domingo, 22 de janeiro de 2017

Teorias conspiratórias são "Ofensa ao bom senso", por Rubens Figueiredo

O Estado de São Paulo

Para cientista político, papel do STF se manterá inalterado após sucessão


De modo geral, nossa opinião pública tem uma irresistível atração por episódios que possam ser associados a crises, ameaças e riscos. Quando se agrega um suposto componente conspiratório, então, a curiosidade cresce em progressão geométrica, jogando ao rés do chão a qualidade das “análises” sobre o acontecimento.
Também temos uma tendência, que as redes sociais acentuam, de explicar as instituições como o resultado da ação individual de seus integrantes. Instituições são bem mais do que isso. São estruturas que sedimentam ao longo do tempo regras de funcionamento e de conduta.
É evidente que se a relatoria da Lava Jato for definida por sorteio, a publicidade e o ritmo de condução do processo vão depender do novo ministro-relator. O estilo de Ricardo Lewandowski é bem diferente do de Gilmar Mendes, o preparo jurídico de Dias Toffoli fica a anos-luz da competência de Celso de Mello. Uns gostam muito dos holofotes, outros nem tanto.
Mas o Supremo tem uma dinâmica que circunscreve a liberdade das iniciativas individuais a determinados parâmetros. Acima de tudo, os ministros lá estão para aplicar a lei sob intensa vigilância da sociedade. Não fazem o que lhes dá na telha. E, se isso acontece, está lá o plenário para corrigir a idiossincrasia.
A história recente do Supremo Tribunal Federal é dignificante. Ministros indicados por presidentes petistas puniram com rigor políticos petistas. Difícil pinçar uma prova mais contundente de independência e zelo. Neste contexto, concluir que a trágica morte do competente ministro Teori Zavascki colocaria em risco a Operação Lava Jato, podendo gerar uma grave crise política e se tornar uma ameaça à democracia, é mais que só uma sandice: é uma ofensa ao bom senso.