Cleide Carvalho - O Globo
Casal de marqueteiros fala no processo em que Palocci é acusado de movimentar conta de propina
O juiz Sérgio Moro interroga nesta terça-feira o casal de publicitários João Santana e Mônica Moura, marqueteiros das campanhas presidenciais do PT de 2006, 2010 e 2014. É a primeira vez que o casal presta depoimento à Justiça depois de ter fechado acordo de delação com a Procuradoria Geral da República. O depoimento está marcado para as 16h.
Os dois deverão falar no processo em que o ex-ministro Antonio Palocci é acusado de movimentar uma conta de propina da Odebrecht com o PT. Segundo depoimento de delação premiada do empresário Marcelo Odebrecht, Palocci era o gestor da conta, que chegou a movimentar cerca de R$ 133 milhões, e nenhum valor era pago sem a autorização dele.
Desta conta, cuja movimentação aparece na “Planilha Especial Italiano”, saíram valores para pagar João Santana e Mônica Moura - alguns depósitos foram feitas numa conta de Santana na Suíça, não declarada no Brasil, e a maioria dos recursos foi entregue em espécie, no Brasil. Segundo delatores, muitas vezes Mônica ia pessoalmente ao escritório da Odebrecht pegar o dinheiro.
Marcelo Odebrecht afirmou, em delação, que o governo de Dilma Rousseff não se preocupou quando a Lava-Jato identificou repasses a contas de Santana no exterior porque Mônica Moura costumava tranquilizar as pessoas, dizendo que todos os valores referentes às campanhas presidenciais no Brasil tinham sido recebidos em espécie.
O empresário confirmou que Palocci era o "italiano" mencionado na planilha e que, depois de iniciado o governo Dilma, a conta passou a ser chamada de "pós-itália", uma referência do ex-ministro Guido Mantega. Enquanto Palocci movimentou a conta durante o governo Lula, Mantega teria sido o escolhido para movimentar os recursos durante o governo Dilma.
Na chamada conta "pós-itália" foram alocados R$ 50 milhões, que teriam sido pedidos por Mantega durante a negociação da Medida Provisória conhecida como "Refis da crise". Segundo Marcelo, Mantega apresentou o pedido dos R$ 50 milhões num papel, por escrito. Não há informação se os recursos da conta "pós-itália" foram utilizados.
ASSESSOR DE PALOCCI DEPÕE DIA 20
Também nesta terça-feira deveria ocorrer o depoimento de Branislav Kontic, assessor de Palocci, acusado pelo empresário Marcelo Odebrecht de retirar dinheiro vivo na empreiteira, sempre a mando do ex-ministro. O depoimento, porém, foi remarcado para o dia 20, quinta-feira, a pedido da defesa de Kontic, com o objetivo de coincidir com a data do depoimento de Palocci.
Segundo Marcelo Odebrecht, Kontic teria retirado pelo menos R$ 5 milhões descontados da conta "Amigo" que, segundo o empresário, mantinha R$ 40 milhões destinados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O assessor retirou, no total, R$ 13 milhões em espécie, de acordo com os registros da planilha italiano.