domingo, 16 de abril de 2017

Carros populares perdem espaço para modelos mais potentes e caros

Eduardo Sodré - Folha de São Paulo


O mercado automotivo ensaia reação, mas nada será como antes. Embora os resultados registrados no primeiro trimestre remetam a um longínquo 2007, o perfil dos carros vendidos mudou bastante.

Há dez anos, o topo do ranking era composto estritamente por modelos com motor 1.0, que representavam cerca de 55% das vendas. Hoje, os carros populares detêm uma fatia de 33,8% dos emplacamentos.

Uma comparação simples mostra que carro novo voltou a ser luxo.

Basta considerar quanto custariam hoje os dez carros mais vendidos em 2007. A base é o preço inicial de suas versões atuais -ou dos modelos que os sucedem. A média fica em R$ 42.160, o suficiente para adquirir um popular zero km.

É o reflexo daqueles tempos: nove dos líderes tinham versões 1.0 em 2007, as mais emplacadas de então.

Ao se repetir o cálculo em 2017, chega-se ao valor médio de R$ 52,1 mil. Com essa grana, é possível comprar um carro com motor mais forte e bem equipado, como o Hyundai HB20 1.6 ou o Toyota Etios Sedã.

Os motivos da elevação de 23,6% na média de preço dos campeões de venda em um intervalo de dez anos são bem conhecidos.

A mudança tem início ainda no período de bonança, quando o consumidor começa a optar por veículos mais potentes. Ainda assim, os populares dominavam o mercado.

Até que, pelos idos de 2012, o crédito começa a ficar escasso e mais caro, sinal de que as coisas não iam bem. A inadimplência crescia.

Restou aos bancos e às montadoras oferecer facilidades para quem tem crédito na praça e renda mais alta, o que explica a queda dos 1.0 e a subida de veículos mais caros.

Tanto agora quanto em 2007, as vendas de carros de passeio e comerciais leves rondaram as 460 mil unidades no primeiro trimestre. Era um assombro há dez anos, época de seguidos recordes da indústria.

O resultado atual é pífio diante dos bons tempos. Em 2013, 787 mil automóveis foram vendidos de janeiro a março. Esperava-se que, em 2017, três meses seriam tempo suficiente para que 1 milhão de veículos fossem comercializados.