terça-feira, 18 de abril de 2017

"Má companhia", por Jorge Pontes

O Estado de São Paulo

Jorge Pontes. FOTO: DIVULGAÇÃO
Jorge Pontes. FOTO: DIVULGAÇÃO


Mas que tipo de empresa era essa, afinal?
Reparem, pelo que falou Emílio Odebrecht, que a corrupção sempre esteve encrustada no DNA dessa companhia. O suborno é parte integrante da própria filosofia da empresa.
Corromper é cláusula pétrea e a propina foi tão importante para o sucesso dessa empreiteira quanto foi a própria engenharia civil.
Aliás, a Odebrecht criou e desenvolveu uma nova modalidade de engenharia, a “Engenharia da Corrupção”.
Marcelo Odebrecht departamentalizou a corrupção, incentivando seus executivos a comprarem políticos e a superfaturarem as obras. Concedia bônus por isso. Havia no organograma da empresa uma unidade só para o pagamento de subornos, o famigerado Setor de Operações Estruturadas…
E nada ocorria por debaixo dos panos, isto é, a corrupção era o business as usual daquela empreiteira.
Trata-se de um “case”, de um exemplo acadêmico – para todo o sempre nas aulas de compliance – de uma “pessoa jurídica criminosa”, de uma empresa literalmente bandida.
Será que essa empresa seria tão grande e tão bem sucedida se não fosse tão corrupta?
Por que será que a Odebrecht pagava para ganhar todas essas concorrências? Será que a companhia era de fato competitiva?
Depois de ler os depoimentos dos delatores e de conhecer, em detalhes, os esquemas, chego à conclusão de que essa companhia não merece receber mais chances. Tem que acabar, fechar as portas, mudar de nome ou se reinventar em outra encarnação.
Não se trata de uma grande fraude ocorrida numa grande companhia, mas de uma empresa gigantesca, arquitetada, montada e conduzida – corporativa e institucionalmente – para maximizar exponencialmente os seus ganhos corrompendo e fraudando.
E corrompendo parlamentares e presidentes da República, entre outros.
Imagino que qualquer executivo que tenha se recusado a subornar políticos deva ter sido demitido por falta de “comprometimento com os valores filosóficos da Odebrecht”.
Essa empresa fez de fato, desde o seu nascimento, o rabo balançar o cachorro.
Emílio e Marcelo Odebrecht nunca demonstraram respeito por ninguém. Botaram no bolso, como uma caixinha de chicletes, presidentes e ministros.
Passaram por cima do Brasil inteiro, da vontade popular, da sociedade, do Congresso, para poder ganhar dinheiro e construir suas obras, que incluem estádios e pontes, que muitas vezes nem necessárias eram.
Emílio Odebrecht prestou depoimento sem a menor circunspecção e sem a seriedade exigida para aquele momento. Fez piada e relaxou, mostrando profundo desrespeito à sociedade.
Essa empresa definitivamente não merece continuar em “good standing”.
O certo mesmo, como exemplo para quem ficará no meio empresarial, seria acabar com a Odebrecht.
*Jorge Pontes é Delegado de Polícia Federal e foi Diretor da Interpol no Brasil