sexta-feira, 14 de abril de 2017

Após encontro com Marcelo Odebrecht em hotel, Marina, da Rede, puxadinho do covil do Lula, recebeu doação

Julia Lindner - O Estado de São Paulo

Odebrecht doou oficialmente R$ 1,25 milhão à ex-ministra em 2014, após reunião da então candidata à Presidência com o herdeiro do grupo


Marina Silva. FOTO: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
Marina Silva. FOTO: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO

A Odebrecht doou oficialmente R$ 1,25 milhão à campanha de Marina Silva (Rede), em 2014, após um encontro da então candidata à presidência com o herdeiro do grupo, Marcelo, em um hotel do aeroporto de Guarulhos. Em acordo de delação premiada, Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira, descreveu a reunião como “institucional”. Marina não é investigada na Operação Lava Jato.
“Houve uma conversa de Marcelo com ela , onde foram colocados posicionamentos, valores culturais, não monetários, e estratégias. A partir daí eu fui encarregado de procurar o senhor Álvaro de Souza e nós doamos essa quantia “, contou o delator. Ele destacou que não houve nenhuma contrapartida para a doação. “O Marcelo não conhecia ela, nem eu. Foi muito mais uma conversa de apresentação”, reforçou.
Alexandrino disse que, naquele ano, ficou responsável por atuar diretamente nas doações da empreiteira para as campanhas presidenciais de Marina e Dilma Rousseff (PT), que recebeu R$ 7 milhões em valores declarados à Justiça Eleitoral. As conversas sobre a campanha petista ocorriam entre Alexandrino e o ex-ministro e tesoureiro Edinho Silva. “Edinho nos procurou e solicitou as doações e nós doamos esse valor”, contou.
Questionado sobre a diferença expressiva entre as quantias doadas às candidatas, Alexandrino justificou que a empreiteira “tinha um relacionamento mais antigo” com Dilma. “Pelo timing, pela história toda que aconteceu, porque o candidato no caso da Marina Silva até então era Eduardo Campos . E aí teve esse fato. Enquanto isso as conversas da Dilma já vinham acontecendo. Tinha um relacionamento mais antigo”, explicou.
Em outro trecho de seu depoimento, Alexandrino revelou que também pagou “‘vantagens indevidas, não contabilizadas” à campanha de Dilma, em 2014. Segundo o delator, os repasses foram implementados por intermédio do assessor Manoel Araújo Sobrinho e a pedido de Edinho. Após suspeitar que estava sendo monitorado pela Polícia Federal, o tesoureiro da campanha de Dilma teria evitado encontros com o ex-diretor da Odebrecht.
Alexandrino revelou ainda que, até 2010, a empresa “minimizava” os depósitos declarados para não chamar a atenção para o nome do grupo da imprensa e da Justiça, o que aumentava a quantidade de repasses ilegais. Ele admitiu, entretanto, que mesmo após a empresa aumentar a realização de doações oficiais não acabou com a existência do caixa dois.
Outro Lado. Em nota, o comitê de captação da candidatura presidencial de Marina Silva em 2014 afirmou que foi procurado pela empresa Odebrecht para conhecer as suas propostas, demanda recorrente de vários setores da sociedade, como empresas, entidades de classe, movimentos sociais, sindicatos e setores ligados à academia.
“Houve uma reunião com o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e outros dirigentes, onde foram expostas as principais propostas para o desenvolvimento sustentável do país. A reunião ocorreu no hotel Pullman Guarulhos, em sala ao lado do saguão de entrada, em função da agenda de viagens de Marina Silva. Nessa reunião, não se abordou nenhum assunto referente a financiamento de campanha”, afirma a nota.
Segundo a assessoria de Marina, as empresas do grupo Odebrecht realizaram depósitos de R$ 98.574,41 através da empresa Odebrecht Ambiental (2 depósitos) e de R$ 500.000,00 através da empresa Ecosteel Gestão de Águas Industriais para a campanha, conforme consta na prestação de contas apresentadas ao TSE. Durante o período eleitoral, o PSB recebeu doação da Construtora Norberto Odebrecht de R$ 600.000,00 ao Diretório Nacional, que não foram direcionados para a campanha presidencial de Marina Silva.
“É importante ressaltar que todos os depoimentos e demais documentos coletados pela operação Lava-Jato, como planilhas, mensagens de celular e troca de e-mails estão em posse do Ministério Público Federal que considerou, no cruzamento dessas informações, que não havia elementos que justificassem o pedido de abertura de inquérito ou o encaminhamento às demais instâncias da Justiça”, completa a nota.
Em nota divulgada no do dia 2 de março, quando esse assunto veio a público pela primeira vez, Marina disse confiar no trabalho da Justiça e defendeu “urgência para mudar o sistema político corrompido e viciado que tem maculado a nossa democracia”. “Qualquer acusação de doações irregulares em eleição, para campanha de quem quer que seja, deve ser rigorosamente investigada para que não paire nenhuma dúvida ou suspeita”, afirmou.