domingo, 1 de janeiro de 2017

"2017, o ano da verdade", por Geraldo Alckmin

Folha de São Paulo


"O povo cansou de tanto desiludir-se. Chegou a hora da verdade." Lembro-me dessas palavras de Mário Covas em seu discurso de posse como governador de São Paulo, em 1º de janeiro de 1995. Eram tempos difíceis; havia necessidade de mudar o panorama da gestão pública para superar décadas de crise econômica e social no país.

Dávamos, então, os primeiros passos rumo à estabilidade e devemos muito do que conseguimos nos anos seguintes à coragem e à ousadia de nosso governador.

Duas décadas se passaram, muitos rumos foram prometidos e tentados no Brasil, e aqui estamos na maior crise econômica da nossa história, que maltrata a população e a faz ter medo do futuro.

Farra fiscal, gasto público de má qualidade e o ilusionismo como política econômica produziram o imenso desastre que teve a sua apoteose em 2016. No país com mais de 12 milhões de desempregados, respiramos o desânimo de um ano que parece não ter fim.

Se 2016 teve acontecimento positivo, foi a demonstração de que os cidadãos não mais toleram proezas irresponsáveis com a coisa pública. Essa ampla conscientização recolocará o Brasil na trilha da responsabilidade. Os brasileiros já não aceitarão a doce, mas destrutiva, embriaguez do populismo.

A população exige que seus governantes sejam bons gestores. Ao Estado cabe induzir o desenvolvimento, prestar serviços de qualidade e descomplicar a vida daqueles que geram empregos e renda.

Em São Paulo, a responsabilidade fiscal é lei há mais de 20 anos. O Estado não gasta mais do que arrecada, não atrasa salários e não suspende serviços essenciais. Investimentos em obras de infraestrutura essenciais, como o Rodoanel e o Metrô, geram 180 mil empregos sem produzir deficit.

Em dezembro, entregamos as primeiras unidades habitacionais (de um total de 3.683) erguidas no centro da capital em parceria com a iniciativa privada, para famílias de baixa renda.

Temos fôlego e vamos entregar, em 2017, 11 estações do metrô e cinco do VLT da Baixada Santista. As nove estações novas da linha 5-Lilás vão colocar mais 500 mil passageiros/dia no sistema metroferroviário paulista, que transporta 75% de todos os passageiros que viajam em trens urbanos no Brasil.

A rede estadual de saúde, referência nacional de qualidade, chegará a 101 hospitais com a inauguração das oito unidades em construção. Em 2017, esperamos a boa notícia da aprovação da vacina tetravalente contra a dengue, produzida com tecnologia nacional pelo Instituto Butantan, hoje em fase final de testes.

Também dão frutos os investimentos na educação. Em 2016, São Paulo foi o primeiro Estado a ocupar simultaneamente o topo do ranking nacional de qualidade nos três ciclos do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Estamos no caminho correto, mas é preciso melhorar mais.

O exemplo tem de vir de cima. Por isso, congelamos os salários do governador, vice e secretários. Caso se aplicasse reajuste pela inflação, o efeito cascata sobre altos salários do Estado tiraria dinheiro da educação, da saúde e de serviços essenciais.

O futuro é o que plantamos. Fizemos em 2013 a reforma da Previdência paulista. 

Em 2015 e 2016, antecipamos o ajuste que garantiu a saúde financeira do Estado.

Em novembro, com aval do Banco Mundial, lançamos um pacote de concessões de rodovias e aeroportos que supera R$ 10 bilhões em investimentos. Dinheiro novo, privado e sem endividamento.

É necessário ter otimismo para superar a crise, mas não basta. Precisamos superá-la como São Paulo superou a maior crise hídrica da história do Sudeste: com a participação da população e investimento em obras estruturantes, que geram competitividade e empregos.

O povo cansou de desiludir-se. Os desafios da hora exigem qualidade de gestão e coragem política redobradas. Tenho em mente as palavras de um grande brasileiro que nos deixou há pouco, dom Paulo Evaristo Arns: "A crise é um momento de mudanças qualitativas".

O sábio arcebispo emérito recomendava viver com coragem e esperança, sempre.