segunda-feira, 11 de abril de 2016

Certo da derrota na Comissão Especial, Planalto concentra força na votação do impeachment no plenário


Eduardo Bresciani,Simone Iglesias,Maria Lima,Isabel Braga - O Globo


Já dando como certa a aprovação nesta segunda-feira, na comissão do impeachment, do parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que recomenda o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o governo vai intensificar suas ações para garantir um resultado favorável na votação do tema pelo plenário da Câmara, neste fim de semana. O ex-presidente Lula já articulou encontros com dirigentes de diversos partidos ao longo da semana em Brasília, e os ministros vão reforçar as negociações com parlamentares na busca dos votos necessários.


Embora a votação na comissão do impeachment já seja considerada perdida, os governistas ressaltam que terão mais de um terço dos votos, percentual de que precisam no plenário para manter Dilma no cargo. A avaliação do Planalto é a de que, desde a indicação dos parlamentares para a comissão, já havia um resultado de “cartas marcadas”. 

Por essa percepção, Dilma e Lula definiram que o melhor seria apostar na votação do plenário, porque o governo teria mais tempo para negociar com os partidos da base aliada. 

Para conseguir acordos com os parlamentares, o governo vem trabalhando na liberação de demandas represadas, como cargos de segundo e terceiro escalão.

— A comissão (do impeachment) foi escolhida contra o governo, já era esperado. Ainda há um fio de esperança, mas o importante é a votação no plenário — diz o deputado Vicente Cândido (PT-SP), membro titular da comissão.

Lula passou o fim de semana com a família, em São Paulo, e volta à carga a partir desta segunda-feira, mantendo a estratégia de negociações no varejo e também com os presidentes de partidos, para tentar uma margem de votos segura no plenário, onde o quadro ainda está indefinido. Lula pediu para se encontrar com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, mas a Executiva do partido se reúne nesta segunda-feira pela manhã e deve oficializar o apoio ao impeachment na comissão e no plenário.

— O ideal para nós seria haver novas eleições, mas não há essa previsão constitucional no momento, e não podemos mais admitir que a paralisia do governo continue provocando efeitos cada dia mais danosos ao país. Estamos sendo empurrados para o impeachment. Esperamos muito tempo que a presidente Dilma pudesse ter as condições para governar, e ela não alcançou essas condições — disse Siqueira.

Dos 65 titulares da comissão, 34 declararam ao GLOBO voto a favor do parecer do relator. A oposição diz que pode conquistar mais adesões entre os dez indecisos. São 21 os que se disseram contrários ao impeachment, e mesmo os oposicionistas acreditam que ao menos metade dos indecisos deverá reforçar a ala governista. Na véspera da votação na comissão, a presidente Dilma ficou recolhida no Planalto.

A oposição deseja ampliar a margem de votos em busca de criar uma “onda” para a decisão final no plenário. A avaliação dos favoráveis ao impeachment é que o resultado de hoje será um indicativo de sucesso para as próximas fases

— Estamos trabalhando por etapas. Primeiro, queremos consagrar a vitória (na comissão) e ampliar a margem. Se conseguirmos colocá-los abaixo de 30 votos, é sinal interessante. Tem que considerar que os governistas ficaram inconformados com a chapa avulsa, venceram no Supremo, e essa seria a comissão deles. E, ainda assim, perder por uma diferença boa dá uma impulsionada grande para os movimentos que acontecerão terça, quarta e quinta. O vento sopra favoravelmente — avalia o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).

PMDB DE TEMER ATUA INTENSAMENTE

Para o coordenador do comitê pró-impeachment, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), a pesquisa Datafolha que também mostra rejeição ao vice Michel Temer não interfere no cenário político:

— A saída constitucional é essa. Qualquer saída de ruptura ou de criatividade constitucional é péssima para o país. Então, esse dado tem zero reflexo na nossa decisão.
Na cúpula do PMDB, cada um recebeu uma missão para a reta final. Temer está em São Paulo muito ativo, conversando com políticos e setores da sociedade civil. O foco de seus aliados é no PP e no PSD, de onde se espera um “efeito manada”. Nas negociações, a barganha fica explícita.

— Ninguém é ingênuo. Nas conversas querem saber: “Como vai ser o governo de vocês? Vamos participar?”. A resposta é genérica, explicamos que na situação atual, para reerguer o país, vamos precisar da ajuda de todos. Eles estão recebendo um cheque pré-datado de Dilma, sem fundos, e querem saber se temos condições de cobrir — diz um dos peemedebistas que participam das conversas.

Temer e seu entorno acreditam que no plenário deve se repetir o que ocorreu no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, e vai imperar o instinto de sobrevivência. A estratégia de Romero Jucá, presidente em exercício do PMDB, é amarrar todo o partido para o plenário, inclusive o grupo de Leonardo Picciani, pró-governo.

— Vamos construir essa circunstância tendo como mote a unidade. A ideia é ele alegar que as circunstâncias do partido não lhe deram alternativa que não fosse apoiar o impeachment — diz um cacique do PMDB.

No PP, enquanto o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), tenta segurar uma posição a favor do governo, os diretórios regionais começam a definir apoios ao impeachment. Já são nove os diretórios com decisões formais nessa direção.