segunda-feira, 17 de abril de 2017

"Internet gera novos movimentos políticos e aponta para renovação", por Ronaldo Lemos

Pedro Ladeira - 14.fev.2017/Folhapress
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato participa da sessão do STF
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, participa da sessão do STF

Folha de São Paulo

O Brasil vive um paradoxo. Poucos países possuem tantos quadros jovens, preparados e inovadores.

Apesar disso, quem governa o país é uma casta velha que se revelou incontestavelmente corrupta.

Mas há uma novidade entre nós. Em todo país, começam a surgir novas redes políticas criadas a partir da sociedade. A grande maioria consiste em grupos geracionais. Pessoas com menos de 45 anos que perceberam que não dá mais para "terceirizar" a administração do país para essa casta.

É um movimento que está sendo protagonizado por aqueles que foram beneficiários da redemocratização do país. A geração da década de 1960 não teve a opção de "não se envolver com política". Já a nova geração, que cresceu sob a Constituição de 1988, foi fazer outras coisas e, de modo geral, abriu mão do protagonismo político.

A consequência é a brutal ausência de renovação de quadros no país. Ainda votamos nos mesmos nomes dos anos 1980. A exceção são os filhos da casta, muitos deles carregando ostensivamente o sobrenome dos pais, ou sufixos como "filho", "neto", "sobrinho", no esforço de se perpetuar no poder por procriação.

Esses novos movimentos querem acabar com isso: não são derivados da casta. Cada um tem uma missão diferente. Eles incluem o Nova Democracia, Quero Prévias, Brasil21, Muitos, Acredito e o Agora! (movimento geracional de pessoas que atuam em temas de interesse nacional do qual, vale mencionar, sou um dos fundadores). Um censo feito pelo site Update Politics mostra que já são mais de 160 iniciativas desse tipo no Brasil. Essa é a notícia política mais importante do país. Muito mais que a delação da Odebrecht.

Vale fazer duas reflexões a esse respeito. Os novos movimentos surgem em paralelo com outras forças de renovação atualmente entre nós. Entre elas, o ecossistema de start-ups e de empreendedores sociais
-no centro e na periferia- que se espalha de Porto Alegre a Rio Branco. Esse ecossistema é composto por pessoas que nunca desistiram de buscar soluções para nossos problemas, nem mesmo em meio à crise econômica e moral que atravessamos. Faz parte da tarefa de reconstrução do país abrir espaço para esses empreendedores terem cada vez mais protagonismo.

O segundo ponto é que os novos movimentos compartilham valores que são estranhos à casta: transparência, empreendedorismo, inovação, responsabilidade (accountability), separação entre público e privado, reconhecimento das desigualdades, e assim por diante.

Além disso, estão intrinsecamente ligados à internet. Sabem atuar em rede, dialogar e construir pontes uns com os outros. Depois da delação da Odebrecht, para cada página ou minuto de cobertura de imprensa sobre corrupção deveria haver um mesmo espaço dedicado à investigação de alternativas para o país. Está na hora de pararmos de perguntar só "de quem é a culpa?" para perguntarmos "o que fazer?".