

— Eu disse (para o executivo da empresa) começar a provisionar junto a esses negócios uma expectativa alta. Eu mesmo estimava alto uns R$ 15 milhões, R$ 10 milhões, que ele ia pedir. Obviamente não é caixa 1 R$ 15 ou R$ 10 milhões. Já estava implícito que uma parte é caixa 2. Não precisava falar.






O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel - Pablo Jacob / Agência O Globo / 17-5-2016


Marcelo Odebrecht, entretanto, deixou claro que não negociou os valores pessoalmente. E disse que isso não significava que a conta seria barata.

— A única coisa que eu sei em relação a Pimentel é isso. Ele apoiou a gente muito. Foi dada contribuição relevante? Foi. Foi dada uma parte via caixa 2? Foi. Comigo, ele nunca falou em valores — disse o empresário, que complementou:

— O fato de ele não ter me falado de valores não significa que eu não sabia que a contribuição não seria relevante. Além da ajuda em matérias, Marcelo Odebrecht demonstrou-se mais interessado na ponte que o atual governador do estado de Minas poderia fazer com a presidente.

— Dilma sempre foi uma pessoa muito difícil e Pimentel tinha uma relação próxima com ela.

Segundo ele, Pimentel era acionado para dar orientação de como falar com a presidente ou para ajudar a convencê-la de algumas coisas. Para Marcelo Odebrecht, ele era uma das poucas pessoas que conseguia dizer para ela algumas coisas que outros não tinham coragem.

— A Dilma é uma pessoa de personalidade muito forte e é difícil mudar quando ela tomava uma posição — disse o delator, que complementou:


— Era mais acalmar. Ela às vezes ficava chateada, por exemplo, na questão das arenas. 

Nas arenas da Copa do Mundo, ela criou uma versão totalmente errada. Eu devo ter pedido apoio a ele. Ela queria interromper os financiamentos das arenas. Uma das preocupações que eu tinha em relação à Copa do Mundo foi que o governo federal se isentou. Deixou o pepino com os estados.

Sobre a investigação do governador — a Operação Acrônimo da Polícia Federal (PF) — que está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele disse que a questão o incomodou.

—O tal Bené (Benedito Rodrigues) eu nunca tinha ouvido falar. Quando ele foi preso, eu soube que ele era o cara que operava o nosso caixa 2. Eu não tinha conhecimento desse contato. Soube na época que era o que operava o caixa 2. Nem sabia que existia uma troca de mensagem à época.